Pressionado pelo Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou minimizar a crise política enfrentada pelo governo e disse que desentendimentos com a Câmara e o Senado fazem "parte do jogo". Em café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, Lula afirmou ontem que o governo precisa ter "cuidado" para manter a relação mais civilizada possível com deputados e senadores e acenou com um acordo com o Centrão.
"Não vamos viver em uma eterna briga porque, se você optar pela briga, não aprova nada", disse o presidente ao responder a uma pergunta do Estadão. "Não tem divergência que não possa ser superada. Não fico nervoso ou irritado quando o Congresso veta algo. Às vezes, fico incomodado com a minha incompetência de não tê-los convencido do contrário."
No domingo, Lula se reuniu com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), expoente do Centrão, no Palácio da Alvorada, na tentativa de chegar a um consenso sobre as próximas votações na Câmara. Desde novembro do ano passado, Lira não conversa com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a quem chamou de "incompetente" e "desafeto pessoal".
‘CUIDADO’
Embora o governo tenha receio de uma pauta-bomba, com aprovação de projetos que podem causar impacto de R$ 70 bilhões no Orçamento, Lula não quis se estender sobre o assunto nem contar o que conversou com Lira. Afirmou apenas que também vai se reunir com Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e só não o fez porque o presidente do Senado havia tomado vacina e estava indisposto no fim de semana.
"Não é o presidente da Câmara e do Senado que precisam de mim. É o governo que precisa ter cuidado (na relação)", insistiu Lula. "Eu, sinceramente, não acho que a gente tenha problema no Congresso. A gente tem situações que são as coisas normais da política. Vamos só lembrar um número. Nós temos 513 deputados e meu partido só tem 70. Nós temos 81 senadores e o meu partido só tem 9."
Nem mesmo a possibilidade de instalação de cinco Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), segundo Lula, é motivo de preocupação. "Não tem nenhuma CPI contra o governo", resumiu. Na prática, ele sabe que essas comissões não irão para frente em ano eleitoral.
Ao ser questionado sobre uma possível reforma ministerial, diante das dificuldades enfrentadas pelo Planalto, principalmente na articulação política e na área social, o presidente disse que não promoverá mudanças "neste instante". Mas, ao fazer uma analogia com o futebol, deixou a porta aberta para uma possível mexida na equipe.
"Eu não conheço um técnico que anuncie, quando o time entra em campo, quem ele vai tirar. O time entra para jogar, está jogando do jeito que eu acho que deve jogar", observou o presidente. "Não existe previsão de reforma ministerial na minha cabeça nesse instante."
Pouco antes, também no café da manhã, o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, negou que no dia anterior Lula tenha criticado o titular da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente Geraldo Alckmin. Pimenta afirmou que aquilo que soou como reprimenda não passou de uma brincadeira.
MANCHETES
Logo depois, porém, o próprio Lula fez uma espécie de mea-culpa ao dizer que, quando era presidente do Instituto Cidadania, ficava contrariado com manchetes dos jornais criticando o PT. "Mas, se a gente não quiser manchete negativa, a gente não deve dar pretexto para a manchete", admitiu.
Na segunda-feira, Lula disse que Haddad e Alckmin - vice-presidente que também é ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio - precisavam conversar mais com deputados e senadores (mais informações nesta página). Chegou a pedir que Haddad, em vez de ler um livro, passasse mais tempo com os parlamentares. "Esqueci os meus livros. Estou liberado", respondeu Haddad mais tarde, em tom de brincadeira.
Antes que os jornalistas perguntassem, Lula afirmou, no café da manhã, que não viu a manifestação promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no domingo, no Rio.
"Eu não vi o ato porque estava fotografando o Minha Casa, Minha Vida do joão-de-barro", afirmou ele, ao lembrar o seu programa de domingo, no Palácio da Alvorada. "Não me preocupa ato de fascista, não."