Aniversário

Há 20 anos, estreava 'Central do Brasil', marcando o cinema nacional

'Central do Brasil', dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Montenegro, foi lançado há duas décadas; filme fez carreira no exterior

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 03/04/2018 às 9:10
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'Central do Brasil', dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Montenegro, foi lançado há duas décadas; filme fez carreira no exterior - FOTO: Foto: Divulgação
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Em abril de 1998, há duas décadas, o público brasileiro ia aos cinemas para ver um road movie que percorreria uma longa estrada pelo mundo. Nele, o caminho de uma aposentada, que tira uma renda extra redigindo cartas em uma das estações mais movimentadas do país, se cruza com o de um menino que acabara de perder a mãe. Ambos ancoram uma narrativa que, ao mesmo tempo em que mergulha em uma sublime relação intimista, também navega pela realidade das veias do País.

Assim é Central do Brasil, dirigido por Walter Salles e protagonizado pela já veterana Fernanda Montenegro e pela jovem revelação Vinícius de Oliveira. A trama gira ao redor de Dora (Fernanda Montenegro), que leva a vida escutando os recados de transeuntes na estação Central do Brasil, analfabetos e boa parte fruto da migração, transcrevendo-os em cartas e se encarregando de enviá-las. Uma dessas clientes é Ana (Sôia Lira), que dita sua mensagem para o marido, que ficou no interior do Nordeste, alertando que o filho do casal, o jovem Josué (Vinícius de Oliveira) quer conhecer o pai. Saindo da estação, Ana morre ao ser atropelada por um ônibus, deixando o garoto abandonado. Após alguns conflitos, Dora decide acompanhar o garoto na jornada para encontrar o pai no interior do país.

O roteiro dessa história foi escrito a quatro mãos, por João Emanuel Carneiro, também conhecido por sua autoria de novelas como Avenida Brasil, e Marcos Bernstein, atualmente escrevendo a novela Orgulho e Paixão, no ar pela TV Globo.
A composição imagética foi pensada pelo consagrado Walter Carvalho, captando a energia urbana com o mesmo primor que leva a serenidade das estradas e das cidades interioranas. Tudo bem conduzido pela visão orgânica de Salles, que flutua bem pelos diferentes tons que o filme pede.

Tal apuro e delicadeza acabou por levar Central do Brasil por rotas internacionais. O reconhecimento dessa viagem foram as duas indicações ao Oscar conseguidas em 1999. A produção entrou para a seleta lista de filmes nacionais que concorreram a Melhor Filme Estrangeiro. Foi o último a conseguir esse feito. Também nessa mesma premiação Fernanda Montenegro se tornou a primeira intérprete brasileira a ser indicada na categoria de Melhor Atriz. As estatuetas não vieram, ficaram com A Vida é Bela, do italiano Roberto Benigni, e com a atriz Gwyneth Paltrow por Shakespeare Apaixonado, umas das mais contestadas dos últimos anos.

Entretanto, sua carreira em prêmios pelo mundo foi além disso. Conquistou o Globo de Ouro e o Bafta na categoria Filme Estrangeiro, além de angariar o prêmio máximo do Festival de Berlim, o Urso de Ouro. Fernanda Montenegro conquistou o Urso de Prata no mesmo festival, além dos prêmios dos críticos de Nova York e Los Angeles.

As carreiras do elenco e da equipe continuaram com sucessos. Walter Salles começou a trabalhar em produções e coproduções internacionais, como Diários de Motocicleta, narrando a expedição de Che Guevara pela América do Sul, vencendo o Bafta e ainda conseguindo indicações no Oscar, Cannes, César e Goya. Walter Carvalho já tinha uma carreira bem consolidada e deu seguimento a trabalhos com a visão única de suas lentes, como Abril Despedaçado, Carandiru, Febre do Rato, O Céu de Suely e, mais recentemente, O Filme da Minha Vida, de Selton Mello.

Já Fernanda Montenegro continuou trabalhando entre cinema, televisão e teatro. Conquistou um prêmio Emmy por seu trabalho em Doce de Mãe e faz parte de Piedade, próximo filme do diretor pernambucano Cláudio Assis. O garoto Vinícius de Oliveira cresceu e continuou trabalhando na área. Um de seus trabalhos recentes de maior destaque foi no filme Boi Neon, do também pernambucano Gabriel Mascaro. Marília Pêra continuou se destacando, principalmente na TV, até seu falecimento em 2015. O elenco ainda contava com nomes de peso como Othon Bastos e Matheus Nachtergaele.

DÉCADAS DEPOIS

Algumas temáticas de cunho social rodeiam o enredo da obra. Em 1998, 13,8% da população brasileira com mais de 15 anos era analfabeta, aproximadamente 15 milhões de pessoas, segundo o IBGE. Em 2016, esta taxa caiu para 7,2%, cerca de 11 milhões, mas ainda é significativa.

A migração de nordestinos buscando melhores condições de vida no Sudeste é outro ponto motivador da trama. As coisas também mudaram nesse sentido, nas últimas duas décadas. Segundo Jan Bitoun, professor de Departamento de Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, o sentido desta locomoção começa a se inverter. “Até os anos 1990, havia um enorme fluxo para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, até Amazonas. Nos anos 2000, as coisas começam a melhorar no Nordeste e acontece a chamada migração de retorno, com a região oferecendo mais oportunidades”, explica Jan.

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