Quando acorda, Cláudia Matias não toma o café da manhã. Moradora do Bode, no Pina, vai segurando a fome com umas xícaras de café trazidas pelas vizinhas. Muitas vezes, nem as crianças têm o que comer e só fazem a primeira refeição na hora do almoço. A realidade de Cláudia é a de muitas outras mães em Pernambuco e pelo País, que deixam de comer para alimentar os filhos pequenos.
A condição de Cláudia, mãe de nove filhos, cinco deles menores de 6 anos, aparece nas estatísticas. Pesquisas apontam que a fome tem gênero, cor e lugar: é mais frequente na casa de mulheres, negras, com filhos pequenos e nordestinas. A situação desoladora está no radar da primeira governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), que pretende atacar o problema como prioridade logo após sua posse neste domingo (1º).
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Assim que se estabelecer no Palácio do Campo das Princesas, ela pretende começar a colocar em prática o Mães de Pernambuco. Trata-se de um programa de transferência de renda para mulheres que são mães de crianças na primeira infância (de 0 a 6 anos) e estão abaixo da linha da pobreza. A proposta é transferir um pagamento mensal de R$ 300, como um complemento ao Bolsa Família, que será recriado pelo presidente Lula, em substituição ao Auxílio Brasil.
"Vamos cruzar os cadastros do Bolsa Família, dos municípios e do Estado para que o programa comece o mais rápido possível", explica, sobre o mapeamento das mulheres que poderão receber o benefício e quanto será necessário investir na ação.
"Isso vai ajudar a saciar a fome das pessoas. As mães de crianças pequenas terão dinheiro a mais para colocar mais comida no prato. Quando você coloca comida no prato consegue começar a pensar em outras coisas, como trabalhar a construção de vagas de creche e o fortalecimento da qualificação profissional", afirma Raquel.
AUXÍLIO BRASIL
Pernambuco é o segundo Estado do Nordeste com maior número de famílias contempladas pelo Auxílio Brasil em dezembro de 2022. Em dezembro, foram 1,7 milhão de famílias contempladas no programa de transferência de renda do Ministério da Cidadania no Estado, atrás apenas da Bahia (2,6 milhões). O repasse do Governo Federal em Pernambuco foi de R$ 1 bilhão, enquanto o valor médio do benefício é de R$ 605,89.
No Estado, 78,4% dos lares beneficiários pelo Auxílio Brasil são chefiados por mulheres. Isso que dizer 1,3 milhão de famílias com protagonista do sexo feminino, em um universo de 1,7 milhão.
FOME
Em Pernambuco, 2 milhões de pessoas passam fome. O equivalente a um quinto da população não tem comida no prato. A constatação desoladora está no 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Vigisan), com informações sobre a fome nos estados brasileiros. Com esse resultado, Pernambuco aparece um quinto lugar no ranking de piores do Nordeste.
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