EDUCAÇÃO

Sob protestos, Alepe aprova proposta de readequação do piso dos professores; sindicato vota indicativo de greve na próxima semana

A proposta de readequação do piso salarial para uma parte dos professores estaduais foi aprovada por 30 votos favoráveis e 15 votos contra

Mirella Araújo
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Mirella Araújo
Publicado em 27/06/2023 às 19:45 | Atualizado em 27/06/2023 às 20:27
Roberto Soares
Projeto de Lei que concede readequação do piso salarial para mais de 28 mil professores que recebem abaixo do valor base determinado por lei, é aprovado na Alepe - FOTO: Roberto Soares

O Projeto de Lei Complementar Nº 712/2023 que concede a readequação de 14,95% do piso salarial para uma parte dos professores estaduais, foi aprovado na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), nesta terça-feira (28). A proposta recebeu 30 votos favoráveis e 15 votos contrários, sendo validada em primeira e segunda discussão.

Com o resultado do Legislativo, o Sindicato dos Profissionais em Educação de Pernambuco (Sintepe) aprovou a realização de uma assembleia, no dia 5 de julho, para votar o indicativo de greve da rede estadual de ensino.

“A governadora mostra sua faceta da insensibilidade como governante, a sua faceta da intransigência da administração pública contra uma categoria que é fundamental para o povo de Pernambuco. A aprovação desse projeto de lei é um crime contra a valorização profissional e os direitos de uma categoria que todos os dias está nas escolas cuidando dos nossos estudantes”, declarou a presidente do Sintepe, Ivete Caetano.

De acordo com o governo do Estado, com a aprovação da readequação do piso, 28,6 mil profissionais serão beneficiados, passando a receber R$ 4.420,55 por 200 horas-aula.

Entretanto, o Sintepe afirma que o projeto encaminhado pela governadora Raquel Lyra (PSDB) provoca o achatamento do Plano de Cargos e Carreiras, por deixar de fora 52 mil profissionais que reivindicam o piso com repercussão na carreira.

“Nós aprovamos o indicativo da decretação da greve para o dia 5 e a governadora pode ainda ter uma chance de apresentar alguma proposta para a nossa categoria. Nesta Assembleia vamos definir quando a greve será deflagrada e a partir dessa data não haverá aula nas escolas”, explicou a presidente do sindicato.

Os profissionais da educação voltaram a lotar as galerias da Assembleia Legislativa e protestaram contra a aprovação do PL. Os 30 parlamentares favoráveis à aprovação da matéria foram chamados de “traidores” pelos docentes. "Vote direito, deputado que quer ser reeleito", disseram os trabalhadores e trabalhadoras da educação.

Para a líder da Oposição, Dani Portela (PSOL), a estratégia utilizada pelo Executivo foi de tentar dividir a categoria. “Isso impacta diretamente no Plano de Cargos e Carreiras. A Lei nacional do piso (11.738/2008) em nenhum momento, ela serviu para achatar ou acabar com a carreira destes profissionais”, disse.

“Não é justo que a gente vote para 32% da categoria este aumento, e alguém que está sendo nomeado agora, receba o mesmo salário de alguém que está há 19 anos em sala de aula e buscou fazer formação continuada, entre outras especializações”, declarou a parlamentar, que votou contra a proposta.

NEGOCIAÇÕES

Não faltaram tentativas para que o quórum da votação do PL da readequação do piso do magistério pudesse ser derrubado. Antes da sessão do plenário ser iniciada, o presidente da Casa, o deputado Álvaro Porto (PSDB), e um grupo de parlamentares entre oposição e governo - Joãozinho Tenório (Patriota), Izaías Régis (PSDB), Dani Portela, Sileno Guedes (PSB), Mario Ricardo (Republicanos), João Paulo (PT), Joaquim Lira (PV) e Jarbas Filho (PSB) -, se reuniram por mais de 1h com representantes da mesa de negociação do Sintepe e da CUT.

Nos bastidores, parlamentares afirmaram que o Palácio do Campo das Princesas entrou em campo para tentar assegurar o número de votos necessários para garantir a aprovação da matéria por maioria simples. Os deputados foram chamados individualmente e alguns chegaram a receber uma ligação direta da governadora Raquel Lyra.

“Propomos a criação de um Grupo de Trabalho objetivando a melhoria do Plano de Cargos e Carreiras dos próximos anos, enquanto durar o governo Raquel Lyra. Não falaria tão somente em vencimentos, mas também nas diretrizes e propostas de trabalho ao longo de todo esse período”, explicou o deputado Joaquim Lira, responsável por mediar a discussão com o Governo do Estado.

Ele explicou que o Executivo sinalizou de forma positiva sobre a criação do GT, porque não havia uma relação direta com a aprovação do PL 712/2023. “O que a Assembleia deve e pode fazer é tentar intermediar essa mesa de negociação permanente entre o Governo do Estado e o sindicato da categoria”, afirmou Lira.

