Foram exatos quatro anos para que a Prefeitura do Recife conseguisse realocar os ambulantes que trabalhavam pelas ruas e calçadas do entorno do Mercado de Afogados, na Zona Oeste da capital, mas finalmente a mobilidade da área ganhou novo fôlego. Com a inauguração da Feira Nova de Afogados – entre as Ruas General Christóvam Colombo de Souza e João Carlos Guimarães – os 125 feirantes que ocupavam a Rua do Acre foram transferidos para o local, que tem 3,6 mil metros quadrados de área, com coberta, banheiros, quiosques padronizados, água e iluminação, bem diferente do ambiente em que viviam.
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Com a remoção dos ambulantes, a Rua do Acre voltou a ter tráfego no sentido Estrada dos Remédios-Rua Nicolau Pereira. As calçadas foram devolvidas aos pedestres, que também ganharam uma passagem no terreno do Banco Itaú, ligando o Largo da Paz e a Rua General Christóvam Colombo de Souza. A Rua do Acre estava totalmente ocupada há quatro anos, quando a prefeitura optou por centralizar nela os ambulantes que se espalhavam pela Estrada dos Remédios, enquanto construía o pátio.
O projeto inicial previa transferir ainda os 308 trabalhadores do velho pátio, na Estrada dos Remédios, para a Feira Nova, a fim de reformá-lo. Mas os R$ 4,5 milhões que viriam do governo federal não chegaram e os comerciantes se recusaram a sair do local, que está com a coberta e o piso bastante degradados. Por isso, dos 567 boxes e bancas previstos, o espaço foi inaugurado com 350, estando muitos ainda fechados.
“Para mim, está ótimo, tudo organizado, limpo, livre de sol e chuva. Só fiquei com menos espaço, pois tinha três bancas e passei para duas”, diz o feirante Inaldo de Araújo, 42 anos. Paulo Goes, 79, conserta relógios e óculos e ganhou um dos boxes de serviços. “Tiraram a gente de um mocambo e botaram em um apartamento de primeira. Estou muito satisfeito com a nova estrutura.”
A vendedora Tupiara Gonçalves, 30, cliente antiga, diz que, embora a feira esteja mais distante, vai continuar frequentando o espaço. “Venho toda semana do Ibura. Prefiro aqui ao o pátio antigo, lá é meio sujo”, compara.
OPINIÔES SE DIVIDEM
Mas alguns reprovaram a mudança. “Eu apurava R$ 1 mil por dia na rua e hoje só chego a R$ 40, ninguém entra aqui”, protesta Cenilda Maria da Silva, 51, que já colocou um carro de mão na calçada da feira para vender macaxeira. “Meu movimento caiu 80%”, reforça Renildo Lourenço. “Prometeram panfletar e nada. Limpeza do banheiro e segurança estão por nossa conta e nossas bancas estão pequenas”, critica Draitiane Vital, 31.
Os trabalhadores também reclamam porque o local tem recebido ambulantes de outros bairros, enquanto cadastrados ficaram para trás. “Fiz meu cadastro e não me chamaram, mas tem gente pegando as barracas para vender”, denuncia Jocélia Oliveira da Silva, 38. Valéria Barros, 41, saiu do Cais de Santa Rita para o local e elogia o espaço. “Só faltam as mesas e cadeiras prometidas para a praça da alimentação”, observa.
Muitos também consideram que duas feiras no bairro geram concorrência. Proprietária de bancas no antigo pátio, Luciene Bezerra, 42, conta que os comerciantes acionaram a Justiça para não deixar o local, apesar das péssimas condições do espaço. “Não havia previsão para reforma, do que adiantaria a gente sair? Aqui a gente tem estabilidade, clientela fixa, mais movimento. Agora, precisamos de pelo menos reformar a coberta. O piso enche de água quando chove. Mas é melhor do que ir para a feira nova”. Esta é a terceira feira inaugurada, depois das de Nova Descoberta e Água Fria, ambas na Zona Norte.
ORDENAMENTO CONTINUA
O secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, afirma que o funcionamento da Nova Feira de Afogados ainda passa por ajustes, como também a infraestrutura do entorno. A recuperação de calçadas, serviços de drenagem e esgotamento estão nos planos, além da instalação de estacionamento Zona Azul.
“Todas as ações que fizemos para melhorar a mobilidade no entorno de mercados, como os de Água Fria e Beberibe, tiveram uma resistência inicial, mas tudo se organizou”, declara o gestor. “Agora não vamos permitir o retorno de ambulantes às ruas e calçadas de Afogados. Fizemos um grande esforço para recuperar a mobilidade, um investimento de R$ 6 milhões, e, por enquanto, os fiscais atuam de forma pedagógica, mas depois vão começar a apreender os produtos. Se não der para alguém, não deu”, avisa.
Segundo Braga, as bancas vagas deverão ser repassadas para ambulantes de outras áreas, mas ninguém do bairro que esteja cadastrado ficará de fora. “Deixamos uma folga para resolver problemas de outros lugares. Mas não cometeremos injustiça, tudo está sendo acompanhado por um conselho da comunidade”, observa.
O secretário garante que a divulgação do novo espaço está sendo feita. “Temos utilizado carro de som diariamente. No Carnaval, houve orquestra todos os dias”. E prevê que até o próximo mês haverá aquisição de mesas e cadeiras para a praça de alimentação.
Braga também informa que os comerciantes deverão pagar uma taxa de manutenção do espaço, quando ele estiver consolidado, mas assegura que, por enquanto, a prefeitura dará apoio nos serviços de limpeza e vigilância.
Quanto ao antigo pátio, ele diz não ter previsão para reforma. “Não há recursos agora. Nossa prioridade é a mobilidade no Centro do Recife”, adianta.