Com a estimativa da Organização Mundial de Saúde, anunciada ontem, de que pelo menos mil novos casos de microcefalia associados ao zika sejam registrados no Brasil, vale reforçar o alerta: mulheres que planejam ter filhos (ou que já estão grávidas) devem continuar adotando cuidados intensivos para evitar o adoecimento pelo zika. O vírus, que provoca malformações diversas e lesões no cérebro em graus distintos, ainda desafia a saúde pública. Com a proximidade do verão, especialistas em reprodução humana preveem o risco de uma nova epidemia e se uniram para esclarecer dúvidas da população sobre o assunto com a campanha de conscientização Vamos conversar, que aborda a gravidez em tempos de arboviroses.
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A mobilização congrega seis entidades médicas (entre elas, a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) que criaram uma plataforma digital para disponibilizar conteúdos sobre prevenção da zika. Nela foram colocados depoimentos de profissionais da saúde e testemunhos de casais que tomaram diferentes decisões sobre gravidez.
“Ao acessar a plataforma, é possível fazer perguntas sobre o vírus que serão respondidas no prazo máximo de 24 horas”, informa a médica Madalena Caldas, especialista em reprodução assistida e porta-voz da campanha em Pernambuco. Ela informa que, devido ao aumento incomum de recém-nascidos com microcefalia em Pernambuco no ano passado, houve uma queda na realização de transferências de embriões para as pacientes que procuravam as técnicas de fertilização in vitro para engravidar. “De 50 ciclos de fertilização por mês (realizados antes da explosão de casos), passamos para 12. E isso foi até junho. Mas a partir de agosto, voltou-se ao número padrão de procedimentos”, informa Madalena, baseada na realidade vivenciada em consultório particular.
A médica salienta que, no Brasil, há uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exigindo teste do zika a quem deseja submeter-se a procedimentos de fertilização in vitro, devido à ocorrência da epidemia da doença e da possibilidade de transmissão sexual do vírus. “O exame PCR (capaz de identificar traços do zika no material analisado) deve ser feito pelo menos uma semana antes da colocação de embriões. O procedimento pode ser realizado se a mãe não tiver com o vírus presente no seu corpo”, explica a médica. Dessa forma, segundo a Anvisa, pessoas que se submeterem à fertilização in vitro poderão ter material coletado (óvulos e sêmen) somente após realizar exames de zika e o resultado for negativo.
ORIENTAÇÃO
Além disso, Madalena Caldas reforça uma mensagem para o casal: nos casos de gravidez, é importante usar preservativos em todas as relações, a fim de evitar uma possível transmissão sexual do vírus. “Nos Estados Unidos, a recomendação é que qualquer mulher que esteve em áreas endêmicas (toda a América Latina e Caribe, México e Miami), ou tenha tido relações sexuais com pessoas que moram ou passaram por essas regiões, esperem oito semanas para engravidar. E passado esse período, antes de liberar para ter filho, as mulheres devem se submeter ao PCR.” A médica ainda frisa que, assim como a gestante, o parceiro deve usar repelente durante toda a gestação.
“Ainda temos muitas incógnitas sobre a infecção pelo zika na gestação. Não sabemos, por exemplo, por que algumas mulheres têm a doença e não dão à luz bebês com microcefalia. Também não conhecemos o motivo que leva apenas um dos gêmeos a ter a malformação e o outro irmão nascer saudável. Por todas essas dúvidas, é importante que a população seja orientada”, acrescenta Madalena Caldas. A campanha está disponível no site www.gravidezemtemposdezika.com.br.