DIPLOMAÇÃO

DIPLOMAÇÃO LULA: presidente eleito faz discurso em defesa da democracia

Lula agradeceu a "coragem" do TSE e do STF em respeitar e garantir o andamento do processo eleitoral

Mirella Araújo
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Mirella Araújo
Publicado em 12/12/2022 às 15:45 | Atualizado em 12/12/2022 às 16:18
EVARISTO SA / AFP
LULA FOI DIPLOMADO PELO TSE NESTA SEGUNDA-FEIRA (12) - FOTO: EVARISTO SA / AFP
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O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) foram diplomados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na tarde desta segunda-feira (12).

A cerimônia de diplomação, realizada em Brasília, foi conduzida pelo ministro e presidente do TSE, Alexandre de Moraes, que entregou em mãos os certificados que habilitam Lula e Alckmin a tomarem posse no dia 1º de janeiro de 2023, podendo exercer os mandatos conferidos pelo voto popular no segundo turno das Eleições Gerais de 2022.

Visivelmente emocionado, Lula agradeceu aos mais de 60 milhões de brasileiros que o elegeram para seu terceiro mandato à frente do Palácio do Planalto. Em seu discurso, o líder petista ainda relembrou o período em que esteve preso, em Curitiba, e pontuou diversas vezes que sua candidatura representou a defesa pela democracia.

“Esse diploma não é do Lula presidente, é o diploma de uma parcela significativa que reconquistou o direito de viver em democracia neste país. Vocês ganharam esse diploma. Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro em conceder - para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário - o diploma de presidente da República”, disse o presidente eleito.

Ele também fez referência a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE nestas eleições, afirmando que “não faltou coragem” às instituições do Poder Judiciário, “que enfrentaram as ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular”.

"Cumprimento a cada ministro e a cada ministra do STF e do TSE pela firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral nesses tempos tão difíceis. A história há de reconhecer sua coerência e a fidelidade à Constituição", afirmou. 

Apesar de não citar nominalmente o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), o líder petista fez diversas críticas ao governo federal e as manifestações antidemocráticas realizadas por bolsonaristas desde que venceu o pleito no dia 30 de outubro.

Lula também declarou que diferente de das disputas anteriores, às eleições de 2022 foram marcadas por duas visões de governo, em que de um lado estaria a chapa que queria reconstruir o país, com uma ampla participação popular. E, do outro lado, havia um “projeto de destruição ancorado numa indústria de mentiras”.

"Quero dizer que muito mais que a cerimônia de diplomação de um presidente eleito, esta é a celebração da democracia. Poucas vezes na história recente deste país a democracia esteve tão ameaçada. Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi tão colocada à prova"

MINISTÉRIOS

Figuras cotadas para assumirem ministérios do próximo governo marcam presença na cerimônia de diplomação do presidente eleito Lula e do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin. Com os diplomas conferidos pelo TSE, os dois devem anunciar os novos nomes da equipe ministerial, nesta terça-feira (12)

Passaram pela área comum petistas como o deputado estadual Emidio de Souza (SP), cotado para a Secretaria-geral; o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), citado para o Ministério da Educação; e o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, ventilado para o Ministério das Comunicações.

O deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP), que busca o ministério das Cidades, também marca presença, assim como a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), considerada para o Meio Ambiente. (Segundo informações do Estadão)

 

TRANSMISSÃO DIPLOMAÇÃO DE LULA AO VIVO

 

Leia o discurso feito pelo presidente eleito Lula na diplomação:


Em primeiro lugar, quero agradecer ao povo brasileiro, pela honra de presidir pela terceira vez o Brasil.

Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro em conceder – para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário – o diploma de presidente da República.

Reafirmo hoje que farei todos os esforços para, juntamente com meu vice Geraldo Alckmin, cumprir o compromisso que assumi não apenas durante a campanha, mas ao longo de toda uma vida: fazer do Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e qualidade de vida para todos os brasileiros, sobretudo os mais necessitados.

Quero dizer que muito mais que a cerimônia de diplomação de um presidente eleito, esta é a celebração da democracia.

Poucas vezes na história recente deste país a democracia esteve tão ameaçada.

Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi tão colocada à prova, e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser ouvida.

A democracia não nasce por geração espontânea. Ela precisa ser semeada, cultivada, cuidada com muito carinho por cada um, a cada dia, para que a colheita seja generosa para todos.

Mas além de semeada, cultivada e cuidada com muito carinho, a democracia precisa ser todos os dias defendida daqueles que tentam, a qualquer custo, sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder.

