A polícia de Nova York informou, nessa quinta-feira (12), à AFP que investiga uma denúncia de abuso sexual apresentada contra o produtor de Hollywood Harvey Weinstein em 2004. Segundo um porta-voz da polícia, neste estado não limites para prescrição do crime, ocorrido há 13 anos.
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De acordo com o jornal nova-iorquino Daily News, a polícia quer investigar as acusações de Lucia Evans, publicadas nesta terça-feira pela revista The New Yorker.
Evans afirma que, em 2004, quando era uma estudante universitária que sonhava em ingressar na indústria cinematográfica, foi abusada pelo produtor, que lhe forçou a praticar sexo oral nele, em seu escritório no bairro de Tribeca.
"Ele me atacou", disse Evans ao jornalista Ronan Farrow, autor da reportagem da The New Yorker. "Ele me forçou a praticar sexo oral nele", afirmou. "Eu disse, várias vezes, 'Eu não quero fazer isso, pare, não'. Eu tentei ir embora (...), mas não queria chutá-lo, ou lutar com ele".
No mesmo artigo, outras duas mulheres afirmam ter sido violadas pelo produtor. Não está claro se Evans denunciou, na época, a agressão à polícia, que não quis dar detalhes sobre o assunto.
Em 2015, a polícia de Nova York recebeu uma denúncia de abuso sexual contra Weinstein da modelo italiana de origem filipina Ambra Battilana Gutierrez, então com 22 anos, que lhe acusou de apalpar seu seio.
No dia seguinte, com ajuda da polícia, Battilana voltou a encontrá-lo com um gravador escondido. Nas gravações, o produtor insiste mais de uma vez que ela lhe acompanhe ao seu quarto de hotel e, comentando o episódio da noite anterior, diz: "não voltarei a fazer".
Apesar disso, o procurador de Manhattan, Cy Vance, decidiu então não apresentar acusações contra Weinstein por falta de provas.
Investigado no Reino Unido
Weinstein também é alvo de uma investigação por abuso sexual que teria acontecido nos anos 1980 no Reino Unido, afirmou nesta quinta a agência britânica Press Association.
Questionada pela AFP, a policía de Merseyside, na região de Liverpool, no noroeste da Inglaterra, disse ter recebido uma queixa sobre um abuso cometido em Londres, mas não confirmou a identidade da vítima.
"Podemos confirmar que recebemos um informe às 08H40 (04H40 de Brasília) de quarta-feira sobre uma agressão sexual supostamente cometida na região de Londres nos anos 1980", afirmou, em um comunicado, acrescentando que tinha transferido o caso para a Scotland Yard.
Weinstein, de 65 anos, um dos homens mais poderosos da indústria do cinema, é acusado de assédio e abuso sexual por dezenas de mulheres, em sua maioria jovens atrizes e assistentes, desde a publicação de uma reportagem no The New York Times em 5 de outubro.
Cofundador dos estúdios Miramax e The Weinstein Company, ele recebeu mais de 80 prêmios Oscar e 300 indicações por suas produções.
A lista de atrizes que denunciaram assédios e abusos sexuais por parte do poderoso produtor incluem Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino, Rosana Arquette, Cara Delevingne, Léa Seydoux, Emma de Caunes e Judith Godrèche.
Em entrevista à emissora BBC nesta quinta-feira, que irá ao ar na segunda-feira, a americana Jane Fonda comemorou a divulgação das acusações. "Graças a Deus que está se falando sobre isso", afirmou a atriz, vencedora de dois Oscars.
Ela explicou que soube dessas acusações há cerca de um ano, não falou publicamente sobre isso para proteger a privacidade das vítimas. "Eu deveria ter sido mais corajosa e acho que, de agora em diante, eu serei, quando ouvir histórias assim".
"Nós temos que começar a acreditar nessas mulheres e a protegê-las", disse. "Você fica com medo porque parece que você nunca vai trabalhar de novo, porque eles têm tanta influência, e você nunca será acreditada", lamentou.
O produtor foi demitido pelo comitê diretor de sua empresa, a The Weinstein Company, e sua mulher, Georgina Chapman, anunciou nesta terça-feira seu divórcio.
Sua conduta foi reprovada por todos os setores de Hollywood, desde intérpretes até executivos.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas americana - que oferece o Oscar - marcou uma reunião de urgência para este sábado, na qual vai estudar se expulsa Weinstein da instituição.
Defesa
O diretor de cinema americano Oliver Stone disse que Harvey Weinstein é "condenado por um sistema de justiceiros". "Eu sou da teoria de que é para esperar até que isso vá a julgamento", disse aos jornalistas na Coreia do Sul, explicando que a indústria cinematográfica e o público condenavam prematuramente Weinstein.
"Se ele infringiu a lei isso virá à tona. Para mim um homem não deveria ser condenado por um sistema de justiceiros", acrescentou Stone, que preside o júri do festival internacional de cinema desta cidade sul-coreana.
Hollywood está cheio de "histórias de terror", mas as acusações contra Weinstein, que abarcam várias décadas, são por enquanto rumores, na opinião de Stone. "Não é fácil o que ele está passando. Durante esse período era um rival e eu não o conhecia de verdade. Ouvi histórias de terror sobre todo mundo nesta indústria, ou seja, não vou comentar fofocas", acrescentou.