Desde que Donald Glover, sob a alcunha de Childish Gambino, lançou o clipe de This is America, não se fala em outra coisa no mundo musical internacional. O vídeo, carregado de simbologias, retrata a realidade insana onde a violência contra a população negra é perpetuada nos EUA. Em entrevista à Variety, o diretor do audiovisual, Hiro Murai, revelou que o clipe foi influenciado por Mother (2017) e Cidade de Deus (2002), longa nacional reconhecido internacionalmente.
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"A ideia foi fazer vídeo dançante que se passasse nos últimos 20 minutos do filme Mother! ou no universo de Cidade de Deus. No final das contas, era sobre colocar todas as peças no quadro e descobrir o que queríamos enfatizar e qual era o tom que queríamos atingir", explicou Hiro Murai.
Enquanto This is America retrata a violência contra os negros nos EUA, o drama nacional conta a história da Cidade de Deus (uma das comunidades mais violentas do Brasil) através da vida de Zé Pequeno e Buscapé. A inspiração certamente ajudou a construir o tom violento do vídeo.
Uma cena específica (e uma das mais marcantes) do longa que deve ter servido de inspiração é a do motel, quando o "trio ternura" foge após assaltar o estabelecimento e Zé Pequeno - até então chamado de Dadinho - entra e assassina todos enquanto sorri.
This is America começa com o artista dançando e cantando levemente, ao som de um violão comandado por um senhor negro sentado em uma cadeira. Logo depois o mesmo senhor aparece com a cabeça "ensacada" e Childish atira na sua nuca. Nesse momento o clima pesa e ele segue até uma sala onde um coral negro canta alegremente. Lá, pega um fuzil automático e os silencia com uma rajada de disparos. No fim, ele aparece sendo perseguido por uma multidão de brancos.
Assistindo o novo clipe de Childish Gambino fica difícil não associá-lo à forma "alegre" como a população negra é retratada na cultura popular estadunidense e a discrepância para sua situação de fato, onde deve lidar com o medo de atendados tanto de supremacistas brancos quanto do próprio poder público.
O clima de insanidade parece se encaixar perfeitamente em um país que presenciou, no ano passado, a maior marcha de supremacistas brancos dos últimos anos, em Charlottesville. Em agosto, quando antifascistas foram às ruas da pequena cidade protestar contra a marcha fascista, foram atacados por um carro que acelerou contra os manifestantes. Uma mulher de 32 anos morreu. Segundo a New America Foundation, já foram pelo menos 18 ataques racistas que mataram 48 pessoas entre 2002 e 2016.