A Embaixada da Hungria no Brasil demitiu nesta semana dois funcionários brasileiros. Os desligamentos ocorrem após a divulgação de imagens do circuito interno da sede de representação diplomática, em Brasília, em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece no local, em fevereiro
As demissões foram reveladas pela CNN Brasil e confirmadas pelo Estadão, ontem. Procurada pela reportagem, a embaixada húngara no Brasil não se manifestou.
IMAGENS DE BOLSONARO
Imagens divulgadas pelo jornal americano The New York Times, em 25 de março, mostram que Bolsonaro se hospedou na embaixada húngara entre 12 e 14 de fevereiro - dias após o ex-presidente e aliados dele terem sido alvo da Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal no dia 8 daquele mês. Quatro dias antes, ele havia entregado o passaporte à Justiça.
O espaço físico de uma embaixada é considerado território inviolável do país de origem. Ou seja, se a Justiça expedisse um mandado de prisão preventiva contra o ex-presidente, a decisão não poderia ser cumprida por ele estar em embaixada internacional. A permanência de Bolsonaro na embaixada virou alvo da PF. A Hungria é comandada pelo premiê Viktor Orbán, um dos aliados da política externa da gestão do ex-presidente.
Bolsonaro chegou à Embaixada da Hungria, no dia 12, cerca de uma hora depois de postar um vídeo convocando para o ato na Avenida Paulista - o evento foi realizado em São Paulo no dia 25 de fevereiro e reuniu milhares de apoiadores do ex-presidente.
‘Contatos’
Em nota, a defesa do ex-presidente confirmou que ele ficou hospedado na embaixada húngara, mas disse que a visita foi destinada a "manter contatos com autoridades do país". Bolsonaro foi convocado a prestar esclarecimentos sobre o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF) e negou que a visita tenha sido uma forma de estar fora do alcance da Justiça nacional.
"Não há razões mínimas nem mesmo cenário jurídico a justificar que se suponha algum tipo de movimento voltado a obter asilo em uma embaixada estrangeira ou que indiquem intenção de evadir-se das autoridades legais ou obstruir, de qualquer forma, a aplicação da lei penal", disse a defesa de Bolsonaro ao Supremo
Após a divulgação das imagens pelo jornal americano, o ex-presidente declarou que frequenta sedes diplomáticas de outros países no Brasil. "Converso com embaixadores. Não tenho o passaporte, está detido. Muitas vezes esses chefes ligam para que eu possa prestar informações precisas sobre o que acontece no Brasil", declarou Bolsonaro.