Um beijo em um bar fez com que Adelmo fosse espancado por cinco pessoas. Para Marlon, bastou andar de mãos dadas com outro homem para ser ameaçado de morte com uma arma. Os relatos que causam revolta fazem parte da rotina de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. No Brasil, a intolerância tirou 445 vidas em 2017, de acordo com levantamento realizado há quase quatro décadas pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). Somente em Pernambuco, são 27 mortes por homofobia. Celebrado nesta quinta-feira (17) em todo o mundo, o Dia Internacional de Combate à LGBTfobia tem como objetivo trazer a violência para o centro do debate. No Recife, a data é marcada por protestos.
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O bailarino Adelmo do Vale, 27 anos, demorou três meses para se recuperar das agressões, sofridas no Centro do Recife, em 2016. “Me bateram muito. Quebraram um dente meu e tive uma fissura na coluna. No dia seguinte, não conseguia nem andar. Foram 15 dias totalmente de cama e três meses sem conseguir trabalhar. Foi um período terrível. Tinha medo de sair de casa”, lembra. Mas o episódio o tornou mais forte. “É uma violência diária. Preciso continuar levando minha mensagem para as pessoas.”
O publicitário Marlon Parente, 25, também fez da violência revolução. Em 2015, estava de mãos dadas com outro homem em meio a um grupo de amigos andando pela Avenida Agamenon Magalhães, quando foi abordado por uma pessoa em uma moto. “Ele sacou uma arma e ameaçou nos matar, porque a gente era ‘bicha’.” Apesar de abalado, Marlon resolveu transformar o significado da palavra. “Pensei em fazer um material para que as pessoas não se sentissem ofendidas quando fossem chamadas assim.” Nascia o documentário “Bichas”, reconhecido e premiado em todo o País. Entre os planos para o futuro está um novo projeto audiovisual sobre o tema.
A luta, para eles, está longe de ter um fim. Esse é o sentimento que leva, nesta quinta-feira, às ruas da capital representantes de 23 entidades que militam pelos direitos do segmento. O ato “LGBTFobia dói, machuca e mata!” acontece a partir das 14h em frente à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). De lá, os manifestantes seguem para o Palácio do Campo das Princesas, para entregar ao governador Paulo Câmara uma carta de reivindicações. “Pernambuco está entre os estados mais violentos do Nordeste para os LGBTs. Precisamos de políticas efetivas”, cobra a coordenadora do Fórum LGBT estadual, Choppelly Santos.
PODER PÚBLICO
Uma demanda antiga do movimento deve começar a sair do papel hoje. A Secretaria Justiça e Direitos Humanos (SJDH), lança o Plano Estadual de Políticas de Promoção dos Direitos da População LGBT – Pernambuco da Diversidade, às 9h, no Bairro do Recife. “Queremos avançar na consolidação de políticas públicas, criando ferramentas para garantir os direitos do público LGBT”, destacou o secretário da pasta, Pedro Eurico.
No Recife, a prefeitura lança uma plataforma digital para denúncias de LGBTFobia em equipamentos municipais. O formulário pode ser acessado no site da prefeitura. “Esperamos que a subnotificação diminua. Além disso, através do formulário é possível obter indicadores sobre as vítimas, para atuar de forma mais precisa”, destaca Wellington Pastor, gerente da Gerência de Livre Orientação Sexual.