O teatro da resistência da Paixão de Cristo do Recife

Mesmo com a escassez de recursos, José Pimentel leva à frente seu espetáculo para o Marco Zero ainda em 2018

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 20/03/2018 às 23:00
Foto: Léo Motta/JC Imagem
Mesmo com a escassez de recursos, José Pimentel leva à frente seu espetáculo para o Marco Zero ainda em 2018 - FOTO: Foto: Léo Motta/JC Imagem
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A Via Crúcis da Paixão de Cristo do Recife chegou a mais uma estação. Em reunião com elenco e equipe técnica na semana passada, o diretor José Pimentel e companhia decidiram voltar atrás e levar o espetáculo para o Marco Zero ainda este ano.

Mesmo com todas as limitações de verba, problemas de cenário e infra-estrutura que levaram a anunciar um cancelamento desta temporada, o amor pelo espetáculo venceu e, segundo eles, o clamor popular para ver a peça nas ruas provocou a vontade dos artistas de prosseguir com os planos, diminuindo as apresentações, agora marcadas para os dias 30 e 31 de março. Os ensaios foram retomados nesta segunda-feira (19) em um espaço cultural no bairro da Boa Vista.

“O retorno do espetáculo foi consequência de um pedido do elenco junto a Pimentel para continuar com a peça de qualquer forma, por causa da procura da população pelos atores e pelo próprio Pimentel”, explica o diretor cultural Paulo Kemmer. “Viemos debatendo a retomada desde a semana passada, mesmo levando em consideração que os custos subiram bastante e a verba (da Prefeitura e do Governo do Estado) destinada à peça permaneceu a mesma”, acrescenta.

A paixão do elenco e da equipe técnica para não interromper o 22º ano da montagem é um exemplo claro de resistência às dificuldades artísticas. “Você me pergunta como vai ser feita essa engenharia, já que não podemos deixar de fazer o reparo necessário do cenário e as inovações que vão ter. É o corte no cachê do elenco, não tem de onde cortar”, esclarece Kemmer. Questionado se os atores estavam de acordo, o diretor cultural foi enfático: “Eles disseram que trabalhariam até de graça”.

Ao chegar no local do ensaio, o diretor José Pimentel reconheceu o momento difícil da produção. “Neste instante, se você me perguntar, eu não sei se a gente vai estrear, sinceramente. Porque falta dinheiro, falta cenário, estrutura montada. Estamos cheios de problemas”. Mas o artista de 83 anos, que deu vida a Jesus Cristo por 21 anos na produção, afirma ter esperança em sua equipe: “Vou tentar até o último instante. Se vai dar certo, eu não sei. Mas estou trabalhando para isso. Pois os atores e o povo querem ver o espetáculo”.

BRAVURA

Na expectativa de dar prosseguimento ao icônico personagem vivido por Pimentel, Hemerson Moura destaca que a retomada do espetáculo é um ato de bravura em nome do público: “Esse desejo de persistir é forte, está no sangue dos artistas. Nós sabemos como é difícil. Mas quando eu comecei a fazer teatro eu aprendi uma coisa: onde estiver o público e o ator, o teatro vai estar vivo e pulsando”.

Os ensaios seguem. Seguindo os passos (e a voz) de Pimentel na Paixão de Cristo do Recife, o espetáculo de 2018 celebrará a transição entre o novato e o ator que se tornou a maior referência do teatro pernambucano com este papel. “Se o espetáculo for anunciado e for para a rua, é porque está em condições de ir. E apesar das dificuldades que a gente tem, está tendo e vai ter, talvez esteja seja a melhor Paixão de Cristo de todos esses anos”, profetiza José Pimentel.

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