Os fãs podem suspirar e respirar aliviados. Hoje é o dia da anunciação. Cordel do Fogo Encantado está, sim, finalmente e oficialmente de volta, após oito anos. Lirinha (voz e pandeiro), Clayton Barros (violão e voz), Emerson Calado (percussão e voz), Nego Henrique (percussão e voz) e Rafa Almeida (percussão e voz) rompem o silêncio autoimposto e se reassumem como um grupo. Não se trata de um retorno para celebrar o passado, mas a retomada do novelo de uma trajetória de sucesso, para seguir em frente, com um novo disco na agulha – Viagem ao Coração do Sol, o quarto de sua discografia, a ser lançado no dia 6 de abril – e uma turnê, com as datas ainda sendo fechadas.
Os encantados decidiram se reunir novamente há um ano, após o morte de um dos padrinhos da banda, o percussionista, Naná Vasconcelos, mas se preferiram um silêncio monástico, principalmente desde o último trimestre de 2017, quando intensificaram a pavimentar o caminho da volta.
A volta foi especulada diversas vezes ao longo dos anos, desde que Lirinha anunciou a saída do grupo, após 13 anos de atividades, iniciada em Arcoverde, em 1997, no Sertão pernambucano, com o espetáculo cênico-musical que batizou o grupo. Para os fãs, aquela foi a maior ressaca de Carnaval – a última apresentação ocorreu no dia 14 de fevereiro de 2010, após uma apoteótica apresentação no Marco Zero, que deveria ter virado um DVD.
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Em 10 de janeiro deste ano, os rumores de que a volta do Cordel estava próxima ficaram mais fortes quando o Festival SXSW (South by Southwest) anunciou a banda como uma das atrações dos showcases da edição 2018, que acontece nos dias 9 e 18 de março, em Austin, no Texas (EUA). Produtores que estavam trabalhando no projeto da reunião da banda apressaram-se em negar a participação dos encantados.
Lirinha deixara o grupo para alçar voo solo premido por uma necessidade pessoal de realizar novas experiências, que resultaram nos discos Lira (2011) e O Labirinto e o Desmantelo (2015), além do envolvimento com o teatro e a poesia, com destaque ao espetáculo solo Mercadorias e Futuro. Nesse tempo ele também compôs músicas para trilhas e fez cinema. Em sua carta de despedida, entretanto, havia um vaticínio: “a certeza de que o fogo da nossa poesia e da nossa música nunca se apagará e que nossa força é infinita”.
“Quando nos reencontramos, parecia que estávamos apenas continuando um assunto que tinha ficado no ar. Não teve nenhum estranhamento, somos como uma família, descobrimos muitas coisas juntos. Com certeza é uma retomada em um mundo bem diferente, nós também mudamos, mas a essência permaneceu”, afirma o vocalista e letrista Lirinha, em material que está sendo divulgado a partir de hoje à imprensa.
Um dos principais compositores do Cordel e que traz uma assinatura particular ao tocar o seu violão e cantar, Clayton Barros preparava um disco solo e vinha testando o seu gibão de couro eletrificado enquanto o futuro da banda era redesenhado. O hiato entre a decisão da reunião e finalmente poder dizer que o encantados voltaram foi um período difícil para ele.
“Foi um pouco estranho ter que omitir sobre a volta e, ao mesmo tempo, estar no estúdio gravando. Tudo isso trouxe uma questão emocional que tive que lidar. E agora estou na expectativa de como vai ser; afinal, o mundo mudou bastante desde que anunciamos o fim da banda”. Agora, Clayton vive a expectativa de voltar ao palco e reencontrar com os fidelíssimos fãs.
NOVO DISCO
Viagem ao Coração do Sol traz “canções que ficaram guardadas” e novas composições feitas depois da reunião. Com produção do instigado Fernando Catatau, foi gravado no Estúdio El Rocha, em São Paulo, e no Totem Estúdio, em Fortaleza.
“Fizemos uma opção estética de não sermos um grupo de releitura ou de glorificação do passado. As novas letras vão dialogar com os sentimentos humanos, com aquilo que nos cerca. Já musicalmente, o Cordel mantém a característica de sempre surpreender”, afirma Lirinha.
Cordel surgiu destilando a alta octanagem da poesia oral dos cantadores e a expressividade teatral, principalmente nas declamações e interpretações de Lirinha. Sua cozinha percussiva deixava exposta a tradição afro-indígena sertaneja. Se no primeiro disco eles cantavam o Fogo Encantado em forma de cordel, no segundo faziam uma metáfora da existência humana na figura de um palhaço de um circo sem futuro. Em Viagem ao Coração do Sol eles fazem uma remissão ao terceiro disco, Transfiguração, que indicava uma pausa, que ao final veio. “Agora é momento de sair para o sol, florescer, caminhar em direção à luz, sair de dentro da terra, rasgar o casulo”, diz Lirinha.
STREAMING
Enquanto Viagem ao Coração do Sol não é lançado, os fãs ou mesmo quem não conhece a banda podem ouvir as músicas dos primeiros discos, que o Cordel lança hoje nas plataformas de streaming, remasterizados, os discos Cordel do Fogo Encantado (2001), produzido por Naná Vasconcelos, O Palhaço do Circo Sem Futuro (2002), coproduzido pela banda e por Buguinha Dub e Ricardo Bolognine, e Transfiguração (2006) produzido por Carlos Eduardo Miranda e Gustavo Lenza.