SANGUE NOVO

Aos 25 anos, festival Abril Pro Rock precisa se reinventar

Referência no cenário nacional, o festival está repetindo atrações e escalando bandas de pouca relevância. O resultado é um público apático

GG ALBUQUERQUE
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GG ALBUQUERQUE
Publicado em 30/04/2017 às 13:38
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Referência no cenário nacional, o festival está repetindo atrações e escalando bandas de pouca relevância. O resultado é um público apático - FOTO: Foto: Divulgação/ APR
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Aniversários são celebrações, mas também uma oportunidade de relembrar os bons momentos do passado e colocá-los em perspectiva com o presente. Nesse sentido, os 25 anos do Abril Pro Rock invariavelmente evocam shows marcantes de grandes nomes que passaram pelo festival. Citando apenas alguns dos mais recentes, de 2010 para cá teve Afrika Bambaata, Skatalites, Misfits, Brujeria, Dead Kennedys, Antibalas, Ratos de Porão, Television. Mas quando comparamos este passado com a atual edição do evento, finalizado no último sábado, a impressão é a de que o festival está se desmontando e virando um eco distante da referência nacional que era.

O enfraquecimento, em termos de público e linha curatorial, é latente há pelo menos quatro anos mas desta vez foi particularmente notável. Enquanto todos os festivais evitam ao máximo repetir atrações, as bandas principais e mais destacadas no lineup da “noite dos camisas pretas” foram repetecos: Matanza (que tocou em 2005 e 2009), Krisiun (veio 2002, 2004 e 2013) e Violator (2011).

A escalação dos nomes internacionais é pautada por um diletantismo que acaba selecionando bandas de pouca relevância ou apelo, caso da Cockney Rejects -- conhecida por ter criado, nos anos setenta, o subgênero Oi Oi Punk, mas que no palco não vai muito além do velho poperô punk esmaecido. O metal tem passado por renovações estéticas radicais, tanto internas (como a experimentação minimalista do Test) como externas (hibridizações com outros estilos e sonoridades, caso do post black metal ou black gaze). Mas nenhuma dessa novidades é apresentada pelo festival. Para completar, falta criatividade e/ou ousadia para pensar em um novo espaço para o evento. O Classic Hall não é um ambiente para se estar durante as quase oito horas de shows. Não há um lugar de convivência para desopilar, sentar e conversar tranquilamente pois o som preenche todo o ambiente fechado. Para conversar sem ter que berrar, o público têm de sair do salão . E enquanto isso, festivais do mundo todo procuram lugares abertos para acentuar a “experiência de festival”, algo que o Coquetel Molotov e o Guaiamum Treloso Rural já estão implantando.

DESINTERESSE E APATIA

Tudo isso reflete um público apático ou desinteressado. O público do metal é carente de eventos de grande porte no Nordeste. A sensação é de que a maioria está lá mais pelo hábito de ir ao Abril Pro Rock e pela sensação de pertencimento proporcionada do que pelos shows propriamente. O resultado são o espaço dos estandes de discos e camisas cheios e mais um monte de headbanguer deitado ou sentado nas escadas enquanto umas centenas de fato assistem ao shows.

Não à toa, os dois maiores momento da noite foram o show do Matanza e o quando o Krisiun tocou Ace of Spades, do Motörrhead, com participação de Marco Duarte da banda pernambucana Decomposed God. Foi quando todo mundo levantou e saiu correndo para boca do palco, a hora em que todas as pessoas dispersas se reuniram e se lançaram no show, seja no meio da roda de pogo ou ouvindo com atenção. O Violator foi o grande show da noite com seu thrash metal rápido e seco. Se não inovador, certamente estimulante. Como esperado, fizeram muitas menções ao quadro político do País -- xingamentos ao deputado Jair Bolsonaro, crítica aos jovens que defendem a volta da ditadura (antes de False Messiah) e defesa dos povos indígenas em (Echoes of Silence).

Mas está muito aquém do Abril Pro Rock, que desde 2014 está continuamente perdendo sua força de renovação e relevância -- o que não deixa de ser curioso, tendo em vista que a mesma produtora que realiza o festival é responsável pelo jovem Hellcifest, cuja primeira edição no ano passado teve os gigantes Testament e Cannibal Corpse e este ano terá Abbath e Amon Amarth, todos shows inéditos no Nordeste. Parafraseando o manifesto Manguebeat, movimento que o próprio festival ajudou a consolidar: um choque rápido ou o APR morre de infarto!

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