PF Localiza conta no exterior e investiga Mauro Cid por lavagem

Cid foi preso preventivamente na semana passada por suspeita de participação em um esquema de adulteração de dados nos sistemas do Ministério da Saúde para fraudar comprovantes de vacinação contra a covid-19
Estadão Conteúdo
Publicado em 08/05/2023 às 21:17
Tenente-coronel Mauro Cid era o principal ajudante de ordem do governo Bolsonaro Foto: DIDA SAMPAIO/Estadão Conteúdo


A Polícia Federal identificou uma conta nos Estados Unidos em nome do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e pretende pedir a quebra do sigilo da conta para analisar a movimentação financeira do militar.

Cid foi preso preventivamente na semana passada por suspeita de participação em um esquema de adulteração de dados nos sistemas do Ministério da Saúde para fraudar comprovantes de vacinação contra a covid-19.

Os policiais investigam também a origem do dinheiro apreendido na casa do militar durante o cumprimento de mandados na Operação Venire.

Os policiais encontraram US$ 35 mil (equivalentes a R$ 175 mil) e R$ 16 mil em espécie em um cofre na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Cid agora é investigado também por lavagem de dinheiro. A informação foi divulgada no domingo pelo programa Fantástico, da TV Globo, e confirmada pelo Estadão.

O tenente-coronel foi o pivô da investigação sobre as fraudes nos certificados de vacinação contra a covid-19, que atinge também o ex-presidente. A apuração teve início com a quebra do sigilo de mensagem de Cid. A PF encontrou conversas sobre a adulteração nos dados de vacinação da mulher do militar, de suas filhas e de outras pessoas, entre elas Bolsonaro e a filha do ex-chefe do Executivo, Laura, de 12 anos.

Burla

Segundo a PF, os documentos alterados teriam servido para burlar restrições sanitárias impostas pelo Brasil e pelos Estados Unidos em meio à pandemia. Os investigadores apuram também registros do deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ), alvo da operação.

As supostas inserções de dados falsos teriam ocorrido entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. Bolsonaro viajou para os Estados Unidos no fim de dezembro do ano passado e só retornou ao País em março. O ex-presidente também foi alvo da Venire - seu endereço residencial em Brasília foi vasculhado por agentes da PF, que apreenderam seu celular.

Outras investigações

Com acesso direto a Bolsonaro durante o governo, Cid se tornou o braço direito e "faz-tudo" do ex-presidente.

Filho do general Mauro Cesar Lourena Cid, que foi colega de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), o tenente-coronel está implicado em outras investigações, como a que apura a entrada ilegal no País de joias doadas pela Arábia Saudita.

Avaliadas em R$ 16,5 milhões, elas foram retidas pela Receita Federal, em São Paulo. Como mostrou o Estadão, o tenente-coronel foi o primeiro a ser escalado pelo governo Bolsonaro para tentar resgatar pessoalmente o conjunto de diamantes sauditas apreendido pelo Fisco.

O coronel Cid também entrou na mira da PF em uma investigação sobre a organização e o financiamento de atos antidemocráticos.

Conversas de WhatsApp interceptadas pelos policiais e reveladas pelo Estadão mostram que ele trocou mensagens com o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, foragido da Justiça brasileira, que defendeu um golpe das Forças Armadas. Em depoimento, Cid negou apoiar uma intervenção militar.

O nome do ex-ajudante de ordens da Presidência da República também aparece na investigação sobre o vazamento de informações relacionadas a um ataque hacker aos sistemas da Justiça Eleitoral.

A íntegra da apuração da PF sobre o ataque cibernético foi divulgada pelo então presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais e usada de maneira distorcida para espalhar a narrativa infundada de existência de fraude nas urnas eletrônicas e no sistema eleitoral brasileiro.

A PF afirma que Cid participou deste e de "outros eventos também destinados à difusão de notícias promotoras de desinformação da população", incluindo a live em que Bolsonaro associou a vacina contra a covid-19 ao vírus da aids.

Procurada pela reportagem, a defesa de Mauro Cid não havia se manifestado até a publicação deste texto.

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