Eleições 2024: Conheça a história de João Campos, prefeito reeleito com maior votação da história do Recife
Prefeito não gosta do mero título de herdeiro do pai Eduardo e do bisavô Miguel Arraes. Prefere falar em legado e jeito próprio de fazer política
Foi uma vitória histórica. João Campos se reelegeu neste domingo (6) como prefeito do Recife com 78,11% dos votos válidos. É a maior votação para um gestor do Recife desde a redemocratização do País, em 1985. Antes dele, o candidato mais votado tinha sido Geraldo Julio (PSB), em 2016, no seu segundo mandato, com 61,30% (2° turno).
O resultado nas urnas mostra que o prefeito conseguiu atrair eleitores de todas as vertentes políticas, diferente do processo de polarização que tem se percebido nas últimas eleições. Apoiado pelo presidente Lula, ele atraiu lulistas mas também bolsonaristas.
O candidato do ex-presidente Bolsonaro, Gilson Machado (PL) ficou em segundo lugar na disputa com 13,9%. Já o candidato da governadora Raquel Lyra, Daniel Coelho (PDT) só conseguiu um quarto lugar (3,21%), atrás da candidata Dani Portela (PSOL), com 3,78%. Tecio Teles (Novo - 0,79%), Ludmila (UP - 0,15%), Simone Fontana (PSTU - 0,06%) e Victor Assis (PCO - 0,01%) fecham os números. Os votos brancos somaram 2,05%, enquanto os nulos foram 3,5%. A abstenção foi de 236.154 eleitores, o equivalente a 19,36%.
HISTÓRIA
Quando João Campos era criança, acostumou-se a ver o terraço da casa da família, no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife, ocupado por políticos. Seu pai, o ex-governador Eduardo Campos, reunia correligionários, inclusive nos finais de semana. A brincadeira das crianças e as conversas políticas conviviam naquele terraço. Reeleito prefeito do Recife neste domingo (06), com 78,11% dos votos válidos, João cresceu dentro da política.
Prestes a completar 31 anos no dia 26 de novembro, João Campos é o segundo dos cinco filhos de Eduardo e Renata Campos: Maria Eduarda, João, Pedro, José e Miguel. A morte de Eduardo, em um trágico acidente aéreo no dia 13 de agosto de 2014, não permitiu que ele assistisse o ingresso do filho na política, mas foi responsável por antecipar sua entrada na vida pública.
Logo depois do acidente, João foi convocado pelo PSB para participar da campanha ao governo estadual de Paulo Câmara, que tinha sido indicado pelo seu pai. Circulou por todo o Estado e começou a fazer discursos e comícios em algumas cidades. Tomou gosto pelo dia a dia da atividade.
Com a folgada vitória de Paulo Câmara, bastante influenciada pela comoção pela morte de Eduardo, a história da família Campos voltou a se repetir. João Campos foi nomeado para a chefia de gabinete do governador, o mesmo cargo que seu pai ocupou no governo do avô. Coincidentemente, João também tinha 22 anos quando chegou ao cargo.
A chefia de gabinete é uma espécie de escola-política, permitindo o contato com prefeitos, parlamentares e muitos políticos do interior. A experiência possibilitou acompanhar o funcionamento da máquina pública. Em 2016 se formou em engenharia civil pela Universidade Federal de Pernambuco, mas já havia 'escutado o chamado' da política.
Em 2014, quando tinha apenas 21 anos, o pai chegou a cogitar lançar João como candidato a deputado federal, mas foi desencorajado pela esposa Renata, alegando que seria melhor esperar o jovem concluir o curso de engenharia.
A primeira eleição aconteceu quatro anos depois, em 2018, marcada por um resultado extraordinário: João foi eleito deputado federal pelo PSB com 460.387 votos, a maior votação da história de Pernambuco. O novo mandato foi exercido por apenas um ano até ele decidir disputar a Prefeitura do Recife.
ELEIÇÕES 2020
Nas eleições de 2020, João Campos enfrentou um cenário bem diferente do atual. Entrentou uma disputa acirrada e vitulenta com a então rival e prima, hoje novamente aliada, Marília Arraes, que na época estava no PT. Os adversários tentaram emplacar a tese de que não teria idade para assumir o cargo e que era um heideiro do 'clã' Campos-Arraes.
A eleição foi para o segundo turno e João venceu, tornando-se o prefeito mais jovem do País, com 27 anos na época. Dessa vez, os candidatos não conseguiram se aproximar da votação do prefeito, que pela votação histórica de 78,11%, conseguiu atrai eleitores de todas as tendências políticas.
