O papa Francisco se reúne nesta quarta com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Vaticano e deve abordar temas sensíveis que podem desagradar ao brasileiro. Segundo embaixadores que cuidam da relação entre Brasil e Santa Sé, entre os pontos do diálogo está o recrudescimento da ditadura de Daniel Ortega, na Nicarágua, e os abusos dos direitos humanos na Venezuela de Nicolás Maduro.
O papa deve introduzir os dois assuntos e pedir que o presidente brasileiro atue como intermediador com os dois ditadores, de acordo com diplomatas. Os dois problemas regionais na América Latina, onde o catolicismo é a religião dominante, constam na lista de prioridades do pontífice.
A situação da Nicarágua é descrita como muito preocupante por parte das autoridades católicas. Em perseguição a opositores, o regime de Ortega, que Lula evita criticar, fez uma caçada contra católicos e dissidentes. O bispo de Matapalga, Rolando Álvarez, está em prisão domiciliar. Ele foi condenado a 26 anos por se recusar a deixar o país com outros sacerdotes e opositores.
Ordens de freiras foram expulsas da Nicarágua, como a fundada por Madre Teresa de Calcutá. O papa não tem mais interlocução direta com Ortega. O ditador expulsou o núncio apostólico e o representante do papa mais próximo fica na Costa Rica. Ortega também fechou meios de comunicação católicos, acusados de conspirar contra o governo, e tomou escolas de orientação religiosa.
Embora o governo brasileiro diga repudiar a repressão e a violência contra opositores, a posição é vista como pouco eloquente e hesitante por aliados como os EUA. O próprio Lula se esquiva de criticar Ortega, de quem foi muito próximo e a quem costuma defender. Na campanha eleitoral, ele minimizou a repressão do regime e a manutenção de Ortega no poder, sem alternância, por mais de 16 anos.
O papa tem a crise da Venezuela como prioridade de sua agenda e uma certa experiência em mediar negociações entre regimes autoritários na América Latina e potências ocidentais, como fez entre Cuba e EUA, em 2014.
Durante a cúpula de líderes sul-americanos, em maio, Lula classificou as denúncias de violações em Caracas de "narrativa" e foi criticado tanto por governantes de esquerda, como o chileno Gabriel Boric, como conservadores, como o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou.
A audiência deve durar uma hora e meia e fugirá da dinâmica usual. Pelo protocolo, o papa deveria receber Lula na Biblioteca do Vaticano. Contudo, a reunião será na Auletta, um apêndice da Sala Paulo VI, que fica mais perto dos aposentos do papa, que se recupera de uma cirurgia abdominal.
Lula vai se reunir com primeira-ministra da Itália
A Presidência da República informou nesta terça-feira, dia 20, que o governo da Itália reviu a previsão de compromissos da primeira-ministra Giorgia Meloni e confirmou um encontro dela com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reunião bilateral havia sido solicitada pelo governo brasileiro, por via diplomática, mas o governo italiano respondera que não havia compatibilidade de agendas.
O desencontro já havia sido confirmado pelo Itamaraty na última versão dos compromissos de Lula na Itália. Agora, Meloni encaixou ume encontro bilateral com o presidente Lula. Ela vai retornar de Paris para a reunião no Palácio de Chigi.
Meloni participou de compromissos em Paris nesta terça. Ele encontrou-se com o presidente francês Emmanuel Macron e promoveu ao lado de autoridades italianas a candidatura de Roma a sede da Expo 2030. Estava ao lado do prefeito de Roma, Roberto Gualteri, que já havia confirmado uma recepção a Lula.
O encontro deve marcar um momento de mais pragmatismo e menos ideologia entre os governantes de Brasil e Itália. Essa é a recomendação de diplomatas de lado a lado, já que Lula e Meloni divergem politicamente em uma série de questões. Para eles, será o momento de normalização das relações entre os líderes políticos do Brasil e da Itália.
Lula será recebido pelo presidente italiano, Sergio Matarella, pelo papa Francisco, por Giorgia Meloni e pelo prefeito Gualteri