Inspiração

Curso dá esperança e emprego a eletricista da comunidade do Pilar

Após dar aulas para Leandro, Roque resolveu contratá-lo para trabalhar em sua empresa

Ciara Carvalho
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Ciara Carvalho
Publicado em 24/12/2016 às 16:40
Bobby Fabisack/JC Imagem
Após dar aulas para Leandro, Roque resolveu contratá-lo para trabalhar em sua empresa - FOTO: Bobby Fabisack/JC Imagem
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Leandro foi um dos primeiros a se inscrever no curso. Quem fez a inscrição dele foi Roque. Começava ali, eles nem sabiam, uma relação que, meses adiante, passaria a ser de trabalho. E antes disso, de respeito, entrega e admiração mútua. Leandro Aires Costa, pasteleiro, desempregado, enxergou no curso de eletricista, oferecido pela ONG Plano B, a chance de aprender uma profissão nova. Roque da Costa Ramos Júnior, engenheiro, empresário, viu nas aulas a oportunidade de dar um pequeno, mas valioso, empurrão para quem precisava batalhar uma grana extra. Aluno e professor em um encontro que mudou a vida de um e encheu de motivação a do outro.

O curso, realizado no ano passado, durou seis meses. Logo nas primeiras aulas, Leandro já disse a que veio. Era o mais interessado. Estava sempre um passo adiante. Pesquisava na internet. Via vídeos no YouTube. “Ele teve a sede de ir buscar outras coisas. Trazia perguntas. Começou a se destacar, tamanha era a força de vontade de aprender”, conta Roque. O interesse do aluno virou combustível para o professor.

Acostumado à engenharia elétrica no campo, Roque nunca tinha dado aula na vida. Era a primeira vez. Não raro, chegava cansado para dar aula. Mas lembrava de Leandro, do entusiasmo dele e de outros alunos. O que era peso ganhava leveza. “Eu lembrava que eles estavam me esperando, para ter três horas de aula que iam ser muito importantes para o desenvolvimento deles. No final, aquilo virou uma motivação enorme para mim.” O curso acabou, Leandro foi chamado para fazer umas reformas no prédio da ONG que lhe ofereceu as aulas. Foi aí que veio a novidade maior.

Dono de uma empresa de engenharia e automação industrial, Roque convidou Leandro para trabalhar com ele. O convite encerrava um ciclo de oito anos longe do mercado formal. A última vez que Leandro teve carteira assinada foi ainda como pasteleiro, numa padaria. De lá para cá, teve que se virar por conta própria vendendo pastel e bolo na rua. Mais do que um emprego, Leandro diz que ganhou esperança.

GESTO LARGO E FÉ NA HUMANIDADE

Morador do Pilar, no Bairro do Recife, o eletricista não estava acostumado a encontrar gestos largos no seu caminho. A comunidade onde vive enfrenta problemas crônicos de saneamento, habitação e atendimento de saúde. “Eu já tinha perdido a fé na humanidade. Tanta violência, cada um só pensa em si mesmo. Eu vejo agora as pessoas com outros olhos. A generosidade do professor (como ele chama Roque) me fez uma pessoa melhor. Eu agora também penso em ajudar o outro.” 

E o que Roque ganhou com esse encontro? “A gente começa a acreditar que tudo é possível, por mais difícil que pareça.” O professor-empresário diz que a maior qualidade de Leandro é, para ele, um ensinamento. “Ele tem uma força de vontade imensa. Mostrou que a pessoa não precisa se vitimar. Eu não fiz uma boa ação ao contratá-lo. Eu contratei pelo trabalho que ele apresentou. Pelo esforço e interesse que demonstrou. O mérito é todo dele.”

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