O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, pediu demissão após a divulgação de imagens do circuito interno do Palácio do Planalto nas quais aparece indicando a rota de saída do andar do gabinete presidencial para invasores que depredaram instalações, móveis e obras de arte do prédio, em 8 de janeiro.
O general, conhecido como G. Dias, é o primeiro ministro a cair em 109 dias do governo Lula e sua queda obrigou o Planalto a recuar e apoiar a abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas.
Horas depois que as gravações obtidas pela CNN Brasil se tornaram públicas, colegas de G. Dias o convenceram a entregar o cargo, sob o argumento de que sua permanência na equipe levaria a crise para o gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em reunião de emergência convocada com o general e ministros do Planalto, no fim do dia, Lula lamentou o desfecho da situação e se despediu de G. Dias, que é seu amigo, com um forte abraço.
A demissão do general, que chefiou a segurança de Lula em seus dois mandatos, de 2003 a 2010, foi publicada em edição extraordinária do Diário Oficial da União. O comando do GSI será ocupado interinamente por Ricardo Capelli, secretário executivo do Ministério da Justiça.
Capelli já havia sido interventor federal na segurança do Distrito Federal durante o afastamento do governador Ibaneis Rocha (MDB) após os atos golpistas de 8 de janeiro.
Sob pressão, o Planalto precisou agir rápido para conter o desgaste, uma vez que a oposição aproveitou o fato para insistir na narrativa de que os ataques de 8 de janeiro foram provocados por "infiltrados". A estratégia do governo, agora, é apoiar a CPMI.
"O fato de hoje (quarta-feira, 19) fez o governo mudar a posição sobre a CPMI", afirmou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). "Se o presidente (do Senado, Rodrigo Pacheco) ler a CPI e os partidos quiserem, vamos estar dentro."
Guimarães disse, ainda, que o governo será o primeiro a indicar integrantes para a comissão. O colegiado deverá ter 15 deputados e 15 senadores, e o Planalto já negocia a indicação de aliados com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Na prática, depende do Centrão, comandado por Lira, para fazer maioria na CPMI.
Pacheco disse, em Londres, que a pressão pela CPI é "desproporcional" e que o adiamento da sessão foi algo "corriqueiro". A declaração do presidente do Senado foi feita antes da demissão de G. Dias.
Na avaliação de Lula, a CPMI tem potencial para atrapalhar votações consideradas fundamentais para o crescimento do País, como a do arcabouço fiscal.
O projeto de lei foi entregue ao Congresso pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O governo está convencido de que terá de pagar mais uma fatura ao Centrão, com distribuição de cargos e emendas, para segurar a crise.
As imagens mostram os invasores recebendo garrafas de água dos militares. Um major do Exército chega a fazer sinal de positivo para os golpistas. G. Dias afirmou que essa atitude foi um "desvio" e precisa ser punida.
O general disse, ainda, que nas imagens - capturadas por câmeras de vigilância - ele aparece verificando se salas usadas pela equipe presidencial estavam fechadas ou haviam sido violadas. Ao encontrar extremistas, ordenou que eles descessem do terceiro andar - onde fica o gabinete de Lula - para o segundo. Era lá que policiais militares e soldados do Exército efetuavam as detenções.
"Havia mais de 250 pessoas aqui dentro. Preservamos o terceiro piso todinho. O coração do Planalto foi preservado, toda a ala do gabinete pessoal do presidente e o quarto piso (andar dos ministros) foi preservado por completo", argumentou G. Dias à GloboNews.
Em 8 de janeiro, o então chefe do GSI disse ao presidente, quando questionado, que a câmera posicionada para o corredor de acesso ao gabinete presidencial não estava funcionando e por isso não havia imagens daquele local.
Não há no Planalto desconfiança em relação à lealdade do general, mas a avaliação é a de que ele foi enganado pela equipe - àquela altura composta, em sua maioria, por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Mesmo após a troca dos subordinados, porém, ele não demonstrou domínio sobre o GSI, que foi, pouco a pouco, sendo esvaziado. Até mesmo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) saiu de sua alçada e passou para a Casa Civil, comandada por Rui Costa.
"Todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI", informou a Secretaria de Comunicação da Presidência, em nota, logo após a saída de G. Dias.