O escritor garanhuense ficou surpreso com o Prêmio Nobel de Literatura dado ao nipo-britânico Kazuo Ishiguro, como quase todos os seus admiradores e fãs de literatura. Ishiguro não estava entre os favoritos. Pouco lido aqui no Brasil, o novo Nobel de Literatura impressionou o contista com Os Vestígios do Dia (adaptada para o cinema por James Ivory), seu preferido, e com a coleção de narrativas curtas Noturnos, que ele comenta a seguir.
Perguntado se Ishiguro está no seu Top 10, Nivaldo Tenório afirma que sim, mas com uma ressalva: "Essa minha lista sempre muda", diz. "Gosto da atmosfera dos livros dele. Pra mim é uma espécie de Mozart, agrada ao leitor mediano e ao mais exigente leitor. Claro que cada um desenvolve um nível de leitura, mas com todos ele consegue se comunicar, fazendo uma literatura sofisticada e ao mesmo tempo dispensando toda ordem de pirotecnias".
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Noturnos
Gosto de histórias sobre o anoitecer. Ainda mais com trilha sonora de Ray Charles, Ella Fitzgerald, Chet Baker, Cole Porter, entre outros. A noite é bela e mesmo quando festiva não raro se encaminha para sua verdadeira natureza que é a tristeza e melancolia. Palavras podem dizer quase tudo enquanto sons evocam imagens e sensações. Música e noite me lembram os simbolistas e sua preocupação em sugerir mais do que apenas dizer o sentido das palavras. E é dessa matéria o livro de contos de Kazuo Ishiguro, o mais novo laureado com o Nobel de Literatura.
Nos cinco contos de Noturnos (Cia das Letras, 210 pg) o autor nos apresenta narrativas que são longas, mas em nenhum momento experimentamos a sensação de estar lendo um romance, pois os contos conservam toda sutileza da narrativa breve, falo do subtendido, os silêncios e o estranhamento que sentimos diante das escolhas e comportamentos das personagens.
A suspeita de que uma leitura só não basta, apesar do livro parecer fácil de ler, é correta. Pois é preciso ir além. Algo se esconde na música e nas sombras da noite que podem revelar alguma coisa secreta.
Há o tema da música, também há cidades e cafés por onde perambulam os personagens, mas é sobre a morte, esse anoitecer que não tarde e dele nos aproximamos com melancolia, o que de fato tratam esses contos noturnos.