Pela primeira vez, um grupo de pesquisadores pernambucanos apresenta a prevalência de perda auditiva em bebês com microcefalia causada pela síndrome congênita do zika e, dessa maneira, alerta para a necessidade de se considerar a infecção pelo vírus na gestação como um fator de risco para comprometimento na audição. Dos 69 bebês com a malformação congênita que apresentaram anticorpo IgM para zika no líquido cefalorraquidiano, quatro (5,8%) apresentaram perda auditiva neurossensorial, que afeta o nervo auditivo e está relacionada à infecção. O achado foi publicado ontem na revista científica Morbidity and Mortality Weekly Report, vinculada ao Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos.
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“A prevalência de perda auditiva apresentada por esse estudo é semelhante à que encontramos em outras infecções congênitas, como aquelas causadas por citomegalovírus, rubéola e toxoplasmose além de outras. Também percebemos que a ocorrência do problema em bebês com a síndrome congênita do zika é maior do que na população geral de nascidos vivos. Nesse grupo, a perda auditiva acomete até dois em cada mil bebês”, explica a chefe do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Agamenon Magalhães (HAM), Mariana Leal, autora principal do estudo. Em junho, ela e outros quatro pesquisadores documentaram, no Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, o primeiro caso de um bebê com microcefalia e perda auditiva decorrente da zika congênita.
TRIAGEM
Agora, com a pesquisa que selecionou 69 bebês para análise, a médica reforça que os bebês de mães expostas ao zika na gravidez devem realizar não apenas o teste da orelhinha logo após o nascimento. “Eles precisam ser submetidos ao exame do potencial evocado auditivo do tronco encefálico, capaz de mapear melhor a audição”, salienta Mariana. A médica já avaliou, desde novembro de 2015, cerca de 200 crianças que nasceram com microcefalia decorrente de infecção congênita – muitas já têm o diagnóstico de zika confirmado por laboratório.
“Precisamos saber como elas vão evoluir. Estamos acompanhando todos os casos a cada seis meses, inclusive aqueles bebês que não apresentaram falhas nas avaliações audiológicas. Vamos analisar as crianças até, pelo menos, completarem 4 anos. Sabemos que, na infecção congênita pelo citomegalovírus, existem chances de a perda auditiva aparecer até essa idade, em média”, frisa Mariana.