O MENINO E SEU LEGADO
"Na eleição passada as pessoas deram em João um voto de aposta, decidindo votar em um menino mesmo, como diziam. Ele construiu seu legado com base na confiança da população e, ao entregar resultados, transformou essa confiança inicial agora em um voto de gratidão. As pessoas votam nele não apenas por acreditarem em seu potencial, mas porque reconhecem o trabalho que ele já realizou. Ele provou que estava preparado e retribuiu a confiança depositada, mostrando que pode fazer ainda mais", defende o deputado federal e irmão do prefeito, Pedro Campos.
João não gosta de ser reconhecido apenas como herdeiro de Eduardo Campos e do bisavô Miguel Arraes. Fala com respeito do legado que os dois lhe deixaram, mas tenta construir seu próprio caminho. "Ele soube atualizar esse legado para os novos tempos, incorporando pautas e práticas mais conectadas à realidade atual, como a transformação digital na gestão municipal e uma comunicação moderna e dinâmica", analisa a cientista política Priscila Lapa.
Pedro complementa afirmando que o legado de Eduardo e Arraes servem como referência de valores e princípios que heudou. "A defesa da democracia, o olhar especial para os mais necessitados e o reconhecimento da importância da organização popular são alguns exemplos. No entanto, hoje ele tem suas próprias entregas para apresentar", observa.
ESPORTISTA, 'PESCADOR', CATÓLICO E WORKAHOLIC
No círculo de pessoas próximas ao prefeito virou brincadeia olhar o perfil dele nas redes sociais e perceber que enquanto elas estão acordando, João já fez uma corrida, visitou uma obra e está de volta ao gabinete. Também não são poucas as vezes que ele ultrapassa 12 horas de trabalho com um sorriso no rosto.
O prefeito reeleito não esconde sua paixão por uma corrida, mas tem o sonho de um dia participar de um Ironman (competição em que é preciso nadar, pedalar e correr). Nas poucas horas livres que tem, João gosta de pescar — um hobby que aprendeu com o avô materno, Cyro de Andrade Lima, e que ele valoriza até hoje. Outro interesse é andar a cavalo. E, sim, claro, de estar com a namorada Tabata Amaral, também deputada federal (SP), com quem está desde 2019.
Filho de mãe católica, João e os irmãos estudaram em escola religiosa. O prefeito carrega consigo uma corrente com várias medalhas, incluindo imagens de santos e o Espírito Santo. Essa corrente era uma tradição do seu pai, Eduardo Campos. Após o acidente que vitimou Eduardo, algumas das medalhas foram recuperadas e são guardadas com carinho pela família.
EXPECTATIVA DE VOOS NACIONAIS
Com apenas 30 anos, João Campos conseguiu se consolidar na política brasielira. "O sucesso na comunicação digital e a habilidade de se posicionar como um jovem político com substância deram a João Campos uma relevância que vai além das fronteiras locais. Ele se consolidou como uma figura com potencial de liderança dentro do seu partido e como alguém com capacidade de alçar voos mais altos em termos de projeção nacional", avalia Priscila.
Com isso, a cientista política acredita que "João não é mais visto apenas como um político local, mas como alguém capaz de dialogar e se conectar com o eleitor de diversas regiões do País. Essa capacidade de ampliação do espectro político o credencia para assumir um papel de destaque no cenário nacional, tornando-o uma liderança em ascensão", diz.
João já foi deputado federal e possui uma vivência política que vai além do âmbito municipal. Sua atuação se estende para diversas frentes e hoje ele é um dos nomes de destaque no cenário nacional. Ele lidera diversas iniciativas e faz um trabalho reconhecido nacionalmente. Com uma possível grande vitória no Recife, ele se consolidará como uma importante liderança política estadual e nacional, destacando-se entre os candidatos apoiados pelo presidente Lula como alguém que possivelmente terá uma das vitórias mais expressivas no Brasil.
Pedro Campos evita falar em cargos específicos que o prefeito esteja vislumbrando, mas sinaliza um futuro promissor. "João se consolida como uma grande liderança jovem no cenário nacional. Sua capacidade de comunicação, sua habilidade política e seu legado familiar o colocam em uma posição de destaque. Ele tem um futuro promissor e, embora hoje seja visto como uma liderança jovem, já se posiciona como uma liderança política nacional, sem precisar de qualquer recorte específico (jovem, nordestino). Sua trajetória é marcada pelo compromisso com a cidade e pela busca constante por fazer o que gosta, o que contribui para a construção de um futuro sólido e de novas oportunidades políticas", acredita.