As mortes de Tarcísio Meira e Paulo José fazem cair a ficha de que é o fim de uma era da teledramaturgia
Os dois mestres construíram personagens marcantes porque eram profundos no que faziam
As partidas de Tarcísio Meira, nesta quinta-feira (12), aos 85 anos, e de Paulo José, na noite da quarta-feira (11), aos 84, deixam um País em luto. A cultura brasileira resulta, fisicamente, menos fortalecida, com a perda de dois referenciais, que passam a ser pura memória.
Mas, as mortes de Tarcísio Meira e Paulo José são ainda mais simbólicas. Elas fazem cair a ficha de que chega ao fim um era da teledramaturgia. A teledramaturgia que eles próprios ajudaram a consolidar como o sucesso estrondoso que foi e que, na TV Globo, já soma cerca de 55 anos de história.
Tarcísio Meira e Paulo José são de um tempo em que os atores eram amados e admirados por todo o País - e não o contrário, odiados como hoje são por certa perversidade e inversão. Eles ofereciam aos brasileiros aquilo que tão bem souberam fazer - antes de vender algum produto, que não a própria imagem e o próprio talento, foram trabalhadores da cultura. Fomentaram a cultura brasileira, que é a alma do povo brasileiro. O que é que define uma nação senão a própria cultura, sua alma?
Os dois mestres construíram personagens marcantes porque eram profundos no que faziam. Antes da fama havia o estudo. Partiam do teatro - da formação nos textos de grandes dramaturgos que refletiram, em suas peças, os dilemas e as brechas mil de se ser humano e viver em sociedade - quer fosse para seus personagens no próprio teatro, ou para o cinema, ou para a TV.
Famílias de artistas
Também são atores que, vivendo nas coxias de teatro, nos estúdios da Globo e nos sets de filmagens, geraram uma descendência nutrida do mesmo alimento.
Tarcísio Meira, no seu casamento de 59 anos com a atriz Glória Menezes, 86, que segue internada também por causa da covid-19, deixa Tarcísio Filho, chamado pelos colegas de Tarcisinho como sua descendência não apenas genética, mas artística.
Paulo José, que formou um dos casais conhecidos da televisão brasileira, quando casado com a atriz Dina Sfat, falecida em 1989, também deixa mais do que herdeiros de sangue. Os dois tiveram três filhas, as atrizes Ana Kutner e Bel Kutner (no ar como Celestina, na novela das seis da Globo, "Nos Tempos do Imperador"), e a diretora Clara Kutner; além do editor Paulo Caruso, do casamento com a atriz Bethy Caruso.
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A atriz Fernanda Torres, filha da atriz Fernanda Montenegro e do ator e diretor Fernando Torres, falecido em 2008, comentando sobre as mortes de Tarcísio Meira e Paulo José, disse que, igual os filhos deles, ela era também "filha de circo"; ou seja, dos palcos. De família de artistas, como foram também a de Paulo Goulart, falecido em 2014, e Nicette Bruno, vítima da covid-19 em dezembro do ano passado; e como é a de Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça.
Novos tempos
Esses que partiram, sepultando referenciais tão poderosos, nos fazem concluir de uma vez por todas que, nos últimos anos, vivemos o fim de uma era na televisão - a das telenovelas e minisséries como se consolidaram e conhecemos: quando o drama era sempre maior do que o entretenimento. Trata-se do tempo e de sua obra.
A propósito, o site Na Telinha publicou, recentemente, que José Luiz Villamarim, novo diretor de Teledramaturgia da Globo, e Ricardo Waddington, novo diretor de Entretenimento, pretendem fazer uma revolução na dramaturgia da emissora nos próximos anos. Vamos aguardar, sem perder no fio da história os que abriram esse caminho.