Felizmente, não faltou quem a defendesse neste momento tão grave da nossa história.

Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu o amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular.

Cumprimento cada ministro e cada ministra do STF e do TSE pela firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral nesses tempos tão difíceis.
A história há de reconhecer sua coerência e fidelidade à Constituição.

Essa não foi uma eleição entre candidatos de partidos políticos com programas distintos. Foi a disputa entre duas visões de mundo e de governo.

De um lado, o projeto de reconstrução do país, com ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país ancorado no poder econômico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista ao longo de nossa história.

Não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do povo.
Os inimigos da democracia lançaram dúvidas sobre as urnas eletrônicas, cuja confiabilidade é reconhecida em todo o mundo.

Ameaçaram as instituições. Criaram obstáculos de última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar a seus locais de votação. Tentaram comprar o voto dos eleitores, com falsas promessas e dinheiro farto, desviado do orçamento público.

Intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária, caso contrariassem os interesses de seus empregadores.

Quando se esperava um debate político democrático, a Nação foi envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais.

Eles semearam a mentira e o ódio, e o país colheu uma violência política que só se viu nas páginas mais tristes da nossa história.

E no entanto, a democracia venceu.

O resultado destas eleições não foi apenas a vitória de um candidato ou de um partido. Tive o privilégio de ser apoiado por uma frente de 12 partidos no primeiro turno, aos quais se somaram mais dois na segunda etapa.

Uma verdadeira frente ampla contra o autoritarismo, que hoje, na transição de governo, se amplia para outras legendas, e fortalece o protagonismo de trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, cientistas e lideranças dos mais diversos e combativos movimentos populares deste país.

Tenho consciência de que essa frente se formou em torno de um firme compromisso: a defesa da democracia, que é a origem da minha luta e o destino do Brasil.

Nestas semanas em que o Gabinete de Transição vem escrutinando a realidade atual do país, tomamos conhecimento do deliberado processo de desmonte das políticas públicas e dos instrumentos de desenvolvimento, levado a cabo por um governo de destruição nacional.

Soma-se a este legado perverso, que recai principalmente sobre a população mais necessitada, o ataque sistemático às instituições democráticas.

Mas as ameaças à democracia que enfrentamos e ainda haveremos de enfrentar não são características exclusivas de nosso país.

A democracia enfrenta um imenso desafio ao redor do planeta, talvez maior do que no período da Segunda Guerra Mundial.

Na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, os inimigos da democracia se organizam e se movimentam. Usam e abusam dos mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável.

A máquina de ataques à democracia não tem pátria nem fronteiras.

O combate, portanto, precisa se dar nas trincheiras da governança global, por meio de tecnologias avançadas e de uma legislação internacional mais dura e eficiente.

Que fique bem claro: jamais renunciaremos à defesa intransigente da liberdade de expressão, mas defenderemos até o fim o livre acesso à informação de qualidade, sem mentiras e manipulações que levam ao ódio e à violência política.

Nossa missão é fortalecer a democracia – entre nós, no Brasil, e em nossas relações multilaterais.

A importância do Brasil neste cenário global é inegável, e foi por esta razão que os olhos do mundo se voltaram para o nosso processo eleitoral.

Precisamos de instituições fortes e representativas. Precisamos de harmonia entre os Poderes, com um eficiente sistema de pesos e contrapesos que iniba aventuras autoritárias.

Precisamos de coragem.

É necessário tirar uma lição deste período recente em nosso país e dos abusos cometidos no processo eleitoral. Para nunca mais esquecermos. Para que nunca mais aconteça.

Democracia, por definição, é o governo do povo, por meio da eleição de seus representantes. Mas precisamos ir além dos dicionários. O povo quer mais do que simplesmente eleger seus representantes, o povo quer participação ativa nas decisões de governo.

É preciso entender que democracia é muito mais do que o direito de se manifestar livremente contra a fome, o desemprego, a falta de saúde, educação, segurança, moradia. Democracia é ter alimentação de qualidade, é ter emprego, saúde, educação, segurança, moradia.

Quanto maior a participação popular, maior o entendimento da necessidade de defender a democracia daqueles que se valem dela como atalho para chegar ao poder e instaurar o autoritarismo.

A democracia só tem sentido, e será defendida pelo povo, na medida em que promover, de fato, a igualdade de direitos e oportunidades para todos e todas, independentemente de classe social, cor, crença religiosa ou orientação sexual.

É com o compromisso de construir um verdadeiro Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez este diploma de presidente eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro.

Muito obrigado.

 

 

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