Saúde

Ouvido biônico: 1º implante em criança com zika congênita é realizado em PE

Criança, que está com 2 anos, não se beneficiou do uso de próteses auditivas convencionais e foi submetida à cirurgia de implante coclear

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 26/08/2017 às 11:07
Foto: Fernando da Hora/Acervo JC Imagem
Criança, que está com 2 anos, não se beneficiou do uso de próteses auditivas convencionais e foi submetida à cirurgia de implante coclear - FOTO: Foto: Fernando da Hora/Acervo JC Imagem
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Foi realizada esta semana a primeira cirurgia de implante coclear (popularmente conhecido como ouvido biônico) em uma criança que nasceu com a síndrome congênita do zika vírus e que está com 2 anos. O procedimento, realizado num hospital privado, foi indicado após o paciente não ter se beneficiado do uso de próteses auditivas convencionais. “No caso dele, o aparelho, usado por 1 ano e 6 meses, não serviu para amplificar o som. É uma criança que tem uma perda auditiva bilateral (nos dois ouvidos) e profunda. Ou seja, ele tinha a indicação clássica para o implante coclear. A cirurgia foi feita no ouvido direito”, informa a gerente do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Agamenon Magalhães, Mariana Leal. A médica foi responsável pelo procedimento, realizado na última terça-feira (22) e com duração de aproximadamente duas horas e meia. O implante coclear consiste na inserção de dispositivo eletrônico no ouvido que substitui a cóclea, parte do sistema auditivo sem a qual não escutamos.

A otorrinolaringologista, que já acompanhou cerca de 400 crianças com suspeita de zika congênita (destes, 140 casos foram confirmados por exames de imagem e testes laboratoriais), prevê que outros pacientes que nasceram com comprometimento auditivo decorrente do vírus também devem se submeter à cirurgia do implante coclear. “Atendemos outros bebês que estão usando prótese e sendo avaliados. Pode ser que alguns precisem passar pela cirurgia. Para outros, que têm perdas auditivas leve e moderada, a prótese pode resolver bem”, completa.

A criança que foi operada na terça-feira recebeu alta hospitalar no dia seguinte, está bem e em casa. O procedimento só foi indicado após a equipe multidisciplinar (principalmente a neuropediatra) que acompanha o paciente avaliar bem o caso. Durante a cirurgia de implante coclear, o aparelho é inserido, e o nervo auditivo estimulado. A próxima etapa, que acontece 30 dias após a operação, consiste na colocação de um dispositivo – semelhante a um aparelho auditivo comum. Ele é ativado para possibilitar que o paciente comece a ouvir.

"Ainda não podemos dizer a resposta que a criança vai ter ou a chance que existe de ela começar a escutar. Só vamos saber disso quando for feita a ativação do implante. É um paciente que tem um comprometimento neurológico causado pelo zika, mas não é dos quadros mais graves. Mesmo que o implante sirva apenas para ele perceber o som e interagir melhor com o ambiente, o procedimento já valerá a pena”, esclarece Mariana Leal.

A otorrinolaringologista acrescenta que a linguagem, nos pacientes com perda auditiva profunda e bilateral que recebem o implante coclear, tem mais chance de ser desenvolvida quando não existe comprometimento neurológico. “Se a cirurgia for feita abaixo dos 2 anos e meio nos casos de perda auditiva congênita, melhor será para estimular a linguagem. Mas isso não é o que podemos esperar para a população das crianças acometidas pelo zika porque elas têm comprometimento neurológico expressivo”, frisa Mariana.

PIONEIRISMO

A otorrinolaringologista Mariana Leal faz parte de um grupo de pesquisadores de Pernambuco que documentou o primeiro caso de um bebê com microcefalia e perda auditiva decorrente da síndrome congênita do zika. O relato, publicado em junho de 2016, no Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, apresenta o quadro de uma criança pernambucana cujo irmão gêmeo nasceu sem a malformação congênita. “É um caso clássico porque a criança tem manifestações da síndrome congênita do zika comuns à maioria dos bebês com microcefalia com perda auditiva”, explica Mariana, autora principal do estudo.

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