True crime

MENINA SEM NOME: crime, tragédia, mistério e devoção na história do túmulo mais visitado do Recife

Série de vídeos do canal JC Play conta a história por trás do túmulo mais famoso do Recife: o da Menina sem Nome, a quem devotos atribuem milagres

Cadastrado por

Maria Luiza Borges

Publicado em 02/11/2022 às 9:08 | Atualizado em 10/08/2023 às 10:52
O canal JC Play preparou uma série de vídeos sobre a Menina Sem Nome, um dos túmulos mais famosos do Recife - Reprodução/JC Play

No maior cemitério do Recife, um túmulo cercado de mistérios recebe visitantes o ano inteiro. No histórico Cemitério de Santo Amaro, área central da capital pernambucana, o local está sempre limpo, arrumado, cheio de velas e brinquedos.

Ali jaz a Menina sem Nome, uma criança achada morta de forma brutal na Praia do Pina, Zona Sul da cidade. Estava amarrada, parecia ter sido violentada, mas um laudo constatou que ainda era virgem. Aparentava ter apenas 8 anos de idade. 

Ninguém jamais soube seu nome. E apesar de um homem ter sido preso pelo crime, ele morreu sem ser condenado.

No Dia de Finados, celebrado em 2 de novembro, o túmulo da Menina sem Nome é sempre o local mais visitado no Cemitério de Santo Amaro. Ex-votos (objetos que simbolizam uma graça recebida) confirmam a fama de "milagreira" que os pernambucanos atribuem à garota.

Série de vídeos conta a história da Menina sem Nome

Uma série de vídeos produzidos pelo canal JC Play no Youtube reconta essa história - do crime à devoção. Foram entrevistados pesquisadores, devotos, revisitados os arquivos do Instituto de Medicina Legal (IML), para trazer luz a um dos maiores mistérios da cidade.

Episódio 1: A história do túmulo da Menina sem Nome

Episódio 2: O que aconteceu com a Menina sem Nome? História de um crime brutal (vídeo com imagens fortes)

Episódio 3: Como era o Recife na época da Menina sem Nome?

Episódio 4: Quem matou a Menina sem Nome? 

História: Quem foi a Menina sem Nome?

Quem foi a menina que desperta tantos sentimentos nos recifenses no Dia de Finados? A crônica policial da época desse "true crime" conta que a garota foi encontrada morta na manhã do dia 23 de junho de 1970, na Praia do Pina;

Estava com as mãos amarradas para trás e sem roupas. No pescoço também havia uma outra corda. O caso teve grande repercussão à época, mobilizando a polícia na busca do assassino.

Nos anos seguintes ao assassinato, boatos diziam que ela havia sido violentada e jogada, com as mãos atadas, na areia da praia. Também se falava de afogamento.

Imagens da Menina sem Nome

No entanto, o ofício de remoção de corpos número 891, de 1970, assinado pelo delegado Josenaldo Galvão, informa que, na manhã do dia 23 de junho, foi encontrada na Praia do Pina uma garota de cor parda, aparentando 8 anos. Estava com as mãos amarradas por trás do corpo e com um laço no pescoço.

O laudo do IML traz várias fotos da vítima, que foram reveladas ao público pelo Jornal do Commercio em reportagem de 2015. Foram as primeiras a vir a público desde o trágico caso. As imagens dão rosto à Menina sem Nome e a mostram ainda amarrada, sobre a mesa da perícia. Os detalhes das marcas no pescoço e na face também aparecem.

Qual a causa da morte da Menina sem Nome? Ela foi violentada?

Segundo o documento da perícia, às 14h do dia 23 de junho foi realizada a necropsia, na sede do Instituto de Medicina Legal.

O laudo ajuda a elucidar parte do mistério: ela não foi estuprada nem morreu por afogamento. A causa da morte, de acordo com o perito Nivaldo Ribeiro, que assina o laudo, foi asfixia por sufocação. “A asfixia foi produzida por meio misto, constricção incompleta do laço no pescoço e aspiração de grãos de areia”, diz o texto. Um indicativo de que ela foi amarrada e sufocada com a face na areia da praia.

A morte ocorreu entre 20h e 21h do dia anterior ao que ela foi encontrada. “A vítima não apresentava lesões de defesa”, prossegue o perito, o que demonstra que ela foi amarrada antes de ser morta. O documento descarta a tese de abuso sexual. O hímen da garota estava intacto e não havia lacerações no ânus.