Sobre o papel da Assembleia Legislativa nesta discussão, o presidente Álvaro Porto fez questão de deixar claro que a Casa fez tudo que poderia ter sido feito para esticar os prazos, na tentativa de uma contraproposta do Governo do Estado ser apresentada.

O Projeto de Lei Complementar foi enviado pela governadora Raquel Lyra no dia 17 de maio, em regime de urgência. Apesar de ter sido aprovado na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCJ), ele foi rejeitado no mérito pelas comissões de Finanças e Educação.

O arquivamento da proposta só foi evitado porque o líder do Governo Izaías Regis apresentou um recurso, que foi aprovado em votação no plenário na semana passada. 

“Esperamos que venha para esta Casa, um projeto de lei que dê o aumento para todos os professores. Tenho certeza que esta Casa estará junto de todos vocês, vamos estar cobrando e tentando negociar”, declarou Porto.

Em seguida, Álvaro Porto foi enfático ao dizer que “é muito fácil querer jogar a responsabilidade nas costas dos deputados”.

“O projeto que vem para esta Casa a gente coloca em votação, ,mas estamos votando o piso dos professores e vocês vão ter toda autoridade e autonomia para irem atrás do Governo do Estado para realmente terem o aumento salarial”, afirmou o presidente.

DEFESA

O vice-líder do Governo, Joãozinho Tenório, saiu em defesa da governadora Raquel Lyra, afirmando que no momento oportuno deverá ser apresentada uma proposta que possa contemplar o restante dos profissionais da educação.

“Todos os 30 parlamentares que votaram a favor do projeto defendem, sem exceção, que o Governo mande um projeto de reajuste para a Casa. A governadora se comprometeu para assim que tiver um retrato preciso do equilíbrio fiscal e financeiro do Estado, sem comprometer a folha de pagamento, ela vai fazer”, disse o parlamentar.

Joãozinho Tenório afirmou ainda que Raquel Lyra tem se sensibilizado com a causa e que todos esperam que até a próxima mesa de negociação, marcada para o mês de agosto, possa se ter algum avanço sobre esse debate.

“Ela está tendo muita precaução de oferecer uma proposta que consiga manter a folha em dia”, disse Tenório, no entanto, não soube afirmar quando isso poderá ser possível.

VEJA COMO FOI A VOTAÇÃO DO PL 712/2023:

Parlamentares que votaram pela aprovação do projeto

  1. Abimael Santos (PL)
  2. Adalto Santos (PP)
  3. Antônio Moraes (PP)
  4. Claudiano Martins (PP)
  5. Cléber Chaparral (União)
  6. Dannilo Godoy (PSB)
  7. Débora Almeida (PSDB)
  8. Eriberto Filho (PSB)
  9. Fabrizio Ferraz (PP)
  10. France Hacker (PSB)
  11. Francismar Pontes (PSB)
  12. Gustavo Gouveia (SD)
  13. Henrique Queiroz Filho (PP)
  14. Izaias Regis (PSDB)
  15. Jarbas Filho (PSB)
  16. Jefferson Timóteo (PP)
  17. Joãozinho Tenório (Patriota)
  18. Joaquim Lira (PV)
  19. João de Nadegi (PV)
  20. Joel da Harpa (PL)
  21. Kaio Maniçoba (PP)*
  22. Mário Ricardo (Republicanos)
  23. Nino de Enoque (PL)
  24. Pastor Cleiton Collins (PP)
  25. Pastor Junior Tércio (PP)
  26. Renato Antunes (PL)
  27. Romero Sales Filho (União)
  28. Simone Santana (PSB)
  29. Socorro Pimentel (União)
  30. William Brígido (Republicanos)

Parlamentares que votaram contra o projeto:

  1. Aglailson Victor (PSB)
  2. Antônio Coelho (União)
  3. Coronel Alberto Feitosa (PL)
  4. Dani Portela (PSOL)
  5. Delegada Gleide Angelo (PSB)
  6. Diogo Moraes (PSB)
  7. Doriel Barros (PT)
  8. Gilmar Junior (PV)
  9. João Paulo (PT)
  10. João Paulo Costa (PCdoB)
  11. José Patriota (PSB)
  12. Rodrigo Farias (PSB)
  13. Rosa Amorim (PT)
  14. Sileno Guedes (PSB)
  15. Waldemar Borges (PSB)

Ausências registradas:

  1. Luciano Duque (Solidariedade)
  2. Lula Cabral (Solidariedade)
  3. Romero Albuquerque (União Brasil) *

*O deputado Romero Albuquerque teve a presença confirmada no painel durante a primeira discussão do projeto, mas não houve registro de voto. Na segunda votação do PL, o parlamentar teve a ausência registrada. 

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