Patrimônio

Casarão do século 19 está se arruinando às margens do Capibaribe

Destelhado, sem piso e sem portas, o casarão encontra-se escondido pelo mato, no bairro do Cordeiro, no Recife

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 25/09/2016 às 8:08
Foto: André Nery/ JC Imagem
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Um casarão possivelmente construído no século 19, no Cordeiro, bairro da Zona Oeste do Recife, está se arruinando sem ninguém para reivindicar sua paternidade. A edificação de dois pavimentos fica entre o Rio Capibaribe e a Avenida Maurício de Nassau, por trás do Parque de Exposições de Animais. Sem uso há anos, corre o risco de ser tragada por árvores e pelo mato.

“É uma pena tudo se acabar desse jeito”, lamenta o corretor de imóveis Milton Tenório, 54 anos, que morou no sobrado de 1972 a 1978, ao visitar o local segunda-feira passada. “Na cheia do Capibaribe, de 1975, seis famílias ficaram abrigadas aqui por três dias”, recorda. A casa, diz, servia de residência para médicos veterinários que trabalhavam para o Parque de Exposições, como o pai dele.

Foto: André Nery/ JC Imagem
Casarão, possivelmente do século 19, está se arruinando no bairro do Cordeiro, no Recife - Foto: André Nery/ JC Imagem
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Imóvel era usado como residência de médicos veterinários que atuavam na Exposição de Animais - Foto: André Nery/ JC Imagem
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A edificação, de dois pavimentos, fica entre a Avenida Maurício de Nassau e o Rio Capibaribe - Foto: André Nery/ JC Imagem
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Destelhado, sem portas e sem janelas, o casarão está sendo tragado pelo mato, no bairro do Cordeiro - Foto: André Nery/ JC Imagem
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Casarão, possivelmente do século 19, está se arruinando no bairro do Cordeiro, no Recife - Foto: André Nery/ JC Imagem
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A casa fica a 50 metros das margens do Rio Capibaribe, por trás do Parque de Exposições do Cordeiro - Foto: André Nery/ JC Imagem

 

De acordo com Milton Tenório, o sobrado tinha três salas, dois quartos, uma cozinha e um banheiro no primeiro piso, além de cinco quartos e um banheiro no andar superior. Agora, quase não se percebe as divisões internas. A casa encontra-se destelhada, sem portas, sem o piso de assoalho e com janelas quebradas. Árvores cresceram dentro da edificação e há janelas cobertas por ramos de plantas.

Antes da abertura da Avenida Maurício de Nassau, em 2004, a edificação ficava no terreno do Parque de Exposições do Cordeiro e era vinculada ao governo do Estado. Com a nova via, o sítio foi seccionado, separando o casarão das dependências do parque. A Secretaria Estadual de Agricultura informa que, em 2009, o governo repassou para o Instituto do Fígado de Pernambuco uma área de 3,5 hectares e nela encontra-se o velho sobrado.

O Instituto do Fígado afirma que o casarão antigo não é de sua responsabilidade, pois não está incluído na cessão do terreno. “Com a paralela da Caxangá, a casa ficou abandonada e isolada”, destaca Milton Tenório. Antes da mudança no sistema viário, a rua passava na frente do sobrado e o caminho era demarcado por uma aleia de palmeiras, que ainda existem.

Milton sugere que o imóvel seja restaurado e transformado num centro cultural com atividades para os jovens do bairro. “As crianças precisam aprender desde cedo a respeitar o patrimônio histórico. E o centro pode oferecer oportunidade de trabalho para os adolescentes da comunidade.” Ele acrescenta que a moradia era abastecida por uma cacimba enorme. “Infelizmente, foi aterrada”, constata.

MUSEU

Na avaliação do arquiteto José Luiz Mota Menezes, presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, o sobrado merece ser restaurado e preservado, antes que desabe completamente. “A casa tem uma solução arquitetônica muito boa e diferente”, observa José Luiz, destacando as escadas de pedra que dão acesso às portas, uma na fachada principal e outro no oitão do imóvel.

Décadas atrás, o arquiteto projetou, para o Centro de Astronomia de Pernambuco, um museu em homenagem ao naturalista e astrônomo George Marcgrave, nesse terreno, incluindo a restauração do casarão. “A proposta não seguiu adiante”, diz José Luiz. O alemão Marcgrave (1610-1648) viveu no Recife durante o governo de Maurício de Nassau (1637-1644). Aqui, ele fez observações astronômicas modernas e estudos científicos.

A casa do Cordeiro, com paredes rachadas e pichadas, é cercada por pés de pau-brasil e tamarindo, entre outras árvores. Detalhes da decoração ainda resistem nas fachadas. “Havia umas bolas decorando as quatro extremidades da coberta. Saquearam tudo”, diz Milton Tenório. A edificação está a 50 metros do Capibaribe.

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