Jam da Silva: de Pernambuco para o mundo

Gustavo Belarmino
Publicado em 19/06/2013 às 17:04
JAM O músico pernambucano é um dos percussionistas mais requisitados da atualidade


Por Bruno Souza

Uma hora de atraso. "Será que Jam vai me esperar, meu Deus?", perguntava a cada sinal fechado que encontrava no caminho entre a redação do Portal NE10 e o Cantinho da Sé, em Olinda. Para minha surpresa, ao invés de uma cara amarrada, encontrei, logo na entrada do bar, um rapaz de sorriso aberto, tomando uma Coca-Cola e um caldinho de feijão. "Desculpa a demora", disse antes mesmo das formais apresentações. "O que é isso, menino? Não tem como ficar estressado com uma visão privilegiada dessa, não é verdade?", afirmou para o meu alívio. Sem mais delongas, o músico pernambucano Jam da Silva, que mora há nove anos no Rio de Janeiro, convidou-me para sentar em sua mesa e, ao longo de duas horas de conversa, mostrou porque o mundo todo está rendido ao seu talento.

JAM O músico pernambucano é um dos percussionistas mais requisitados da atualidade

Nascido em Tejipió, de quem era vizinho da cantora Isaar, Jamilson Monteiro da Silva - ou simplesmente Jam - iniciou sua carreira musical aos 12 anos de idade. À convite de seu tio, o maestro Lima Neto, ele começou a tocar bateria na Orquestra Metais. A percussão, segundo ele, entrou no meio do caminho das apresentações que realizava. "Comecei na batera, mas foi um processo natural tocar outros instrumentos percussivos. Não vejo muita diferença entre uma coisa e outra. Se tiver ritmo, você consegue dominar bem as duas coisas. Tem hora que estou mais para bateria. Em outras mais para percussão. O que gosto mesmo é de arquitetar a música a partir do ritmo", revelou quando perguntado se tinha alguma preferência. Em 2004, quando já estava cursando Licenciatura em Música na UFPE, Jam recebeu um convite do ex-integrante do Rappa, Marcelo Yuka, para integrar a banda F.UR.T.O - Frente Urbana de Trabalhos Organizados. A indicação de seu nome para o grupo veio através de Alexandre Garnizé, percussionista da Faces do Subúrbio. Vale dizer que, nessa época, Jam já chamava atenção do público e da crítica por sua atuação na Orquestra Santa Massa do DJ Dolores. "A partir desse convite do Yuka, é que comecei a morar no Rio. Eu não tinha essa intenção em me instalar por lá. Tudo aconteceu muito naturalmente", contou sobre sua chegada à cidade maravilhosa.

F.UR.T.O Jam foi um dos integrantes do coletivo fundado pelo ex-baterista do Rappa, Marcelo Yuka

Da participação no F.UR.T.O para surgir novas parcerias foi um salto. O músico considera que toda essa receptividade positiva ao seu trabalho se deve às características da própria cidade. "Assim como o Recife, o Rio é uma cidade portuária. Eles acolhem muito bem o que vem de fora", afirmou. Morador do bairro de Botafogo e frequentador da mesma turma de artistas, como Ava Rocha, Sílvia Machete e Negro Léo, Jam mantém em sua casa um estúdio, onde costuma ensaiar e receber os amigos para tocar. "Como um bom canceriano, sou muito caseiro. Costumo receber muita gente para fazer um som, mas não deixo de lado minhas pedaladas", frisou.

HOME STUDIO Jam mantém um estúdio em casa para ensaiar

Cidadão do mundo, o percussionista já rodou por vários países com sua música. Em seu currículo, encontram-se apresentações em Londres, onde tocou em frente ao Palácio Real durante os Jogos Olímpicos de 2012, Islândia, Los Angeles e Hollywood. De acordo com ele, toda essa visibilidade internacional se deu logo após a inclusão da faixa-título do seu disco, Dia Santo, na compilação Bubblers Four Brownswood, do DJ inglês Gilles Peterson. A canção, que apresenta os vocais de Isaar, também ganhou destaque na premiação All Winners Show 2009, e foi uma das musicas mais tocadas na BBC londrina. Atualmente, o percussionista tem trabalhado na gravação do seu novo disco Nord, que contará com as participações do arranjador islandês Samuelsson, com quem gravou recentemente, e dos músicos pernambucanos Areia, Juliana Holanda e Gabriel Melo. "O meu primeiro e único álbum, Dia Santo, lançado em 2009, foi recebido muito bem não só aqui no Brasil, como em várias partes do mundo. Acho que, depois de quatro anos, chegou a hora de botar algo novo no mercado. Com Nord pretendo fazer uma aproximação entre a vastidão do gelo, que vi na Islândia, e o sertão", adiantou. Adepto às transmutações e a não-rotulação do seu trabalho, Jam - que também já compôs a trilha sonora dos filmes Um outro Ensaio, Os Narradores de Javé, Só 10 Por cento é Mentira, Express Way e To Hi Too Holla - deu início aos ensaios de um espetáculo de dança que apresentará em julho, no Rio de Janeiro, com a Cia. Angel. "Não faço música de prateleira. Gosto de inovar. E acho que essa diversidade musical é uma coisa que carrego daqui [do Recife]", finalizou o músico que, mesmo morando em outro Estado há tantos anos, não perde o sotaque da nossa terra.

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