Com AFP
O Palácio do Planalto informou, na tarde deste sábado (25), que a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, marcada para este domingo (26), foi novamente adiada. Inicialmente, a comitiva partiria neste sábado.
A decisão foi baseada em recomendação feita pelos médicos do chefe do Executivo. Nessa sexta-feira (23), Lula deu entrada no Hospital Sirio-Libanês em Brasília com sintomas gripais.
Após avaliação clínica, o presidente foi diagnosticado com broncopneumonia bacteriana e viral por influenza A, e teve o tratamento iniciado.
Uma reavaliação feita neste sábado (25) apresentou uma melhora clínica no estado de saúde de Lula, mas os médicos pediram pelo adiamento da viagem "até que se encerre o ciclo de transmissão viral".
A ida à segunda maior potência econômica do mundo e maior parceiro comercial do Brasil tem a intenção de potencializar os negócios e se alinhar com o presidente chinês, Xi Jinping, para promover planos de paz para a Ucrânia.
O presidente, empossado em janeiro, prometeu colocar o Brasil de volta no tabuleiro geopolítico internacional, após o isolacionismo de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).
Lula pretende apresentar ao homólogo chinês sua proposta para criar um grupo de países mediadores sobre a guerra na Ucrânia, que lançou em janeiro, ao mesmo tempo em que se recusou a enviar munições a Kiev porque o Brasil, afirmou, é um país "de paz".
Lula quer posicionar o Brasil como um facilitador do diálogo multinacional na Ucrânia, emulando, assim, sua mediação nos acordos nucleares entre o Irã e os Estados Unidos durante seu segundo mandato (2007-2010).
A China, por sua vez, promove uma proposta de paz de 12 pontos, que Xi discutiu esta semana, em Moscou, com seu contraparte russo, Vladimir Putin, e que inclui um apelo ao diálogo e o respeito à soberania territorial de todos os países.
Putin expressou um apoio prudente, enquanto as potências ocidentais acusam Pequim de dar um respaldo tácito à intervenção armada de Moscou.
Por sua vez, o presidente francês, Emmanuel Macron, conversará com Xi sobre vias para um "retorno à paz" na Ucrânia, durante a visita de Estado que ele fará à China entre 5 e 8 de abril, informou o Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, nesta sexta-feira (24).
A agenda de Lula começaria na terça-feira com um encontro com Xi. No mesmo dia, também se reuniria com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e o presidente da Assembleia Popular, Zhao Leji.
Em Xangai, o presidente visitaria o banco de desenvolvimento dos BRICS (NDB), juntamente com sua afilhada política, a ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016), que foi nomeada nesta sexta para a presidência da instituição.
O presidente encerraria seu giro internacional com uma visita aos Emirados Árabes Unidos entre 31 de março e 1º de abril.
No ano passado, o intercâmbio comercial entre os dois países superou os 150 bilhões de dólares (R$ 780 bilhões, aproximadamente), embora os empresários brasileiros ainda tenham dificuldades em introduzir no mercado chinês bens de maior valor agregado.
O Brasil quer impulsionar "o comércio internacional, visando a diversificação de produtos (...), mas trazer (também) mais investimentos chineses e avançar em outras pautas", acrescenta Menezes, citando potencialidades na área dos semicondutores, inteligência artificial e trens de alta velocidade.
Com 70,3 bilhões de dólares entre 2007 e 2020 (aproximadamente R$ 360 bilhões), o Brasil é o principal destino dos investimentos chineses na América Latina (48%), segundo o Conselho Empresarial Brasil-China.
Os principais destinatários destes recursos são os setores de geração elétrica e petróleo, mas também indústria automotiva e máquinas pesadas, mineração, agroindústria e tecnologia da informação.
Quinhentos empresários, a metade brasileiros, sobretudo do agronegócio, participarão de um seminário no dia 29.
O setor conseguiu, na quinta-feira, a suspensão de uma proibição que vigorava desde 23 de fevereiro para a exportação de carnes à China, que tinha sido estabelecida após a detecção de um caso "atípico" do "mal da vaca louca".
O Brasil é um enorme mercado para as empresas chinesas, como a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei. Além disso, avanços entre os dois países para usar a moeda chinesa, o iuane, no bilionário comércio bilateral, abriria o caminho parra uma maior internacionalização da divisa.
"Mais do que com qualquer outro país", uma relação bem sucedida com o Brasil impulsiona os objetivos econômicos globais chineses, afirma Evan Ellis, especialista em Rússia e China do Center for Hemispheric Defense Studies de Washington.