Os sete anos em que Christopher Nolan esteve à frente da trilogia O Cavaleiro das Trevas selaram definitivamente o destino do personagem na expansão do universo DC, que ganha seu primeiro empurrão com a chegada de Batman vs. Superman: O Origem da Justiça, de Zack Snyder, já em cartaz nos cinemas brasileiros e mundiais. Nesses quatro filmes, a personalidade de Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck) foi lapidada para mostrar um homem preocupado com o presente e suas ameaças, embora ele guarde memórias de um passado que, mesmo com marcas indeléveis, ainda era possível encontrar “coisas perfeitas”.
Essa opção pelo caos social, tanto local – Gotham City e Metrópolis são praticamente destruídas – quanto mundial, é abraçada por Zack Snyder com mais vigor que em O Homem do Aço, de 2013, que se interliga com o novo filme a partir da suspeição de que Superman (Henry Cavill), por ser alienígena e superpoderoso, é uma ameaça a todos. Assim como os filmes anteriores, o tom que Snyder imprime à narrativa é tão sério que não admite sequer uma piadinha entre os personagens, algo impensável nos longas protagonizados pelos super-heróis da Marvel, por exemplo, principalmente depois que a empresa foi comprada pela Disney.
Seriedade em excesso não parece ser a melhor saída para um universo criativo associado ao espetáculo e a diversão, mas a Warner não parece que vai mudar de ideia, principalmente se a equipe criativa dos filmes tiverem o roteirista David S. Goyer à frente das tramas. Neste filme, Goyer parece seguir em muitas direções, dando ao o espectador a possibilidade de perceber o quanto aquela sociedade está próxima de sofrer um grande abalo, o que realmente acontece, quando um dos personagens tem seu destino definido sem apelação.
Ele tem boas sacadas, principalmente na primeira parte do filme, ao juntar os destinos de Batman e Superman de uma maneira bem interessante, a partir do ponto de vista do Homem-morcego, que se vê prejudicado com a batalha entre O Homem de Aço e o General Zod quando o prédio de sua companhia é posto abaixo, causando-lhe prejuízo, além de funcionários mortos e feridos.
Para mostrar que sabe o que faz, Goyer não se preocupa em repetir, pela enésima vez, a conhecida cena em que Bruce Wayne assiste à morte dos pais na saída de um cinema, que exibe Excalibur (1981), de John Boorman, entre outros filmes. Embora pareça gratuita e desnecessária, essa cena terá um papel importante para revelar uma insuspeitada ligação freudiana entre Batman e Superman.
Apesar disso, o filme se desenvolve muito arrastadamente, com Zack Snyder caprichando nas cenas em slow motion e no visual carregado, dependente em excesso dos efeitos especiais (os mesmos problemas de 300 e Watchmen). A situação só muda quando, finalmente, Batman e Superman entram em choque e parece que vão se matar mesmo. Na verdade, o filme melhora mais quando a Mulher-Maravilha (a israelense Gal Gadot) entra cena e recebe tratamento vip da trilha sonora ensurdecedora composta por Junkie XL e Hans Zimmer.
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No entanto, o mesmo não acontece com o personagem de Lex Luthor, que ganhou uma interpretação para lá de equivocada de Jesse Eisenberg. Seus trejeitos, repetidos de filme para filme, dão a Luthor um indesejável ar de déjà vu. Mesmo não sendo um filme ruim, esses altos e baixos não ajudam na sua fruição.