CINEMA

Documentário O Jardim das Aflições ganha primeira exibição no Recife

Filme de Josias Teófilo concorre na Mostra Competitiva de Longas-Metragens do Cine PE, nesta quarta-feira (28/6)

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 28/06/2017 às 5:39
Matheus Bazzo/Divulgação
Filme de Josias Teófilo concorre na Mostra Competitiva de Longas-Metragens do Cine PE, nesta quarta-feira (28/6) - FOTO: Matheus Bazzo/Divulgação
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“Estou tranquilo, mas muito decepcionado com o meio cultural local. Depois de fazer O Jardim das Aflições eu virei radioativo, ninguém quer chegar perto, não se fala publicamente de mim e só se fala as piores coisas em privado”. É assim que se sente o cineasta pernambucano Josias Teófilo, 29 anos, que voltou ao Recife na madrugada desta quarta-feira (28/6) para apresentar o famigerado documentário O Jardim das Aflições, na abertura da Mostra Competitiva de Longas-Metragens do 21º Cine PE, às 19h30, no Cinema São Luiz. “Em São Paulo, por exemplo, fui bastante apoiado, inclusive por gente de esquerda. Até na Revista Piauí! Quem diria? Existe uma diferença grande na noção de civilidade no Recife e no eixo Rio-São Paulo. Gilberto Freyre faz muita falta!”, lamenta o cineasta. A abertura do festival aconteceu na noite desta terça, com a participação de um bom público.

Na tarde desta terça-feira, os admiradores do filósofo Olavo de Carvalho, 70 anos, que desfila suas ideias em O Jardim das Aflições, não perderam tempo e foram até o São Luiz comprar o máximo de ingressos. Antes das 5h da tarde, cerca de 80% dos bilhetes já haviam sido vendidos. Os 20% restantes serão vendidos durante esta quarta-feira. Josias estava em Manaus, no Estado do Amazonas, acompanhando as sessões especiais do documentário, ocorridas no final da semana passada. Desde o dia 31 de maio que O Jardim das Aflições está em cartaz. Atualmente, ocupando cinemas de São Paulo, Rio, Porto Alegre, Fortaleza e São Luís. Finalmente, chega ao Recife na quinta-feira (29/6), quando será exibido diariamente em sessão única, às 21h20, no Kinoplex Shopping Recife, em Boa Viagem.

De lá para cá, segundo Josias, o filme já foi visto por mais de 10 mil pessoas. Para qualquer filme brasileiro atual, vender 10 mil ingressos tem sido uma vitória. Apesar de embalado por uma polêmica que nasceu desde a pré-produção, quando Josias entrou em rota de colisão ideológica com os amigos do Recife, o grande chamariz do filme é mesmo o filósofo Olavo de Carvalho. Desde a metade dos anos 1990 que ele vinha construindo uma carreira de polemista e mentor da nova direita – a mesma que tomou fôlego durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, no ano passado. Na apresentação do filme, Josias terá a companhia do produtor Matheus Bazzo, mas não a do filósofo, que mora em Richmond, na Virgínia, Sul dos Estados Unidos, desde 2002. “Ele não vem de jeito nenhum. Acho que só se restaurarem a monarquia”, brinca Josias.

CRUZADA POLÍTICA

Em cerca de 80 minutos, pelo menos 50 deles discursando para a câmera, Olavo de Carvalho discorre sobre os temas do livro que escreveu em 1995. Como uma bula de remédio já tem suas complexidades, imagine um filme sobre temas filosóficos sobre a morte, a imortalidade da alma, o poder do estado e o nascimento das ideias. Para esquentar o filme, Josias e Olavo cerram fileiras contra o Partidos dos Trabalhadores e o socialismo.

“Sim, ele trata de política, mas não é um filme político, e muito menos ideológico. Na verdade, a parte do Brasil ilustra um fenômeno maior do aumento do poder do estado na modernidade. Eu concebi o roteiro sem nada que falasse da situação política do Brasil. Mas todos os momentos políticos do país coincidiram com os momentos decisivos do filme: filmagem (o ápice das manifestações), montagem (que foi quando Dilma tentou colocar Lula de ministro, que foi o ato final do seu governo), e agora na distribuição com toda essa tensão para a condenação de Lula”, explica Josias.

Correndo com o filme por onde ele tem sido lançado, Josias volta para os Estados Unidos, onde é quase vizinho de Olavo de Carvalho, dentro de um mês, para fazer uma exibição de O Jardim das Aflições no Museum of Art and Design, em Manhattan, Nova York. “Em julho, vou começar a filmar o documentário Iconostasis, em Paris e Florença, onde vou me encontrar como o filho de Tarkovski”, adiantou.

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