Pela terceira vez em um mês e meio, Joelma Andrade de Lima, de 36 anos, se prepara para uma das batalhas mais difíceis da sua vida. Ela vai enfrentar, cara a cara, o sargento reformado Luiz Fernando Borges, 52, que tirou a vida do filho dela, Mário Andrade de Lima, de 14 anos, no dia 25 de julho de 2016, quando a bicicleta em que estava com um amigo colidiu com a moto do PM, no Ibura, Zona Sul do Recife. Após dois adiamentos, a partir das 9h o réu vai a júri popular, na 2ª Vara do Tribunal do Júri, no terceiro andar do Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na Ilha Joana Bezerra, área central do Recife.
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“Tenho que ser muito forte, porque é o dia em que vou escutar aquele homem chamando meu filho de bandido, dizendo que ele ia assaltá-lo e estava armado. Você ouvir isso sabendo que seu filho nunca fez nada de errado! Só Deus e Mário para me fazer suportar, sei que meu filho estará segurando minha mão, como sempre esteve”, desabafa, chorando. “Já fui vitoriosa quando ele foi preso, quando o pedido de Habeas Corpus foi negado, quando ele perdeu a farda, mas ainda falta limpar o nome de Mário e eu só sossego quando conseguir”. O réu pode pegar mais de 30 anos de prisão, se condenado.
Joelma diz que os sucessivos adiamentos só tornam a situação mais difícil. “Vai dando um desespero, não durmo direito. Só de pensar que vou reviver tudo de novo...”, afirma. “Da última vez eu não aguentei quando vi ele. Gritei, me desesperei, chamei de assassino. Como é que eu não posso desabafar? Ele matou meu filho! Uma criança. Cheio de sonhos. Minha filha mais velha vive no quarto chorando e falando com o irmão. Eu não posso nem chorar por conta dela. É a pior prova que uma mãe pode passar”.
ADIAMENTOS
O julgamento seria em 24 de setembro, dia em que o menor faria 17 anos, mas foi adiado, sob alegação de que o advogado do acusado não havia sido intimado. No dia 10 de outubro, o advogado não foi. Agora, caso ele não compareça, o ex-PM terá de ser acompanhado por um defensor público. Ele está preso em Igarassu, no Grande Recife, e sua tese é de que atirou por pensar que era um assalto. Mas testemunhas dão detalhes de execução. O amigo (então com 13 anos) correu, foi baleado e se fingiu de morto. Mário virou símbolo de luta em defesa dos jovens negros de periferia. “Eu sei que não vou trazer meu filho de volta. Mas luto para que outras mães não passem pelo que estou passando”, declara Joelma.