'Não queriam entregar o poder': Luciano Bivar revela bastidores do governo Bolsonaro em livro

Um dos primeiros grandes líderes a apoiar Jair Bolsonaro, Bivar diz que pressentiu ações "antidemocráticas e "totalitárias" da antiga gestão

Publicado em 26/11/2024 às 19:30 | Atualizado em 26/11/2024 às 19:32
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Em janeiro de 2018, Luciano Bivar abriu as portas do seu PSL para o então deputado federal Jair Bolsonaro tentar a eleição para a presidência da República, o que veio a se concretizar oito meses depois. Alguns anos a frente, o mesmo Bivar rompeu com o então presidente, e os detalhes dessa ruptura estão num livro que detalha o conturbado período entre a campanha eleitoral, o mandato e as consequências após quatro anos de gestão da extrema-direita no país.

Em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio, Bivar contou que pressentiu que o governo Bolsonaro seria "antidemocrático e totalitário", como classificou. Nas páginas do livro "Democracia Acima de Tudo", que será lançado na próxima quinta-feira (28), no Recife, ele compara a gestão do ex-presidente à ditadura militar.

"Eu estava muito preocupado. No primeiro ano de governo eu pressenti que iria se tornar totalitário e não queriam alternância de poder, entregar o poder democraticamente. Isso me preocupou muito. Quando eu era mais novo, fui convidado a depor, porque eu era membro de diretório, e um soldadinho me fazia perguntas impertinentes. Eu respondi tudo, mas o AI-5 tinha suspendido o dispositivo do habeas corpus. Eu não queria que isso voltasse ao meu país, essa é a maior razão [do rompimento]", revelou Bivar.

Em nove capítulos, o deputado federal relata como aconteceu a construção da política com Bolsonaro, que precisava de um partido para concorrer no pleito em 2018. Mas não demorou para que Bivar optasse por se distanciar da gestão.

"Eu recorri a todos os meios para que ele não usasse o PSL como trampolim para atingir seus objetivos maléficos para a sociedade brasileira", contou.

Questionado sobre as recentes acusações de que Bolsonaro teria liderado uma trama golpista, em 2022, que incluiria até o assassinato do então presidente eleito Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes, Bivar afirmou que percebia ações que o deixavam assustado.

"Eu pressenti isso anos atrás. Não era fácil. No livro, eu conto que, nas páginas vermelhas da Revista IstóÉ, já havia falado que as fustigações da democracia me assustavam, e realmente me assustavam. , relatou.

A cisão com o ex-presidente ocorreu após vários episódios considerados assustadores por Bivar, que crava ter rompido com Bolsonaro depois de perceber "os perigos representados por um governo mal-intencionado".

"Eu cito no livro que a democracia não é um sistema para garantir que os eleitos sejam os melhores, mas para impedir que os maus permaneçam para sempre".
Luciano Bivar

Bivar contou que encontrou Jair Bolsonaro pessoalmente pela última vez anos atrás, ainda durante a pandemia.

"Ele queria conversar comigo sobre o apoio a umas candidaturas, trocar ideias políticas. Vieram algumas conversas, mas sempre achei que os valores da instituição falavam mais alto, e tinha medo daquele sentimento mal intencionado que tinha o governo em relação à democracia. Eu deixei claro que não comungaria”.

Sobre o nome do livro, "Democracia Acima de Tudo" — uma clara alusão ao lema de Bolsonaro, que coloca "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos" —, Bivar diz acreditar que a política deve estar distante da religião.

“Não sou ateu, não. Mas a democracia está acima de tudo. Tem que separar religião de política, uma coisa não pode se sobrepor à outra”, pontuou.

Futuro na política

Atual primeiro secretário da Câmara dos Deputados, Bivar não poderá concorrer a um novo cargo na eleição da mesa diretora, prevista para fevereiro, devido à legislação, que limita os parlamentares a permanecerem em postos de direção por até duas legislaturas.

Afastado da presidência do União Brasil, o deputado segue em conversas com diferentes partidos, mas não quis revelar qual será seu destino "para não dar motivos para infidelidade partidária". Com mandato na Câmara até 2026, comenta-se que Bivar possa rumar para o PRD.

O livro Democracia Acima de Tudo, de Luciano Bivar, será lançado na próxima quinta-feira (28), às 18h30, no Novotel Recife Marina, na região central da capital pernambucana. A publicação é da Scortecci Editora.

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"Eu cito no livro que a democracia não é um sistema para garantir que os eleitos sejam os melhores, mas para impedir que os maus permaneçam para sempre".

Luciano Bivar

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