Com agências
Em reação aos ataques de extremistas ocorridos no último domingo (8) em Brasília, manifestantes foram às ruas em várias partes do país para pedir a punição dos envolvidos nos atos terroristas.
No Recife, integrantes de movimentos sociais, artistas e membros de partidos políticos se reuniram nesta segunda-feira (9) na Praça do Derby, na área central da capital, em defesa da democracia.
A concentração foi às 16h, e às 18h o grupo saiu em caminhada pela Avenida Conde da Boa Vista. A passeata seguiu pacificamente até o monumento Tortura Nunca Mais, na Rua da Aurora.
Entre os pleitos dos manifestantes recifenses estão a prisão de Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; a prisão de todos os agentes públicos que colaboraram com as ações do domingo e a punição de todos os articuladores e organizadores dos atos golpistas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em São Paulo, autoridades, membros da sociedade civil, juristas, representantes do Ministério Público e da OAB-SP se reuniram na Faculdade de Direito da USP por punição "sem anistia" aos agentes que financiaram e participaram do ataque à Praça dos Três Poderes.
O grupo classificou a ação em Brasília de "atos terroristas contra a democracia" e "tentativa de golpe de Estado". Também pediu responsabilização civil, criminal e indenização aos cofres públicos.
Os oradores ainda solicitaram que seja investigada suposta ação ou omissão de representantes do Poder Público ao longo dos ataques de domingo. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pediu afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por 90 dias após relatos de que forças de segurança facilitaram acesso de extremistas ao Palácio do Planalto.
O reitor da Universidade de São Paulo (USP), Carlos Gilberto Calotti Júnior, defendeu que "não há e nem haverá anistia" aos responsáveis. "A depredação da sede dos três poderes da nossa República só serviu para cobrir nossa pátria de vergonha. Estamos aqui para exigir sem meias palavras que os responsáveis pelos crimes de barbárie sejam todos eles, seus financiadores e seus agentes investigados julgados e punidos na forma da lei", disse. "Os atos terroristas de ontem, bem como sua preparação e financiamento não ficarão impunes", completou.
Calotti Júnior destacou que o comitê pela democracia reunido nesta segunda também foi responsável pela leitura de uma carta em defesa da democracia e do sistema eleitoral em 11 de agosto do ano passado, documento que contou com mais de um milhão de assinaturas. O manifesto funcionou como uma reação às investidas do ex-presidente Jair Bolsonaro contra as urnas eletrônicas Na capital paulista, participaram dos atos de agosto cerca de 8 mil pessoas.
Um novo texto lido nesta segunda-feira, disse que "também vem praticando crimes contra o Estado Democrático de Direito aqueles que organizam, financiam ou incitam a tentativa de suprimir nossas instituições democráticas" e pediu que as autoridades "sejam submetidos aos rigores da lei."
Mário Sarrubbo, procurador-geral de Justiça de SP, disse que, para o Ministério Público de São Paulo, a depredação do patrimônio público foi realizada por "organizações criminosas que estão procurando subverter a ordem democrática e patrocinar um golpe de Estado". "Essa é a palavra da instituição. Nosso compromisso é com os deveres que nos foram impostos pela Constituição Federal. Nosso compromisso será com a punição dessa organização criminosa", pontuou.
A presidente da OAB-SP, Patrícia Vanzolini, defendeu a ação do Supremo Tribunal Federal (STF) e pediu a desmobilização imediata de acampamentos bolsonaristas localizados nas portas dos quartéis de diversas capitais do Brasil. "Agora não há mais como fechar os olhos para o fato de que há ali uma organização terrorista voltada para atos de violência real, física. (...) São atos preparatórios para condutas de violência", afirmou.
Sobre o acampamento em São Paulo, Vanzolini defendeu que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem uma obrigação "moral e jurídica" de ter "controle das forças de segurança para ativamente impedir que o mesmo se repita em São Paulo". Mais cedo, o secretário de Segurança Pública do Estado, Guilherme Derrite, defendeu a desmobilização dos acampamentos sem uso de força.
A plateia reagiu diversas vezes às falas das autoridades, com palmas e gritos de "não vai ter golpe, vai ter luta" e "sem anistia". Um novo ato está marcado para a tarde desta segunda, na Avenida Paulista.
O coletivo suprapartidário Derrubando Muros, que reúne ativistas, cientistas, comunicadores, acadêmicos, empresários e políticos, divulgou uma nota sobre os atos de vandalismo em Brasília. O grupo diz repudiar a tentativa de "golpe" e defende a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso.
"Consideramos essencial que a agressão cometida contra a democracia tenha uma resposta condizente e proporcional. Uma CPI pode ser um caminho que dê tempo e ferramentas para o escrutínio, detalhando o que diz respeito à erupção terrorista", diz o documento.
No Rio, a mobilização ocorreu na Cinelândia, centro da capital fluminense. Mesmo com o tempo chuvoso, os manifestantes tomaram a praça que fica no local e manifestaram o respeito ao processo eleitoral que consagrou a vitória de Luís Inácio Lula da Silva, que assumiu o posto de presidente da República no dia 1º.
A designer Caroline Thompson conta que ficou abatida assistindo às cenas de destruição dos edifícios situados na Praça dos Três Poderes.
"O que aconteceu ontem me deixou mal. Me deu uma tristeza grande. Eu não conseguia sair da cama. Quando vi a convocação para este ato, eu tinha que vir. Eu não aceito o que estão tentando implantar no Brasil. Não aceito violência, não aceito fascismo. O governo foi eleito e todos precisam aceitar", contou a manifestante.
Caroline disse esperar que seja feita uma rápida investigação para cobrar, inclusive financeiramente, os responsáveis pela destruição. "Alguém financiou esses atos terroristas. E as pessoas que financiaram precisam ser responsabilizadas. Eles que têm que pagar por todos os danos".
No carro de som, havia bandeiras de entidades sindicais, de organizações estudantis e de outros movimentos sociais. Lideranças se revezavam ao microfone. De tempos em tempos, a principal frase de ordem do ato era entoada em coro pelos presentes: "sem anistia".
O estudante Pedro Paulo Pereira manifestou-se surpreendido com a mobilização.
"Não esperava tanta gente. Afinal de contas tudo aconteceu de forma muito repentina. O ato foi organizado muito em cima de hora e mesmo assim está sendo muito bem sucedido. É uma demonstração de força de todos os movimentos democráticos que não vão aceitar que vândalos bolsonaristas deprendem Brasília como fizeram. É preciso mostrar a união de todos os que respeitam o resultado das urnas", avaliou.
Para Pedro, parte das pessoas que se dirigiram à Brasília foram manipuladas. "Penso que havia gente lá que acreditava que seria uma manifestação pacífica. E ao mesmo tempo, haviam pessoas querendo quebrar tudo. Então espero que o governo e as forças de segurança tenham muita sabedoria para encontrar os principais responsáveis e para desmobilizar esses grupos".