CINEMA

Emoção e protesto na primeira noite do Cine PE

Fora, Temer voltou com força durante a cerimônia de abertura, que homenageou a cineasta Kátia Mesel

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 01/06/2018 às 10:15
Felipe Souto Maior/Divulgação
Fora, Temer voltou com força durante a cerimônia de abertura, que homenageou a cineasta Kátia Mesel - FOTO: Felipe Souto Maior/Divulgação
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Com um público que desde cedo formou uma fila em torno do Edifício Duarte Coelho, onde fica o Cinema São Luiz, a noite de abertura do Cine PE: Festival do Audiovisual 2018, nesta quinta-feira (31/5), começou no maior alto-astral. A apresentadora Graça Araújo, que desde a primeira edição bate ponto no festival, estava mais do que inspirada.

Enquanto lia o texto, descontraída e desenvolta, a plateia que tomou quase todas as poltronas da sala – tinha gente também no mezanino – respondia criticamente quando Graça citava os patrocinadores, principalmente a Prefeitura do Recife. Além das vaias à administração municipal, a plateia não perdeu uma deixa para gritar “Fora, Temer”, que voltou com força, sem dúvida por causa da crise recente depois da paralisação dos caminhoneiros e da falta de combustível.

Embora o repúdio ao governo municipal e federal tenham marcado o início do festival, dois momentos emocionaram a plateia. O primeiro foi quando os participantes do movimento Legenda para Quem Não Ouve, mas se Emociona, criado há 14 anos, pediram mais responsabilidade ao projeto de acessibilidade comunicacional nas salas de cinema de todo o País.

O segundo foi a homenagem à cineasta pernambucana Kátia Mesel, que recebeu um Calunga de Ouro especial, como reconhecimento dos 50 anos de dedicação de cinema. Antes de subir ao palco, um vídeo produzido pelo Canal Brasil, com trechos da série Olhar, de Camilo Cavalcante, contou um pouco da história de Kátia.

Ela recebeu o Calunga de Ouro das mãos do secretário de Cultura do Estado, Marcelino Granja. Ele afirmou que Kátia teve uma importância muito grande na política audiovisual atual do Funcultura, a partir de uma homenagem que ela recebeu em Triunfo, há três anos. Granja disse que 42 dos projetos aprovados têm participação feminina ou transgênero.

No seu agradecimento, a cineasta falou de seu amor pelo audiovisual ao ler um texto poético intitulado Cinema Paixão, em que escreve que o “o cinema é completo” e que tem “uma compulsiva ansiedade para fazer o próximo filme”.

CURTAS-METRAGENS

Embora a atração principal de ontem tenha sido a comédia Mulheres Alteradas, de Luís Pinheiro, que conta os dilemas de quatro amigas na faixa dos 30 anos, os curtas não pouparam os nervos e o coração dos espectadores. Foram exibidos cinco curtas: dois da Mostra PE, três da Mostra Brasil e um Hors Concours, o libanês Desculpe, me Afoguei, feito a partir da carta de uma refugiada que se afogou no mar).

A Mostra PE foi aberta com duas animações produzidas nos laboratórios da UFPE. Apesar de curtinho, Dia-Um, de Natália Lima, mostrou que não falta falta imaginação aos estudantes. Marcos Buccini, professor da UFPE e diretor, realizou uma tocante ode à perseverança, a custa de muita solidão, em O Consertador de Coisas Miúdas.

Na Mostra Brasil, Marias, de Yasmin Dias, foi uma verdadeira paulada ao acompanhar cinco mulheres abusadas pelos parceiras. Inclusive, ela conta a trágica morte da mãe pelas mãos do companheiro. O tom de pesadelo continuou no bem acabado Sob o Delírio de Agosto, de Carlos Kamara e Karla Ferreira, filmado em Orobó, no Sertão, ao mostrar o lento processo de falência mental do açougueiro Severo (o caruaruense Bruno Goya, excelente). Já Abismo, do carioca Ivan de Angelis, apesar de um tanto repetitivo, enervou e divertiu o público com as agruras de um porteiro de prédio que pega um elevador e entra num pesadelo kafkiano.

Por causa do adiamento de 29 para 31, a direção do Cine PE encolheu o período de sua realização, o que acarretou numa programação mais longa (com dois longas-metragens) para sexta-feira (1º/6) e sábado (2/6).

PROGRAMAÇÃO DE SEXTA E SÁBADO

Nesta sexta, além dos seis filmes programados (quatro curtas e dois longas), a noite também será festiva, com a homenagem à Cássia Kis, que foi premiada na edição de 2001 com o Calunga de Melhor Atriz Coadjuvante por Bicho de Sete Cabeças.
Os dois longas-metragens que serão exibidos são as produções cariocas Os Príncipes, de Luiz Rosemberg Filho, e Christabell, de Alex Levy-Heller.

O veterano Luiz Rosemberg Filho há dois anos concorreu com o longa Guerra do Paraguay. Ele ganhou o Prêmio Especial do Júri pelo conjunto de sua obra e contribuição ao cinema brasileiro. E o filme ganhou o Prêmio do Júri da Crítica Abraccine. Em Os Príncipes, também produzido por Cavi Borges, o cineasta conta a história de dois homens que perambulam pela noite do Rio de Janeiro com duas prostitutas em busca de prazer e violência. O elenco do filme tem a presença de Igor Cotrim, Alexandre Dacosta, Patrícia Niedermeier, Ana Abbott, Tonico Pereira, Jorge Caetano, Orã Figueiredo, Otávio Terceiro, Lucília de Assis e Cristina Mayrink.

O outro longa é Christabell, de Alex Levy-Heller, que tem em seu currículo os documentários O Relógio do Meu Avô e Macaco Tião – O Candidato do Povo. Neste primeiro filme de ficção, Alex adapta um poema do escritor britânico S. T. Coleridge, publicado em 1816. Na transposição, a ação se passa nos dias atuais, numa zona rural do Cerrado goiano. Conta a história da jovem Christabell filha única de um trabalhador rural, que encontra a misteriosa Geraldine (ela diz ter sido atacada por homens e precisa de ajuda). Christabelll leva Garaldine para casa. Aos poucos, a mulher começa a ter uma grande influência na vida da jovem, que lhe traz um sentimento de paixão e liberdade jamais vivenciado por ela. No elenco, Milla Fernandez, Lorena Castanheira, Julio Adrião, Alexandre Rodrigues, Nill Marcondes e Camilla Molica.

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