População esquece escolhas para vereador e "clientelismo" predomina na hora do voto, destaca cientista político
De acordo com uma pesquisa recente no estado do Ceará, cerca de 68% dos entrevistados afirmam que não sabe em quem votar para vereador, até agora
O cientista político Adriano Oliveira participou, nesta segunda-feira (2), do programa Passando a Limpo da Rádio Jornal, onde destacou que grande parte da população de cidades grandes, médias e pequenas não se lembra em quem votou para vereador nas últimas eleições municipais.
Ele aponta uma pesquisa que analisou de um município do Ceará em que cerca de 70% dos eleitores afirmam que não têm um candidato a vereador para votar neste ano e que não sabem citar nem o nome dos postulantes.
"Primeiro, há o fato da descredibilização da classe política, o que, de fato, está presente. Segundo, a relação dos vereadores com a população, que caracteriza a dinâmica da eleição, é uma relação muito pessoal", explicou o cientista, ao comentar sobre a falta de interesse do eleitorado em conhecer os candidatos a vereador.
Segundo Adriano, essa relação surge de uma "troca", onde o eleitor cria afinidade com o político de forma individual e pessoal. Se a pessoa for beneficiada, seja por uma festa ou um remédio, por exemplo, o voto tende a ser dado àquele vereador.
No entanto, na ausência desse benefício, o voto acaba sendo decidido de última hora.
"Na maioria absoluta, há uma expectativa de relação de troca com o vereador, ou seja, ele lhe dá um benefício e você dá o seu voto", completou.
Ele afirma ser um "mito" a história de que vereador ganha muito dinheiro. "O recurso que chega ao vereador, em teoria, deve ser gasto com os eleitores, alimentando esse sistema de troca de favores por votos". Para Adriano, "essa dinâmica é perversa, pois existe para gerar benefícios. Os votos de opinião existem, mas não na mesma intensidade", ressalta o pesquisador.
O cientista político descreve essa dinâmica com o termo "clientelismo" e, em sua opinião, só deixará de existir quando o Estado funcionar adequadamente.
"Se o Estado funcionar, oferecendo educação, lazer, saúde eficiente, transporte público para levar pessoas doentes do interior para a capital, hospitais decentes, entidades locais e tratamentos de saúde acessíveis nas cidades do interior, você reduz o clientelismo."
Sem esse fenômeno, o eleitor votaria com base em sua opinião ou identificação com os valores do candidato, e não por meio de uma troca, conclui Adriano.
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