Em uma semana, três motoristas de Uber foram assassinados no Grande Recife. O último caso foi na tarde desta sexta-feira (10), quando Michael Renan Duarte Brito, 28 anos, acabou morto durante corrida na ladeira da UR-01, no bairro do Ibura, Zona Sul da capital. O primeiro homicídio de um condutor do aplicativo aconteceu no último sábado, no bairro da Mangueira, Zona Oeste, onde o motorista Rodrigo Paudarco Bahia, 32 anos, levou 12 tiros. Já o segundo foi registrado na quinta-feira, no bairro de Águas Compridas, em Olinda. Nos três crimes, o alvo era o passageiro que estava no carro e não o motorista, segundo a polícia.
Leia Também
- Motorista do Uber é assassinado com vários tiros na Mangueira
- Motorista de Uber é morto durante investida contra ex-detento em Olinda
- Motorista de Uber é morto a tiros e passageiro fica ferido no Ibura
- Motorista de Uber morto no Ibura transportava um ex-presidiário
- 'Ele trabalhava de dia para não correr perigo', diz irmão de motorista da Uber
- Motoristas de Uber querem mais segurança para trabalhar
- Uber poderá pedir RG, CPF e comprovante de residência a passageiro
Segundo informações, no caso desta sexta (19), o condutor levava um usuário do aplicativo quando dois homens em uma moto efetuaram vários disparos contra o veículo pelo lado do passageiro. O motorista foi atingido por um tiro no pulmão e morreu na hora. Já o rapaz que também estava no carro, identificado como José Maurílio Queiroz Henrique, 32 anos, acabou ferido mas conseguiu ser socorrido após andar até a Policlínica Professor Arnaldo Marques, próximo ao local do crime. Ele foi encaminhado ao Hospital da Restauração, e seu estado era grave até a noite de ontem. José Maurílio é ex-presidiário e já respondeu pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio e tráfico de drogas.
Um grupo de motoristas do Uber chegou ao local do crime. Tiago Almeida, amigo de infância de Michael Renan e também motorista do aplicativo, reclamou da falta de segurança proporcionada pelo serviço. “O aplicativo é inseguro, qualquer pessoa entra nele, não há nenhuma investigação sobre quem vai dirigir”, reclamou. Ao falar sobre o amigo, Tiago se emocionou. “Era criado na igreja, corretor de seguros, um cara do bem mesmo. Não merecia isso”, desabafou.
Felipe Silva, que também é motorista do Uber e fazia parte do grupo de motoristas que apareceu no local do crime, afirmou que pretende deixar o serviço após a onda de mortes. “É revoltante. O Estado tá em calamidade pública, não tem segurança. Hoje foi um parceiro, amanhã pode ser eu. Hoje é meu último dia como Uber”, confessou. O condutor também reclamou da negligência da empresa. “Logo após a primeira morte, nós fomos na Uber pedindo mais segurança, e tudo o que eles dizem é que a responsabilidade é do Estado.”
Para o delegado Diego Aciolly, que ficará responsável pelas investigações, os crimes não são contra o aplicativo ou seus motoristas. “Os casos não necessariamente têm a ver com a Uber, porque os alvos nos crimes anteriores foram passageiros e neste caso também, então não se pode dizer que são investidas contra a empresa”, explicou. O delegado também afirmou que a linha de investigação irá seguir a teoria de que o alvo era José Maurílio, já que Michael não tinha antecedentes criminais. No aplicativo, o motorista estava registrado como Josué, o que causou estranheza na Polícia. “Iremos investigar o porquê de não ter o nome real dele no registro do aplicativo”, afirmou Aciolly.
No fim da tarde, a Uber divulgou uma nota de pesar, afirmando que os dirigentes estão “arrasados com crimes tão terríveis” e prometendo colaborar com as autoridades na investigação dos três homicídios e na prisão dos criminosos.
Motorista da Uber é sepultado
Dezenas de pessoas, maioria motoristas do Uber, estiveram presentes no velório e sepultamento do corpo de Daniel, na tarde de hoje, no Cemitério de Santo Amaro. Para a família, o momento ainda é de uma dor irreparável, principalmente por acreditar que o filho foi morto durante um crime do qual não tinha nada a ver. "Ele trabalhava de dia para não correr perigo. E olha só no que deu. O perigo veio até ele", garantiu o irmão Rafael. Também motorista da mesma empresa, o homem desistiu de trabalhar após o assassinato.
'Ele trabalhava de dia para não correr perigo', diz irmão de motorista da Uber https://t.co/0XlaxnvWV3 pic.twitter.com/OYzkQgQzpi
— Jornal do Commercio (@jc_pe) March 10, 2017
Passageiro poderá ceder mais dados pessoais
O passageiro poderá ter que ceder, além do CPF, identidade e comprovante de residência para poder andar de Uber. Essa foi uma das possibilidades de segurança apresentadas na reunião com motoristas parceiro e dois representantes da empresa ocorrida na tarde desta sexta-feira (10), no escritório localizado em Santo Amaro, Centro do Recife. A possibilidade surgiu após a morte do terceiro motorista no Grande Recife, nesta sexta-feira (10).
Dentre as outras possibilidades anunciadas para evitar colocar em risco a vida do motorista, há também o mapeamento de áreas de risco pela cidade. Assim, o motorista poderá recusar/cancelar a corrida sem sofrer penalidades - como já acontece no Rio de Janeiro. Estes expedientes foram propostos após uma passeata orquestrada por inúmeros motoristas nesta mesma sexta, que saiu do Centro de Convenções, em Olinda, passou pelo Cemitério de Santo Amaro e encerrou na frente do escritório da empresa, bloqueando parte da Rua Capitão Lima. "A gente só quer que haja segurança", conta Gilmar Rodrigues, 39, de um grupo ligado aos parceiros do serviço.