Saúde

Recife faz bloqueio vacinal após morte de mulher com suspeita de raiva

Até a quinta-feira, foram visitados 4.972 imóveis, além de ser vacinados 117 animais. Morcegos também estão sendo capturados pela Vigilância Ambiental

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 30/06/2017 às 8:59
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Até a quinta-feira, foram visitados 4.972 imóveis, além de ser vacinados 117 animais. Morcegos também estão sendo capturados pela Vigilância Ambiental - FOTO: Foto ilustrativa: Pixabay
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Foi a óbito, na noite da quinta-feira (29), a paciente Adriana Vicente da Silva, 36 anos, que estava internada no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro (área central do Recife), com suspeita de raiva humana, após ser mordida por um gato e não ter sido vacinada. É a primeira morte em investigação pela doença, em Pernambuco, passados 11 anos (2006) do último caso em que a raiva humana fez uma vítima fatal no Estado. Já em 2008, um brasileiro sobreviveu à doença: o jovem Marciano Menezes da Silva, do município de Floresta, Sertão do Estado, mordido em 2008 por um morcego hematófago.

Após a morte de Adriana, moradora do Recife, a equipe de Vigilância Municipal à Saúde anunciou que orientou as pessoas que tiveram contato com a paciente e com o gato a se vacinarem. Na última quarta-feira (28), a Unidade de Vigilância Ambiental e Controle de Zoonoses do Recife executou o protocolo de bloqueio vacinal, conforme recomendação do Ministério da Saúde. As ações foram iniciadas na área onde o gato circulava (proximidades da Praça Oswaldo Cruz, localizada na Boa Vista, Centro do Recife). Até a quinta-feira, foram visitados 4.972 imóveis, além de ser vacinados 117 animais.

Cerca de 60 profissionais (entre eles, veterinários e agentes de saúde ambiental e controle de endemias) continuam a realizar o trabalho em aproximadamente 30 bairros vizinhos à Boa Vista. As ações contemplam vacinação de cães e gatos de domicilio em domicilio, captura de morcegos e orientações aos tutores de animais e moradores de rua sobre o que fazer em caso de acidentes com animais.

Entenda o caso

Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Doenças Infectoparasitárias do Huoc, a médica Ana Flávia Campos informa que Adriana não resistiu após apresentar falência múltipla de órgãos e sistemas. “Em situações como essa, em que a causa primária do óbito é desconhecida, o corpo é encaminhado ao SVO (Serviço de Verificação de Óbitos)”, diz Ana Flávia. A paciente, que estava internada no Huoc desde o último dia 26, já chegou à unidade de saúde com insuficiência respiratória e estava em ventilação mecânica.

“Evoluiu para quadro de falência hemodinâmica, com queda da pressão arterial, o que exigiu administração de doses altas de substâncias para controle da situação”, explica Ana Flávia. Ela conta que a mulher foi mordida (no tronco, em área perto da mama) há dois meses por um gato, que morreu em menos de uma hora da mordedura. A Vigilância Epidemiológica do Recife destaca que a mulher não procurou um serviço de saúde para receber a vacina antirrábica. A Secretaria Municipal de Saúde informa que a vítima apresentou sintomas (de raiva) no último dia 18 e foi internada no Hospital Agamenon Magalhães, no bairro da Tamarineira (Zona Norte do Recife), no dia 24. Pelo agravamento do quadro, foi transferida para o Huoc.

A paciente, de acordo com Ana Flávia, também apresentou falência renal, com diminuição da diurese (produção de urina pelo rim). “Ela não teve indicação, contudo, para fazer diálise por causa da queda da pressão arterial”, explica a intensivista, que acompanhou a vítima desde o dia em que ela chegou, em estado muito grave, ao Huoc. Assim como outras pessoas que têm a doença, a mulher apresentou encefalite progressiva aguda. “Trata-se de uma extensa inflamação no cérebro.” Na manhã de ontem, o hospital já informava, em nota, que o quadro da paciente era de “alto risco de morte”.

Outro detalhe enfatizado pela equipe médica é o fato de Adriana ter sido mordida por um gato. “Tende a ser mais grave do que a mordedura por morcegos (estes geralmente são infectados por um vírus rábico de espécie menos agressiva). Há de seis a oito casos, relatados na literatura mundial, que contraíram a raiva e sobreviveram. E foram mordidos por morcegos”, informa o infectologista Tomaz Albuquerque, diarista da UTI do Huoc onde Adriana estava internada.

Os exames necessários para o diagnóstico da vítima foram enviados ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-PE) e encaminhados para o Instituto Pasteur, em São Paulo. Ainda não foi informada a data de liberação dos resultados.

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