Nunes e Boulos superam disputa com Marçal e vão ao 2º turno em SP
O embate entre Boulos e Nunes reproduzirá a disputa entre o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e Jair Bolsonaro (PL) em 2022
A disputa pela Prefeitura de São Paulo será definida no segundo turno entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Com 100% das urnas apuradas, o atual prefeito somou 29,48% dos votos válidos, ante 29,07% do deputado federal. As urnas refletiram o embate acirrado mostrado nas pesquisas entre os dois e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que encerrou sua participação na campanha paulistana com 28,14% dos votos válidos
"Fator surpresa" do pleito, Marçal chegou a contratar um trio elétrico para festejar na Avenida Paulista, diante da crença de que venceria a eleição no primeiro turno. Nas semanas anteriores, seus aliados afirmavam que, independentemente do resultado, ele sairia maior da eleição e se projetaria como um líder da direita em nível nacional. O futuro eleitoral do influenciador, contudo, se tornou incerto. Ele pode ser condenado pela Justiça Eleitoral e se tornar inelegível após divulgar, na noite de sexta-feira, um laudo médico falso contra Guilherme Boulos.
Tabata Amaral (PSB), que ensaiou crescimento nas pesquisas de intenção de voto na última semana da campanha, se firmou na quarta colocação, com 9,91% dos votos válidos. Em pronunciamento oficial na noite de ontem, ela declarou voto em Boulos, mas negou que faria parte de um eventual governo do candidato do PSOL.
Pela primeira vez depois de quatro desistências em disputas anteriores, o eleitor poderia depositar seu voto para o comando da Prefeitura em José Luiz Datena (PSDB). O apresentador, no entanto, terminou sua primeira disputa somando 1,84%, em quinto lugar. Marina Helena (Novo) ficou em sexto, com 1,38% dos votos
FORÇAS TRADICIONAIS
O embate entre Boulos e Nunes reproduzirá a disputa entre o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e Jair Bolsonaro (PL) em 2022, cenário que estava colocado antes da entrada de Marçal no pleito. O petista apoia o candidato do PSOL, enquanto o ex-presidente está com o prefeito. A participação dos padrinhos políticos, tímida no primeiro turno, deve aumentar na segunda etapa. Lula veio à capital paulista em duas ocasiões para fazer campanha para Boulos, enquanto Bolsonaro não participou de nenhum ato organizado por Nunes, se limitando a gravar vídeos que circularam nas redes sociais. Aliados do ex-presidente afirmam que a tendência é de que ele seja mais ativo no segundo turno.
Ricardo Luis Reis Nunes, de 56 anos, fez uma campanha tradicional de prefeito que disputa a reeleição: focou seu discurso nas entregas feitas durante os três anos em que estava na cadeira, feitos amplificados pelo domínio na propaganda eleitoral, onde teve mais de 60% do tempo total graças a uma ampla aliança com 11 siglas - o rádio e a televisão também foram fundamentais para desconstruir Marçal.
Na reta final, fez gestos ao bolsonarismo, como ao declarar que errou ao exigir o passaporte de vacinação durante a pandemia.
Na noite de ontem, acenou para o eleitorado de Marçal. "Com relação ao eleitor do Pablo Marçal, nós precisamos desse eleitor para dar continuidade ao nosso trabalho. Acho que essas pessoas vão ter em nós a grande representação", disse Nunes, após saber que disputaria o segundo turno com Boulos. Perguntado se aceitaria eventual apoio de Marçal, o atual prefeito sorriu e acenou a cabeça positivamente.
Guilherme Castro Boulos, de 42 anos, adotou a moderação para chegar ao segundo turno, mudando posição em temas caros à esquerda. Ele chamou o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, de ditadura e abandonou a defesa da descriminalização das drogas O psolista explorou o legado da candidata a vice em sua chapa, Marta Suplicy, e evitou confrontos com os adversários na campanha - a militância pedia um tom mais duro contra Marçal - para não passar a imagem de agressividade que parte dos paulistanos atribui a ele por causa de seu passado no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).
Boulos também falou na noite de ontem após ser confirmado no segundo turno: "Agora vai estar em jogo uma escolha. Do lado de lá está o candidato apoiado pelo (Jair) Bolsonaro, um candidato que acredita que Bolsonaro fez tudo certo na pandemia, um candidato que agora no primeiro turno se colocou contra a vacina Do lado de cá, nós temos o time que ajudou a resgatar a democracia no Brasil, temos o presidente Lula, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, a ministra (do Meio Ambiente) Marina Silva", disse.
REJEIÇÃO
Em uma eleição parelha como a de São Paulo, em que Nunes e Boulos foram ao segundo turno com uma diferença de 25 mil votos, a rejeição pode fazer a diferença para o eleitor escolher em quem votar. Com Marçal fora do páreo, as duas campanhas estarão de olho nesse índice. A um dia da eleição, Boulos somava 38% de rejeição, enquanto Ricardo Nunes tinha 25%, de acordo com Pesquisa Datafolha. Na Quaest, Boulos chega a 49% de rejeição e Nunes, a 38%.
A última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado, 5, também simulou o embate entre os dois postulantes no segundo turno. Segundo o levantamento, o atual prefeito seria reeleito com 52% das intenções de voto, contra 37% do deputado federal.