Lula propõe mediar guerra na Ucrânia junto com China e Emirados Árabes

Presidente concluiu viagem de três dias em que visitou Xangai, Pequim e Abu Dhabi
AFP
Publicado em 16/04/2023 às 17:27
"Conversei com o xeique [dos Emirados, Mohammed ben Zayed al Nahyan] sobre a guerra. Conversei com [o presidente chinês] Xi Jinping sobre paz. E acho que estamos encontrando um grupo de pessoas que prefere falar sobre paz do que a guerra, acho que teremos sucesso", disse Lula Foto: EVARISTO SA/AFP


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs, neste domingo (16), uma mediação conjunta com China e Emirados Árabes Unidos para dizer "basta" à guerra na Ucrânia.

O chefe do Executivo brasileiro, que concluiu no domingo uma viagem de três dias em que visitou Xangai, Pequim e Abu Dhabi, disse ter conversado com os presidentes dos Emirados Árabes Unidos (EAU) e da China sobre a criação de um grupo de países, semelhante ao G20 das economias avançadas, para mediar o conflito causado pela invasão russa.

Ao contrário das potências ocidentais, nem a China nem o Brasil impuseram sanções contra a Rússia e estão tentando se posicionar como mediadores para acabar com a guerra, que começou em fevereiro de 2022.

Os Emirados, por sua vez, adotaram uma posição de neutralidade no conflito, embora tenham recebido um número significativo de empresários russos.

"Ontem conversei com o xeique [dos Emirados, Mohammed ben Zayed al Nahyan] sobre a guerra. Conversei com [o presidente chinês] Xi Jinping sobre paz. E acho que estamos encontrando um grupo de pessoas que prefere falar sobre paz do que a guerra, acho que teremos sucesso", disse Lula a repórteres em Abu Dhabi, antes de voltar ao Brasil.

O presidente brasileiro, de 77 anos, que voltou ao poder em janeiro, também destacou que "a decisão pela guerra foi tomada por dois países" e acusou os Estados Unidos e a Europa de prolongar o conflito.

"O presidente Putin não toma a iniciativa de parar, [o presidente ucraniano] Zelensky não toma a iniciativa de parar. A Europa e os Estados Unidos continuam a contribuir para a continuação dessa guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles 'basta'", sentenciou.

Além do aspecto diplomático, a passagem de Lula pela China e pelos Emirados Árabes Unidos permitiu a realização de acordos multimilionários de investimento e comércio com os dois países. 

"Todo mundo sabe que propus uma espécie de G20 para a paz. Quando veio a crise econômica em 2008, rapidamente criamos o G20 para tentar salvar a economia", disse Lula ao deixar seu hotel.

"Agora é importante criar outro tipo de G20 para acabar com essa guerra e estabelecer a paz. Essa é minha intenção e acredito que teremos muito sucesso", declarou.

Lula afirmou que discutiu essa iniciativa com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; o chanceler alemão, Olaf Scholz; o presidente francês, Emmanuel Macron, e líderes de alguns países sul-americanos.

O presidente Lula, no início de seu terceiro mandato após ter governado o país entre 2003 e 2010, também busca estreitar os laços com Washington, apesar de acusar os Estados Unidos de "incitar a guerra".

Lula empreendeu um delicado ato de equilíbrio entre Estados Unidos e China, duas potências confrontadas por um número crescente de temas, incluindo a tensão entre Pequim e a ilha de Taiwan.

Após uma série de visitas de Estado, em que foi recebido na Casa Branca por Biden em fevereiro, em Pequim, o presidente anunciou que o Brasil "está de volta" à geopolítica mundial, após os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), caracterizados por um distanciamento do cenário internacional.

Antes de deixar a China, Lula disse estar confiante de que esse fortalecimento das relações entre Brasília e Pequim, seu principal parceiro comercial, não causará nenhum "arranhão" com os EUA. 

Lula também atacou o predomínio do dólar no comércio mundial e defendeu uma nova moeda para as transações entre os países membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Os pactos assinados com a China chegam a R$50 bilhões de reais e os acordos com os Emirados, a R$ 12,5 bilhões, disse o presidente brasileiro.

Em Abu Dhabi, os líderes do Brasil e dos Emirados anunciaram que os acordos incluem um para a refinaria de Mataripe, controlada pelos Emirados no Nordeste do Brasil, o investimento de até US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 12,4 bilhões) em um projeto de biodiesel. Houve também um acordo de cooperação contra as mudanças climáticas.

Os Emirados sediarão a próxima cúpula do clima da ONU, a COP28, e o Brasil é candidato a sediar a edição de 2025. Os dois países disseram que concordaram em trabalhar juntos para "promover ações climáticas ambiciosas" no resto do mundo.

O comércio entre o país da Península Arábica e o Brasil somou, em 2022, US$ 5,768 bilhões (em torno de R$ 30 bilhões na cotação da época) - um aumento de 74,5% em relação ao ano anterior, com um superávit de US$ 740 milhões (R$ 3,8 bilhões, aproximadamente) a favor do Brasil, segundo dados oficiais brasileiros.

Dos US$ 3,254 bilhões (cerca de R$ 16 bilhões) faturados, o principal produto de exportação brasileiro foi a carne de frango (29% do total), seguido de açúcar (14%), ouro (14%), celulose (8,2%) e carne bovina (8%).

Já nas importações, 89% do valor total correspondeu à compra de petróleo e materiais betuminosos, derivados de hidrocarbonetos.

 

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