Talvez 'resistência' seja o melhor e mais clichê termo para descrever a carreira de Fernanda Montenegro. Os mais de 50 anos de trajetória de Fernanda Montenegro são regados a talento e resistência, o que ilustra ainda mais a influência da atriz na cultura brasileira.
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Completando 90 anos nesta quarta-feira (16), a renomada atriz conta com quase o número da sua idade em produções para a TV, além de 30 filmes e a recente publicação do seu livro “Prólogo, Ato, Epílogo” no currículo.
Arlette Pinheiro Esteves da Silva é neta de portugueses e italianos, mas nasceu e se criou no subúrbio carioca dos anos 30. Aos oito anos, subiu ao palco pela primeira vez e pouco tempo depois, já adolescente, adotou o nome ‘Fernanda Montenegro’ de livros como ‘Conde de Montecristo’ e romances franceses.
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Até então, ela trabalha produzindo para um rádio, e foi lá que o que se tornaria um dos nomes mais conhecidos do Brasil ganhou fama. Em uma entrevista ao portal Caras, ela se descreve como alguém que possui duas personalidades. “O velho Shakespeare já tinha razão, somos todos atores. Sei que sou também a dona Arlette. Essa é bem resguardada”, contou.
Os 70 anos de carreira tiveram início nos teatros, em 1950, mas desde antes já sentia o êxtase da atuação. Na sua estreia, aos oito anos, ela conta que se sente levitando. E foi dessa maneira, de certa forma infantil de enxergar as coisas, que Fernanda Montenegro é vista através da sua entrega aos papéis que recebe.
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Foi justamente essa entrega que rendeu a atriz não apenas personagens marcantes, como Nossa Senhora em ‘O Auto da Compadecida’ (2000), mas também indicações em famosas premiações nunca antes atingidas na dramaturgia brasileira. Fernanda Montenegro foi a primeira brasileira a receber o Emmy Internacional pelo papel de Picucha, em ‘Doce de Mãe’, em 2013.
E como esquecer da polêmica do Oscar em 1998? Vinte anos depois da indicação de 'Melhor Atriz' no Oscar, a polêmica ainda não cessou. Isso porque, enquanto Fernanda Montenegro concorreu como a ex-professora Dora em 'Central do Brasil', quem levou a estatueta foi Gwyneth Paltrow, em 'Shakespeare Apaixonado', o que muita gente enxergou ou ainda enxerga como injusto.
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Recentemente, a atriz fez uma participação na novela da Globo, 'A Dona do Pedaço', que durou poucos dias, mas deu o que falar. Isso porque Fernanda Montenegro interpretou a personagem Dulce, matriarca da família Ramirez, que atira contra o noivo da própria neta por conta de uma rixa familiar.
Em 2015, a artista foi alvo de críticas e homofobia por interpretar a advogada Teresa, em 'Babilônia'. A personagem era casada com Estela (Nathalia Timberg) e as duas protagonizaram um beijo que foi alvo de boicote por parte do público.
A resistência através da arte nunca foi um tema distante de Fernanda Montenegro. Em diversas entrevistas, a artista já comentou sobre a repercussão do beijo lésbico, censura, Lei Rouanet e até mesmo o governo Bolsonaro. Com certeza todos esses posicionamentos dariam um livro, mas a atriz preferiu focar nas partes boas da vida em “Prólogo, Ato, Epílogo”, seu novo livro. Na biografia, ela aborda sobre aspectos os quais passaram a maior parte do tempo reservados: sua vida pessoal.
A história da sua família na Europa, os primeiros passos do que seria o seu casamento de 55 anos com o diretor Fernando Torres, falecido em 2008, além da trajetória artística e o eterno estado de ser mãe.
Ao lado de Fernando, a atriz teve dois filhos, Cláudio e Fernanda Torres, ambos atualmente no ramo da dramaturgia, e agora possui três netos. Ela alega que a inspiração para “Prólogo, Ato, Epílogo” foi para que os pequenos conhecessem a história da resistência, um elemento intrínseco tanto à Fernanda Montenegro quanto a Arlette Pinheiro.