Até domingo, 16 de julho, milhares de fiéis devem visitar a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, localizada no bairro de Santo Antônio, área central da capital pernambucana, para prestar homenagens à padroeira do Recife. O que a maioria não sabe é que, além das festividades, há muito o que prestigiar. A Basílica do Carmo, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1938, reúne um acervo de obras religiosas que datam do século 18 e possuem valor inestimável.
A construção teve início em 1665 nas ruínas do antigo Palácio da Boa Vista, erguido por Maurício de Nassau, mas só foi concluída quase cem anos depois, em 1767. Tanto a igreja quanto o convento carmelita agregado são expressões do barroco português do século 18. A fachada é embelezada por arabescos e uma torre de 50 metros. Do lado de fora, é possível contemplar as imagens, em pedra, da Virgem do Carmo e dos santos Elias e Eliseu, iniciadores da ordem carmelita.
O interior conta com nove altares, sendo quatro laterais e um central, a capela-mor. “Em 1980, o altar principal, que também segue o estilo barroco, passou por modificações. O trono de madeira foi substituído por outro de gesso. Hoje, a estrutura policromada é formada pelas imagens da santa, de São Elias e São Eliseu. Os outros altares são trabalhados no dourado pleno, na mistura entre dourado e branco e também no policromado”, explica o engenheiro civil e professor de arquitetura, Frederico Almeida. A imagem original da capela, que data do século 18, ainda pode ser observada na sacristia da Basílica do Carmo.
No templo, elevado à condição de basílica em 1922, é possível admirar uma estátua de Nossa Senhora das Dores, também esculpida no século 18. “Esse tipo de imagem recebe o nome de santo de roca. Cabeça e corpo são entalhados em madeira. Os braços são articulados e os cabelos, naturais, doados por fiéis, assim como as vestimentas”, detalha o engenheiro.
Leia Também
A riqueza do patrimônio está estampada nas paredes e no piso da Basílica do Carmo. Azulejos portugueses, instalados por volta de 1750, resistem aos desgastes do tempo e contam, em azul e branco, a história de Jesus Cristo. O piso, do século 19, é um exemplar dos primeiros ladrilhos cimentícios, provavelmente de origem belga, de acordo com Almeida. “São os mais rebuscados e resistentes”, destaca.
CONSERVAÇÃO
O teto do templo é uma obra de arte à parte, descoberta durante uma reforma realizada nos anos 1970. Trata-se de um forro em madeira perspectivado com a imagem de São Elias, patrono da ordem Carmelita, sendo levado ao céu por uma carruagem de fogo, em referência a uma passagem bíblica do Antigo Testamento. “Em 1908, quando os frades alemães chegaram à basílica, outra pintura foi feita por cima. A original acabou sendo revelada sem querer durante um restauro muito tempo depois”, explica o especialista. A cobertura criada no início do século passado danificou parte da pintura original e, por isso, o teto precisa de restauração.
Cuidar do tesouro não é trabalho fácil. “Existem substâncias próprias para manter os altares, indicadas pelo Iphan. Alguns produtos, como óleos minerais, são proibidos. Tudo é feito com muito cuidado e apreço. A arte requer uma transmissão de zelo, carinho, e, se não fosse assim, não existiria a espiritualidade”, defende o frei Flávio Souza.
O especialista, professor de arquitetura da Faculdade Maurício de Nassau, elogia o estado de conservação da Basílica do Carmo. “Para mim, os carmelitas são os melhores cuidadores de seus bens.”
Em 2014, o altar da Sagrada Família recebeu intervenções. No ano seguinte, foi a vez do altar de Nossa Senhora da Conceição, seguido pelo de Nossa Senhora da Luz. Agora, a ideia é arrecadar R$ 350 mil durante os dias de Festa do Carmo para restaurar o altar dedicado a Nossa Senhora da Glória.