Na família Pacheco-Mendonça, há uma tradição que se perpetua entre as gerações desde os anos 1960: toda criança que nasce “estreia” nos palcos da cidade-teatro como crianças de Jerusalém, na cena do Sermão da Montanha. É um gesto simbólico, mas que sintetiza a importância que o clã dá à perpetuação da obra de vida de Plínio e Diva Pacheco.
Coordenador-geral da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, Robinson Pacheco nasceu em 1963, praticamente no início da construção do teatro, e cresceu em meio ao levantamento das muralhas, cenários e, acima de tudo, de um sonho. Desde cedo, ele compreendeu que aquele espaço era mais do que pedras: era o legado de seus pais.
Aos sete anos, Plínio começou a introduzi-lo naquele universo com mais ênfase, projetando que, no futuro, ele assumiria a empreitada. Começou oferecendo duas coisas irresistíveis para uma criança: garantiu a compra do tão sonhado cavalo para o filho (tendo como condição sua ajuda nas tarefas do teatro) e delegou-lhe responsabilidades. Robinho, como é conhecido, começou então a atuar como extensão do seu pai. A cavalo, passava informações aos funcionários, resolvia “as broncas” e observava atentamente os passos do patriarca. Do seu pai, carrega vários aforismos e lições de vida e busca aplicá-los até hoje.
“Em 1993, meu pai me chamou para uma reunião e disse que, se eu não o ajudasse, ele iria fechar o teatro. Estava cansado. Sou um homem que gosta do campo, sou pecuarista, mas, naquele momento, vi que a prioridade era ajudar meu pai. Perguntei do que ele precisava e ele respondeu que queria apoio. Foi aí que entrei de cabeça na Paixão”, lembra Robinson, que hoje trabalha na sala que um dia pertenceu ao seu pai e que é repleta de memorabilia em alusão a Plínio.
Do pai, aprendeu que para gerenciar precisa estar em campo, conhecer cada centímetro do espaço. Para tanto, participa dos ensaios, observa, opina e faz questão de que tudo esteja próximo da perfeição. Exemplo disso foram os testes para a entrada da carruagem de Herodes, uma das novidades deste ano. Percebendo a dificuldade dos figurantes em manusear a peça, se juntou a eles e começou a empurrar, motivando a todos e exigindo atenção para que não houvesse problema na execução durante o espetáculo.
“Produzir a Paixão anualmente é um exercício muito exaustivo. Primeiro pela dimensão do empreendimento: são muitos detalhes, muitos custos. Mas, a gente faz com gosto porque isso aqui não é só parte da nossa história; é também a história de Fazenda Nova. As pessoas daqui têm um carinho pelo espetáculo, é uma coisa emocionante para a gente. Por exemplo, temos 500 figurantes e a maioria é daqui. E eles participam pelo sentimento”, reforça.
Atualmente, Robinson, sua esposa, Tânia, e o filho, Robinson Gulde, conhecido por todos como Binho, moram em uma residência no meio da cidade-teatro. É entre as muralhas de Nova Jerusalém que ele passa a maior parte do tempo, tanto física quanto mentalmente.
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“Estou sempre pensando no que pode ser melhorado, no que devemos fazer no próximo ano. Tenho uma pasta na qual anoto as ideias para depois desenvolver. Para 2018, já tenho muitos planos, por exemplo. É um trabalho que nunca para, porque Nova Jerusalém não está finalizada. Falta muita coisa ainda para estar como meu pai sonhava, como nós sonhamos, e é um trabalho que vai além de nós também”, reforça.
DE PAI PARA FILHOS
Assim como seu pai, Robinson passou, desde cedo, a importância do legado da família. Seus três filhos Gabriela, 27, Marina, 25, e Binho, 23, estão, em menor ou maior intensidade, envolvidos com o espetáculo.
Binho, assim como Robinson, tem natural interesse pela coordenação geral de Nova Jerusalém, e assumiu, aos seis anos, funções semelhantes às do pai. Era e é seu braço direito na administração dos negócios. Ao cursar a faculdade de administração, tinha claro na cabeça o objetivo de perpetuar o sonho dos avós.
"Para nós, a Paixão de Cristo é parte do cotidiano, desde criança. Sou uma espécie de assessor do meu pai e sinto que é uma responsabilidade minha e de minhas irmãs manter vivo o legado dos nossos avós. Como somos uma geração mais jovem, sinto também que é nosso papel pensar em soluções e inovações para o espaço”, pontua Robinson.
Formada em direito, Gabriela cuida das questões jurídicas do empreendimento, enquanto Marina Pacheco segue os passos da avó, Diva (ver vinculada).
“Ensinei aos meus filhos, desde pequenos, que o trabalho é o que molda a gente. Se damos o sangue, fazemos porque gostamos, o negócio vai pra frente. Nunca passei a mão na cabeça deles e, pelo contrário, sempre exigi mais, porque meu pai me ensinou que sempre há alguma coisa a mais para ser feita e que o que é de nossa responsabilidade não pode ser delegado”, enfatiza Robinson, sentado em frente a um quadro de Plínio, a cavalo, item principal de seu escritório, que parece observá-lo.