A confirmação da ida do ministro da justiça, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal, após votação do Senado esta semana, foi uma vitória do Governo - apesar do resultado em termos de votos ter sido inferior ao esperado - mas desnuda, ainda mais, o descaso com que o atual presidente, ao contrário do que se esperava, tem tratado a natural busca das mulheres por mais espaços na sociedade.
Acossado cada vez mais pelo bloco feminino do próprio PT, que tem reivindicado uma maior participação das mulheres no ministério, na Procuradoria Geral da República ou nos tribunais superiores, nos quais o presidente tem a prerrogativa de indicar seus preferidos, Lula tem dado de ombros a estes apelos. "Sexo e cor não serão critérios para as escolhas"- disse, recentemente, irritado com a pressão recebida.
MULHERES EX-MINISTRAS
Como resultado dessa indisposição para compor a própria cota de gênero, introduzida na sociedade pelo PT, o presidente, que chegou a subir a rampa do Palácio do Planalto quase um ano atrás acompanhado de mulheres, indígenas, negros e pessoas com deficiência começou nomeando 37 ministros dos quais apenas 11 eram mulheres e de lá para cá as mulheres já foram reduzidas a 9, com a saída de Ana Moser, do ministério dos Esportes e de Daniela Carneiro, do ministério do turismo, ambas substituídas por homens.
Da mesma forma, desmanchou-se no ar a alegação do presidente em janeiro, de que havia indicado duas mulheres para presidir os maiores bancos federais: o BB e a Caixa Econômica. Só resta uma delas. A presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, também já foi substituída por um homem: Carlos Antonio Vieira, indicado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira.
LÍNGUA SOLTA
A substituição das três mulheres citadas acima, segundo Lula, não foi culpa dele. "Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e não é mulher eu não posso fazer nada", desculpou-se transferindo a responsabilidade para o Centrão, com o qual precisou se compor no Congresso. Mas, como explicar, por exemplo, que tenha preferido colocar Flávio Dino para substituir Rosa Weber, no STF, quando as mulheres lutavam por uma mulher, de preferência negra? E porque escolheu para a PGR, o advogado Paulo Gonet, também confirmado esta semana, e ignorou a lista tríplice dos procuradores da qual constava uma mulher: a procuradora Luiza Cristina Fonseca Frischeinsen?
Com a língua solta que o caracteriza o ex-ministro Ciro Gomes afirmou recentemente que "o Governo Lula tem menos mulheres do que o de Bolsonaro em postos de comando". Verdade? Nem tanto, Ciro falou em, "postos de comando" e este levantamento não foi feito mas em ministérios, Bolsonaro só teve duas ministras - as atuais senadoras Damares e Teresa Cristina - mas de Lula se esperava muito mais, afinal o Governo Bolsonaro teve 22 ministérios e o de Lula 37 (recentemente ele criou um novo, o de micro-empresa, ocupado pelo ex-governador de São Paulo, Márcio França).
LEWANDOVSKI NA JUSTIÇA
Se havia alguma dúvida de que Lula não está mesmo ligando para cor e sexo como falou, a senadora Gleise Hoffmann, foi cotada para ministra da justiça no lugar de Dino mas o presidente se apressou em dizer que deseja mantê-la na presidência do PT até a eleição de 2024. Vai optar por um homem que pode ser o ex-ministro do STF, Ricardo Lewandovski. Mais não disse e nem seria necessário.