Jamais deixe que a sua referência sobre Medellín seja algo como "o lugar onde ocorreu a tragédia da Chapecoense". Ironicamente, a aeronave chocou-se sobre uma região naturalmente adequada pra se ficar do tamanho da paz, com temperatura amena e verde exuberante. Para além da tragédia, e também das histórias de Pablo Escobar, rebobinadas pela série Narcos (Netflix), a 2ª maior cidade colombiana (atrás apenas da capital, Bogotá) tem "material" com que te conquistar.
Pra começar, Medellín (pronuncia-se Medejín) foi erguida a 1,5 mil metros acima do nível do mar, num vale entre montanhas da Cordilheira Central dos Andes colombianos - geolocalização que lhe permite atravessar o ano com temperaturas entre 16ºC e 28ºC, média nos 22ºC. Assim justifica-se a fama de "a cidade da eterna primavera".
Pra completar, é habitada pelo povo que - com afago - ensinou a nós, brasileiros, a sermos, no mínimo, cordiais... "Os habitantes da província de Antioquia [da qual Medellín é capital] criaram um novo patamar de altruísmo e amizade, até então desconhecidos", comentou Mr. Miles, o homem mais viajado do mundo, sobre a postura dos antioquenhos diante da tragédia da Chapecoense. Mr. Miles colocou a cidade colombiana como seu próximo destino.
Os colombianos são, mesmo, increíbles. Têm alegria e calor parecido com o do brasileiro em tempos mais harmoniosos; adoram-nos, gratuitamente, por vizinhos que somos - mesmo estando a gente de costas. Recebem turistas com a receptividade que por anos esteve guardada, quando o país vivia sob a guerra do narcotráfico.
A Colômbia reergueu-se nos últimos anos. Medellín, sobretudo. Palco central dos confrontos entre o governo e o narcotráfico, é hoje uma das cidades mais inovadoras do mundo. O sistema de metrô, que liga as pontas da "cidade da eterna primavera", é exemplo de mobilidade para o Brasil. Aliás, o metrô é um dos "pontos turísticos" de Medellín. É que a cidade - assim como Bogotá - não tem lá muitos lugares caça-turistas. São cidades para se estar. Há que senti-las na geografia e nas pessoas. E, assim, elas encantam.
Há uma publicidade recente que, muito inteligente, tenta reverter o medo de possíveis turistas perante a segurança do país. Lê-se assim: "El riesgo es que te quieras quedar" (em tradução livre, "o risco é você querer ficar"). É real! Cotada como o destino mais em evidência, em 2017, a Colômbia tem cacife humano, natural e material para conquistar muitos viajantes. A gente recomenda colocar no roteiro Bogotá, Zipaquirá, Cartagena... Por ora, damos as dicas do que fazer em Medellín. Confira:
Aproveite pra conhecer a cidade usando o metrô. Como dito acima, o transporte vai do Norte ao Sul de Medellín, combinado com linhas de ônibus e teleféricos, chamados de metrocable.
Na foto acima, o metrô passa numa plataforma ao lado da Plaza Botero, cartão-postal da cidade por abrigar cerca de 20 esculturas de Fernando Botero, artista de Medellín, conhecido internacionalmente pelas figuras humanas e animais obesas.
No entorno da praça estão o Palácio da Cultura Rafael Uribe (acima, ao lado da plataforma - construído em 1925 em estilo gótico, abriga galeria de arte e arquivos histórico e fotográfico da cidade) e o Museu de Antioquia, onde podem ser vistas mais obras de Botero.
O metrocable - espécie de teleférico conjugado ao metrô - faz parte do sistema de transporte público e tem de ser explorado por quem vai a Medellín. Presas a cabos de aço, as cabines levam e trazem moradores de áreas de difícil acesso, as comunas. Nas estações de embarque e desembarque, o visitante pode conhecer projetos sociais que contribuíram para a transformação de Medellín - de cidade superviolenta a cidade-exemplo -, como a biblioteca pública moderna Parque-Espanha.
Escolha a estação que leva ao Parque Ecoturístico Arví. Trata-se de uma reserva de 16 mil hectares, com ar puro e vegetação preservada. Há trilhas guiadas, restaurante... Aproveite a vista durante a ida: após subir toda Medellín (até a estação Santo Domingo), embarca-se novamente para o Parque Arví. O percurso contempla pradarias... um visual que já compensa tudo.
É básico ir ao Pueblito Paisa, no cume do Cerro Nutibara - cerro significa colina. O lugar é uma reprodução de um povoado - por isso, pueblito - típico dos paisas, denominação geo-sócio-antropológica atribuída a quem é natural de Antioquia, onde está Medellín, e outras regiões próximas. Há restaurantes e lojas de suvenires. Apesar do apelo turístico, vale a ida noturna; funciona como um mirante de onde se pode ver Medellín toda iluminada.
Os parques Explora - dedicado às ciências - e Botânico ficam lado a lado e são ótimas opções de passeio aos domingos, quando estão cheios. O movimento, obviamente, tumultua a visita, mas gera no entorno desses espaços uma vivência de rua que se reverte para o visitante como oportunidade pra estreitar os laços com os paisas e a sua cultura. Famílias e grupos ocupam a rua, onde são montadas barracas de suvenires, artesanatos e comidas.
Em se tratando de comida, não saia de Medellín sem experimentar a Bandeja Paisa. O prato típico é, na verdade, um "pratão" formado, geralmente, por feijão, arroz branco, ovo frito, carne moída, torresmo (gigante), morcilha, linguiça, abacate, patacão (tipo de bolinho feito de plátano maduro frito, que parece banana, mas não é nem tem gosto de) e ainda arepa (espécie de pão feito com milho moído).
O bairro El Poblado figura entre as indicações de quem já viajou a Medellín, por ser seguro, provido de tudo - de mercadinhos e restaurantes a bares e boates - com linhas de ônibus e acesso fácil ao metrô, além de parques, onde as pessoas se reúnem, inclusive à noite, pra se exercitar ou conversar e beber; e ainda muito verde. Inclua um córrego de rio cortando o bairro... Há opções variadas de hostels, inclusive do tipo design, a preços que não deixam a viagem salgada. Dizem que é nele onde o ator Wagner Moura - o Pablo Escobar de Narcos - mora quando está gravando a série.