Lula anuncia COP no Brasil; ministros falam em reverter perdas de Marina

A cúpula sobre sustentabilidade e mudanças climáticas acontecerá em 2025, na cidade de Belém (PA)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26/05/2023 às 22:30
A pasta de Marina perdeu a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para o Ministério da Integração e a gestão de resíduos sólidos para o Ministério das Cidades Foto: Divulgação/Fórum Econômico Mundial


O governo federal se mobilizou para tentar reverter as desconfianças em relação ao real compromisso da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a pauta ambiental. O próprio Lula participou do anúncio da realização da COP-30 no Brasil, a Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

A cúpula sobre sustentabilidade e mudanças climáticas acontecerá em 2025, na cidade de Belém (PA), como pleiteava o Palácio do Planalto. A candidatura brasileira foi aprovada no dia 18 pela ONU.

Antes da divulgação do vídeo em que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira - junto com Lula e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) -, comunicou a realização da conferência no País, o presidente já havia se reunido com as ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas.

Ele garantiu que o governo vai trabalhar para reverter o esvaziamento das duas pastas promovido pela Câmara ao alterar a medida provisória de reestruturação da Esplanada dos Ministérios.

O encontro entre Lula e as ministras ocorreu no Palácio do Planalto. Também participaram da reunião o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom).

"Feita a avaliação, a gente precisa reafirmar a prerrogativa de quem ganhou a eleição e de quem ganhou a implementação de um projeto político. A prerrogativa é do governo de poder se organizar da melhor forma possível", disse Rui Costa. "Portanto, o governo continuará trabalhando nos outros espaços legislativos que a MP tramitará para que os conceitos originais que foram mexidos e, em nossa opinião estão desalinhados com as políticas que precisam ser implementadas, que nós possamos retomar o conceito original", completou.

As mudanças realizadas pela comissão mista de análise das MPs ainda precisa passar por análise dos plenários de Câmara e Senado. É nessa fase que a articulação de Lula pretende atuar para reverter a derrota imposta ao setor ambiental do governo.

A pasta de Marina perdeu a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para o Ministério da Integração e a gestão de resíduos sólidos para o Ministério das Cidades. Também o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que, pelo texto aprovado, passará para o Ministério de Gestão e Inovação.

O CAR é o registro público eletrônico obrigatório para todos os imóveis rurais e funciona como um dos principais instrumentos do governo contra a grilagem de terras e para o controle do desmatamento no País.

Rui Costa defendeu a manutenção do cadastro no Meio Ambiente, mas chegou a dizer que a ferramenta é apenas um banco de dados e não seria alterada caso fosse direcionado para outro ministério.

Os críticos do remanejamento, contudo, apontam que a pasta da Gestão e Inovação não tem especialidade técnica para administrar essa ferramenta.

Já Sônia Guajajara não terá mais sob seu comando a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), devolvida ao Ministério da Justiça.

A desidratação das pastas de Marina e da ministra dos Povos Indígenas gerou reação em grupos organizados da sociedade civil e dentro do próprio governo.

"A reunião de hoje com o presidente Lula e colegas ministros foi fundamental para reafirmar nosso compromisso de amparo aos povos indígenas. Garantiremos uma pauta ambiental sólida. Seguiremos fazendo todos os diálogos possíveis para a manutenção dos direitos indígenas", escreveu Sônia Guajajara no Twitter. A postagem foi compartilhada por Lula.

'Programa'

Em entrevista à CNN Brasil, Marina negou que deixará o governo, mas admitiu que a situação no Legislativo é "delicada". "Infelizmente, temos uma situação delicada no Congresso Nacional, em que há uma maioria de parlamentares que gostariam de reeditar a estrutura e políticas do governo anterior, e o governo está lutando muito fortemente para manter o seu programa, aquilo que foi a decisão soberana da sociedade", afirmou.

Além de ter sua pasta esvaziada por ação do Centrão e da bancada ruralista, a ministra do Meio Ambiente também entrou em confronto com o titular de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em torno de um pedido da Petrobras para exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas.

Lula também chamou ao Planalto os líderes do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues, no Senado, Jacques Wagner, e na Câmara, José Guimarães.

Eles serão os responsáveis por negociar eventuais modificações no relatório apresentado pelo deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), que acabou aprovado por 15 votos a 3 na comissão mista que analisa a proposta de reestruturação do governo federal.

Imagem

Lula não deu declarações após o encontro com as ministras. Ele chamou a reunião de ontem com o objetivo de desfazer a imagem de que atuou para desidratar as pastas comandas pelas duas mulheres.

Conforme apurou o Estadão, o presidente ficou contrariado com o tom usado por Marina, na quarta-feira, quando ela disse, em audiência na Câmara, que o desmonte de seu ministério poderia até mesmo inviabilizar o acordo União Europeia-Mercosul.

Não foi só: a ministra afirmou, ainda, que a credibilidade de Lula não era suficiente para garantir a boa imagem do Brasil no exterior. Lula também não gostou de ver Sônia Guajajara admitindo "frustração" e até "um pouquinho de falta de empenho" da parte do petista para reverter o quadro de descalabro nas negociações com o Centrão.

A confirmação da realização da COP-30 no Brasil acabou servindo como um contraponto ao noticiário negativo da semana.

No vídeo, Lula diz estar "convencido" de que a conferência será um "grande evento" para "mostrar a cara do Brasil" para o mundo. "Vamos fazer a melhor COP que já aconteceu", declarou o presidente. "Se preparem: vai ter gente do mundo inteiro, vão ter muitos governantes, gente do mundo inteiro que vai ficar maravilhada com a cidade de Belém", acrescentou o petista.

A aprovação das Nações Unidas ocorreu após grupo dos países da América Latina e Caribe endossar a candidatura brasileira. "Aumenta a nossa responsabilidade de mostrar que o Brasil está preparado. Acima de tudo, a responsabilidade da agenda ambiental conciliando os amazônidas da nossa região e o respeito ao meio ambiente", disse Helder Barbalho.

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