A turnê Abraçar e Agradecer foi apenas uma parte da série de comemorações dos 50 anos de carreira de Maria Bethânia, celebrados de fevereiro de 2015 a fevereiro de 2016. Apenas uma parte, porque neste período muito se reverenciou essa que é uma das principais intérpretes da música popular brasileira.
Lançados na última sexta-feira, o CD (também no Spotify) e DVD duplos Abraçar e Agradecer (Biscoito Fino) são o registro, mais do que merecido, dessa efeméride da trajetória de Bethânia e, porque não, dos brasileiros que devotam a ela admiração.
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O DVD é, sem dúvida, o principal lançamento desse combo. Nele está gravado o show feito pela cantora na HSBC São Paulo, em agosto de 2015. O mesmo show com o qual ela viajou o Brasil inteiro -- incluindo o Recife, onde volta a se apresentar no próximo dia 18 de março, no Classic Hall.
São 41 músicas, algumas jamais gravadas pela baiana; outras, clássicas em sua voz, de Gonzaguinha, Caetano, Gil e Chico Cesar. E tem até músicas que foram compostas exclusivamente para este show, como é o caso de Viver na Fazenda (Dori Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro) e Eu te Desejo Amor (Nelson Motta). Além, é claro, de uma versão especial de Non, Je Ne Regrette Rien, de Piaf, que é sem dúvida o ápice deste show.
Quem assistiu a este show lembra do quanto ele representa aquilo que pensa e faz Maria Bethânia. Uma brasileira que empresta a voz para dizer os sentimentos e reafirmar a identidade que constrói o Brasil. Do amor, do respeito às origens de cada um de nós e, também, da relação espiritual entre o humano e a natureza sagrada.
Dirigido por Bia Lessa -- que a acompanhou no show anterior, Carta de Amor, e em Brasileirinho e Tempo, Tempo, Tempo -- o espetáculo tem sobriedade e uma construção dramatúrgica que nos conduz aos temas de Bethânia com delicadeza e poesia. A cada novo trabalho, Bia reafirma o quanto compreende a palavra de Bethânia e o quanto traduz isso para o palco.
O DVD, que tem projeto gráfico de Gringo Cardia, traduz em vídeo todo aquele show. E consegue até nos trazer mais: a cenografia feita por uma tela colocada no chão, onde Maria Bethânia pisa, ganha outra visão na filmagem, até mais bonita do que pessoalmente.
E quando se pensa que Agradecer e Abraçar já basta pelo registro singular que é, o DVD vai além. Nos leva ainda mais para perto de Bethânia. No minidoc que antecede o show e encerra a apresentação, a atriz Renata Sorrah, amicíssima de Bethânia, narra cada etapa da cantora antes e depois do palco: os hábitos e cuidados com o corpo, a voz e alma; os amigos que estão com ela; os últimos ajustes da noite. Até mesmo as mudanças de últimas, todas acertadas em conjunto, porque “mudar para Bethânia é viver”, diz Sorrah, em texto escrito por Bia.
EXTRAS
As celebrações aos 50 anos de carreira de Maria Bethânia começaram em 1º de fevereiro de 2015, em Santo Amaro da Purificação, Bahia. Na sua cidade natal, ela fez um show em praça pública, diante de uma multidão. “Fiquei emocionada. Cantar na minha terra, para um público daquele. O que eu queria dizer em Santo Amaro eu disse”, confessou ela, em entrevista ao JC, dias depois da apresentação.
Dali não parou. Bethânia seguiu a festa pelo Brasil com a turnê Abraçar e Agradecer, com ingresso esgotados em todas as apresentações. Foi tema de exposição, Bethânia de Todos Nós, que ficou em cartaz no Rio de Janeiro; foi celebrada na feira de São Cristóvão, também no Rio, pelo povo nordestino; e foi a homenageada do Prêmio da Música Brasileira, com um show em que estiveram reunidos vários artistas amigos seus.
No entanto, a grande coroação veio na homenagem feita pela escola de samba do seu coração, a Estação Primeira de Mangueira. A Menina dos Olhos de Oyá, samba-enredo de 2016, levou à Sapucaí a história da baiana. Desfile rendeu à Mangueira o primeiro lugar no Carnaval.
Todos esses momentos foram compilados em vídeos e compõem a segunda parte do DVD, com extras; e, com textos, num livreto encartado no DVD. Um deleite para quem é fã e para quem admira essa cantora.