Há fotografias do exame sexológico realizado pelos peritos do IML. Foram encontradas três lesões superficiais na face e no tórax, feitas, de acordo com o perito, “para torturar ou atemorizar a vítima”.

Havia, no estômago da garota, alimentos ainda não digeridos, como feijão e farinha de mandioca, indicando que ela teria se alimentado pouco tempo antes de ser atacada.

Por fim, o legista explica que “houve um lapso de tempo de sobrevida entre a constricção do pescoço pelo laço e a morte, possibilitando a remoção do corpo para o local onde foi encontrado”.

O corpo ficou duas horas exposto no IML, no Recife, à espera de alguém que o identificasse. Apesar dos muitos curiosos que estiveram no local, ninguém reclamou o corpo ou disse conhecer quem fora a garota. O sepultamento ocorreu duas semanas após o crime.

A garota foi encontrada morta na manhã do dia 23 de junho de 1970, na Praia do Pina, Zona Sul da cidade - Foto: Arquivo/JC Imagem

Quem era o suspeito de matar a Menina sem Nome?

O cadáver da Menina sem Nome foi encontrado pelo vendedor Arlindo José da Silva, conhecido como Galego, e por uma criança que fazia serviços para ele, o garoto Osvaldo Ulisses do Nascimento, de 11 anos.

Arlindo chegou a ser preso como suspeito do crime, pois a polícia encontrou em sua casa, dois dias depois, uma calça suja de sangue. Arlindo também foi incriminado pelo depoimento de Osvaldo, que afirmou tê-lo visto com cordas no dia anterior ao crime, e que ele teria comentado que “procurava uma mulher para passar a noite”.

Arlindo foi solto menos de uma semana depois do crime, quando os policiais prenderam o mecânico Geraldo Magno de Oliveira, 22 anos. Ele confessou o assassinato da garota. Em seu depoimento, Magno conta que sempre via a menina perambular sozinha pelo Pina, e que teria lhe oferecido a quantia de 5 cruzeiros para que ela passasse a noite com ele.

O assassinato, segundo o mecânico, ocorreu porque ela o teria chamado de “vigarista” e “velhaco” por não ter entregue o dinheiro, como havia sido combinado. O mecânico se disse arrependido de ter cometido o crime e falou que preferia morrer a ficar conhecido como assassino de uma criança.

O que diz o juiz do caso da Menina sem Nome?

Ainda em 1970, durante a primeira audiência com o então juiz Nildo Nery dos Santos – que chegou à presidência do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) em 2000 – Magno negou a autoria do crime e deu depoimentos contraditórios, alegando inclusive ter sido vítima de coação e tortura por parte dos policiais.

O desembargador aposentado e ex-presidente do TJPE morreu aos 84 anos. Ele lutava contra um quadro de debilidade dos órgãos decorrente da idade - Foto: Reprodução/TJPE

Anos depois, o desembargador aposentado Nildo Nery afirmou ao JC não ter dúvidas de ter sido Geraldo Magno o verdadeiro assassino na Menina sem Nome. “Lembro como se fosse hoje do dia em que ele confessou, com detalhes, o crime. Pela riqueza de informações, tudo remetia a ele”, completa. Nildo Nery

Geraldo Magno foi assassinado na prisão, na Ilha de Itamaracá, Região Metropolitana do Recife, antes de ser julgado.

Mistérios que cercam a história da Menina sem Nome

Ou seja, vão ficar para a história duas grandes lacunas no caso: uma é o fato de o réu confesso não ter chegado a receber a sentença da Justiça e, portanto, não ter cumprido a pena pelo assassinato. A outra: a identidade da menina, que continua sem nome. Nenhum familiar apareceu. Ninguém dizia conhecer a garota de 8 anos brutalmente assassinada no Recife.

Ao longo de décadas, o túmulo virou lugar de romaria de devotos que lhe atribuem milagres. O local está sempre pintura nova, cheio de flores frescas, brinquedos e ex-votos. 

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A Menina sem Nome: Série de vídeos

No Dia de Finados de 2022, a equipe de Mídias Sociais do Sistema Jornal do Commercio lançou uma série de quatro vídeos resgatando a história por trás do crime e da devoção à Menina sem Nome. 

Confira a ficha técnica da produção:

Assista aos vídeos da série e outras produções sobre a Menina sem Nome publicadas pelo Jornal do Commercio aqui.

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