Na pele de Cristo

As Paixões de Pimentel, um artista do teatro ao ar livre

As Paixões de Cristo tiveram grande peso na vida de José Pimentel, que viveu Jesus Cristo 41 vezes, em Nova Jerusalém e Recife

Editoria de Cultura
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Publicado em 14/08/2018 às 11:04
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Há artistas que se incomodam em serem eternamente associados a um personagem. Não foi o caso de José Pimentel. Aos 83 anos, o ator e diretor viveu o Nazareno pelo 41º ano – 19 deles em Nova Jerusalém e 21 na Paixão de Cristo do Recife.

Além de lidar com questões da própria saúde, Pimentel viveu a própria via-crúcis ao tentar implementar sua visão à trajetória de Jesus em meio a dificuldades de patrocínio e críticas pela idade. "As pessoas têm preconceito, mas o artista não tem idade. Você vê uma Bibi Ferreira no palco e é um estouro. O pessoal brinca que eu deveria interpretar Matusalém. Eu respondo: posso fazer também", diz, Pimentel, que prometeu carregar a cruz até o fim. A primeira vez em que foi à Fazenda Nova, em 1956, não tinha ideia de como o espetáculo determinaria sua vida e carreira. "Na época, eu era halterofilista. Então, fui chamado por Octávio Catanho (ator, diretor e cenógrafo) para vestir a roupa de romano e mostrar os músculos", lembrou, entre risos.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Nova Jerusalém 

O envolvimento com o projeto cresceu e, em 1961, escreveu Jesus, o Mártir do Calvário. Em 1962, com o sucesso, Plínio Pacheco optou por criar Nova Jerusalém. Pimentel participou do projeto. Em 1969, um ano após a abertura da cidade-teatro, substituiu Clênio Wanderley na direção e começou a implementar mudanças, como o uso de áudios pré-gravados. A partir de 1978, passou a conciliar a função com o papel de Jesus – no qual ficaria até 1996. "Nova Jerusalém foi importante para mim enquanto durou. Dei minha vida ali dentro e tudo que acontece lá, em grande parte, fui eu quem implantei, decidi. Mas, os louros dessas coisas ficaram para outras pessoas. Nem gosto de falar porque me faz mal", dizia, ressentido.

Articulado e persistente, Pimentel estreou a Paixão de Cristo do Recife em 1997. O evento, gratuito, chegou a reunir 30 mil pessoas por dia no Marco Zero. Ele ainda encenou outros dramas históricos ao ar livre, como A Batalha dos Guararapes e O Calvário de Frei Caneca, pelas ruas do Centro do Recife; A Revolução de 1817, encenada em 2008; O Massacre de Angicos – A Morte de Lampião, em Serra Talhada; e Auto de Natal, no Marco Zero. Em 2017, entrou na lista dos patrimônios vivos da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) Era um homem de teatro público, sem barreiras, para multidões.

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