Saúde

Perda auditiva por zika é semelhante à de outras infecções congênitas

Pesquisa mostra que 5,8% dos bebês expostos ao zika durante a gestação apresentam perda auditiva neurossensorial, que afeta o nervo auditivo

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 31/08/2016 às 9:57
Miva Filho/Divulgação
Pesquisa mostra que 5,8% dos bebês expostos ao zika durante a gestação apresentam perda auditiva neurossensorial, que afeta o nervo auditivo - FOTO: Miva Filho/Divulgação
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Pela primeira vez, um grupo de pesquisadores pernambucanos apresenta a prevalência de perda auditiva em bebês com microcefalia causada pela síndrome congênita do zika e, dessa maneira, alerta para a necessidade de se considerar a infecção pelo vírus na gestação como um fator de risco para comprometimento na audição. Dos 69 bebês com a malformação congênita que apresentaram anticorpo IgM para zika no líquido cefalorraquidiano, quatro (5,8%) apresentaram perda auditiva neurossensorial, que afeta o nervo auditivo e está relacionada à infecção. O achado foi publicado ontem na revista científica Morbidity and Mortality Weekly Report, vinculada ao Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos.

“A prevalência de perda auditiva apresentada por esse estudo é semelhante à que encontramos em outras infecções congênitas, como aquelas causadas por citomegalovírus, rubéola e toxoplasmose além de outras. Também percebemos que a ocorrência do problema em bebês com a síndrome congênita do zika é maior do que na população geral de nascidos vivos. Nesse grupo, a perda auditiva acomete até dois em cada mil bebês”, explica a chefe do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Agamenon Magalhães (HAM), Mariana Leal, autora principal do estudo. Em junho, ela e outros quatro pesquisadores documentaram, no Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, o primeiro caso de um bebê com microcefalia e perda auditiva decorrente da zika congênita.

TRIAGEM

Agora, com a pesquisa que selecionou 69 bebês para análise, a médica reforça que os bebês de mães expostas ao zika na gravidez devem realizar não apenas o teste da orelhinha logo após o nascimento. “Eles precisam ser submetidos ao exame do potencial evocado auditivo do tronco encefálico, capaz de mapear melhor a audição”, salienta Mariana. A médica já avaliou, desde novembro de 2015, cerca de 200 crianças que nasceram com microcefalia decorrente de infecção congênita – muitas já têm o diagnóstico de zika confirmado por laboratório.

“Precisamos saber como elas vão evoluir. Estamos acompanhando todos os casos a cada seis meses, inclusive aqueles bebês que não apresentaram falhas nas avaliações audiológicas. Vamos analisar as crianças até, pelo menos, completarem 4 anos. Sabemos que, na infecção congênita pelo citomegalovírus, existem chances de a perda auditiva aparecer até essa idade, em média”, frisa Mariana.

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