Apesar da tragédia, o professor Sérgio Costa, marido de Luisiana Costa, falou com serenidade sobre a investida dos bandidos ao Geap. Disse não querer culpar ninguém e afirmou não saber se o policial que reagiu foi o cabo Alexandro Melo, morto pelos bandidos.
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ABORDAGEM
Toda quarta-feira eu a deixava no Geap às 18h30 e às 20h50 ia buscá-la. No dia do fato, cheguei e fiquei conversando, do lado de fora, com o guardador de carros e o vendedor de pipocas, que são pessoas muito antigas no local e que eu conheço desde que meus filhos eram pequenos. Foi quando surgiram quatro homens armados, agressivos, inquietos, que colocaram armas em nossas cabeças e saíram nos levando para dentro. Eles perguntavam “o que é isso aí?”, eu disse que era um local onde as pessoas estavam rezando. Era como se eles não soubessem o que era, como se tivessem visto muitos carros e, então, resolvido entrar.
ENTRADA
Eles então nos levaram ao salão onde estava acontecendo a palestra (do psicólogo Liszt Rangel). Eu fui o primeiro a entrar, sempre com a arma apontada para minha cabeça. Gritavam que era um assalto e que, se alguém reagisse, eles iriam me matar. Minha esposa estava vendo tudo, coitada. Na hora, Liszt teve muito equilíbrio, pediu para todos se acalmarem. Num certo momento, o bandido que apontava a arma para mim viu muitos celulares e carteiras. Pediu para um dos assistentes da palestra para que tirasse uma camisa e usasse como bolsa para colocar o material do roubo. Nesse momento, ele me soltou e baixou a cabeça. Outro bandido fez a mesma coisa. Nessa hora eu vi alguém se levantar da plateia, sacar uma arma e atirar em um dos assaltantes.
TIROTEIO
Foi aí que começou o tiroteio. Eu comecei a procurar minha esposa. Ela estava na plateia e, quando a encontrei, ela já tinha sido atingida e estava morrendo. Ainda deu tempo de chamar meu filho e, pouco depois, ela morreu nos nossos braços. Mas morreu em paz. Ela ainda conseguiu pegar o último livro espírita que estava lendo, marcou a página 41 e me entregou, dizendo que a morte não existia, pois aquilo era uma passagem. Disse que a vida continua, que sempre será vida.
CULPADOS?
Não vamos culpar ninguém. O policial que reagiu não teve má intenção. Ele só queria ajudar, mas nem sempre o impulso é racional. Não o culpo, até porque ele também tem familiares que neste momento estão chorando sua perda. Não vou culpar a polícia, não vou culpar o governo, isso são mazelas sociais que existem em todo universo. Cabe a nós que ficamos cuidar de melhorar o mundo e fazer o bem.
OUTRO POLICIAL
]Não vi o segundo policial, mas também não sei se o que reagiu era o que morreu. Tomei conhecimento dessa teoria apenas pelos jornais. O que sei é que subiram quatro conosco e depois vimos mais três, que estariam dando cobertura do lado de fora, entrando. A certeza é que os quatro que chegaram não sabiam o que funcionava no local. Passaram por ali e viram a oportunidade de assaltar muitas pessoas ao mesmo tempo.
PERFIL
Minha esposa era uma pessoa fantástica. Foram 39 anos de companheirismo. Ela cuidou de mim a vida toda. Eu me preparei para deixá-la bem, mas não esperava que ela me deixasse dessa forma. Era uma mãe fantástica. Ela criou nossos filhos, pois eu dava aulas pela manhã, à tarde e à noite, não tinha tempo. Todo espírito evoluído, quando encarna, é em silêncio. E quando desencarna, cria um barulho. Ela foi manchete nacional.
FUTURO
Não vamos deixar de frequentar o centro. Já combinamos uma palestra de Frederico Menezes, um orador espírita que ela adorava. Vai acontecer no próprio Geap, e eu vou fazer a prece inicial. Vocês (imprensa) estão convidados. Minha esposa morreu como uma guerreira e vai deixar muitas saudades.