Prevenção

Maioria dos museus do Recife e Olinda não tem sistema anti-incêndio

Espaços cumprem normas de segurança, mas apresentam fragilidades

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 06/09/2018 às 20:43
Bobby Fabisak/ JC Imagem
Espaços cumprem normas de segurança, mas apresentam fragilidades - FOTO: Bobby Fabisak/ JC Imagem
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O incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio, no domingo, expôs a negligência do poder público com o patrimônio artístico e científico do País. Se a falta de incentivos comprometeu um dos maiores centros de memória e conhecimento do mundo, com uma coleção de mais de 20 milhões de itens, agora em sua maioria reduzidos a pó, é de se imaginar que a situação de instituições de menor porte seja ainda mais frágil. O JC percorreu alguns dos principais museus e instituições culturais do Estado para conferir as condições de segurança e de preservação dos acervos.

A Prefeitura do Recife mantém em funcionamento sete museus: o Museu da Cidade do Recife, no Forte das Cinco Pontas, o Paço do Frevo, ambos visitados pela reportagem; o Museu Aloísio Magalhães de Arte Moderna (Mamam); os memoriais Chico Science e Luiz Gonzaga e o Museu de Arte Popular (este com atividades de catalogação e preservação de acervo). Segundo a Secretaria de Cultura, são destinados anualmente cerca de 3,8 milhões para preservação de museus e teatros (não foram detalhados valores para cada espaço). Em 2015, foi criada a Gerência Geral de Arquitetura e Engenharia para mapear e coordenar os serviços de manutenção preventiva e corretiva nos equipamentos.

Questionada sobre as instalações elétricas do Mamam (criticada por artistas e visitantes), cujo acervo reúne 900 obras de artistas como Vicente do Rego Monteiro, a Prefeitura afirma que na segunda quinzena de julho foram realizados serviços de manutenção, instalação e reparos na rede elétrica. A PCR pontuou que, para prevenção de sinistros, todos os museus têm extintores de incêndio, com distribuição e manutenção definidas pelo Corpo de Bombeiros, segundo suas características.

NECESSIDADES ESPECIAIS

Alguns dos espaços têm necessidades especiais. No Museu da Cidade do Recife, a diretora Betânia Corrêa de Araújo explica que o prédio histórico sofre com a umidade. Já estão sendo elaborados projetos para o BNDES e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) para solicitar verbas para digitalizar o acervo e para a aquisição de estantes flexíveis para armazenar as peças.

“Hoje, se valoriza muito os museus-espetáculo, como o Museu do Amanhã, que são ótimos, mas não têm acervo. Em caso de desastre, com dinheiro se reconstrói o prédio. Não é como o caso do Museu Nacional, que tinha coleções diversas, algumas que nem chegaram a ser estudadas. É preciso atenção especial à nossa história”, afirma a gestora.

Inaugurado em 2014, o Paço do Frevo é um dos únicos a possuir sistema anti-incêndio e também seguro predial e patrimonial, seguindo orientações do Estatuto dos Museus. O espaço tem um bombeiro civil permanentemente, conta com rota de fuga, portas corta-fogo e, constantemente adequa-se a orientações dos Bombeiros, segundo o gerente Eduardo Sarmento.

O Mercado Eufrásio Barbosa, administrado pela Prefeitura de Olinda e reinaugurado em julho deste ano, abriga o Museu do Mamulengo – Espaço Tiridá. Em termos de segurança, suas novas instalações tem 45 extintores de incêndio em suas cinco galerias, sprinklers e detectores de fumaça. Segundo Joana Chaves, coordenadora do espaço, há uma equipe treinada para lidar com possíveis acidentes.

No âmbito do Governo do Estado, há quatro museus abertos administrados pelo poder público por meio da Fundarpe. São eles: Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), o Museu do Barro de Caruaru (Mubac) e o Museu Regional de Olinda (Mureo). Há ainda dois fechados ao público, a espera de obras de restauro, o Museu de Arte Contemporânea de Olinda (MAC) e o Museu da Imagem e do Som (Mispe). “Todos os equipamentos têm programação regular aberta ao público, gratuita, e recebem manutenções preventivas e prediais regulares, que garantem o funcionamento dos sistemas de ar-condicionado, elevadores, cobertas, sistemas hidráulicos, elétricos, incluindo o carregamento dos extintores de incêndio”, informou a Fundarpe, por nota oficial.

O Museu do Trem, também sob administração da Fundarpe, conta com extintores, em suas dependências e conta com esquema de acessibilidade.

CUIDADOS

O Cais do Sertão, sob a alçada da Secretaria de Turismo de Pernambuco, tem sua área de 7,5 mil metros quadrados coberta por 397 sprinklers e detectores de fumaça e chamas. Os detectores se comunicam com sistema de alarme para sinalizar intercorrências. Há ainda 23 hidrantes, 39 extintores de incêndio, 44 portas corta-fogo, além da presença de um bombeiro civil. Também há tanques reservas de água exclusivos para utilização em caso de incêndio. A Empetur acrescenta que foi destinada uma verba de R$ 180 mil para manutenção total do Cais do Sertão, até o fim do ano de 2018.

No âmbito federal, o Museu do Homem do Nordeste, vinculado à Fundaj, até 2016, não havia um projeto de combate a incêndio, segundo o coordenador-geral do museu, Fred Almeida. Ano passado, porém, um plano teria sido enviado ao Corpo de Bombeiros e, diante da tragédia do Museu Nacional, espera-se que ele seja aprovado na próxima semana, segundo o gestor.

O Centro Cultural Benfica da UFPE e que conta com um acervo valioso da Escola de Belas Artes, entre outras peças, sofre com um problema que acomete os museus e centros culturais ligados às universidades: falta de reconhecimento e, consequentemente, recursos. Segundo Luis Reis, diretor de cultura da UFPE, esses espaços encontram-se em uma espécie de limbo e não há verba garantida para eles (entram no orçamento geral das instituições de ensino).

“Imagine se os hospitais universitários não recebessem recursos próprios? Seriam ainda mais problemáticos. Então, os museus, teatros e cinemas também deveriam fazer parte de uma rede de cultura cuja gestão fosse uma política cultural de estado. Mas nosso país está engatinhando nesse sentido”, afirma. O espaço conta com extintores e, segundo consulta à técnicos da Fundaj, conta com armazenamento adequado das obras. Luis enfatiza, porém, que pelo valor histórico do casarão e das obras nele guardada, deveria haver estrutura mais adequada.

De acordo com o Ibram, o Museu da Abolição recebeu, em 2013, R$ 3,6 milhões através do PAC Cidades Históricas. Serão investidos $3 milhões em reforma e restauro integral do museu que está em preparo, e que contemplará todos os seus sistemas (segurança, climatização, etc.), acessibilidade. O espaço possui extintores de incêndio.

Segundo a nota, a direção do museu relata que não há hidrantes em seu entorno e que há um problema de acesso à instituição em caso de emergência, em virtude de obra do Governo do Estado que interditou em definitivo a entrada do estacionamento do museu e, após 5 anos, ainda não reestabeleceu o acesso, apesar de existir projeto aprovado pelo Iphan.

Tanto no plano municipal, estadual e federal que, via de regra, os espaços não têm sistemas anti-incêndios mais completos e complexos, com detectores de fumaça, recorrendo principalmente aos extintores de incêndio, têm fragilidades e inspiram cuidados para preservação dos acervos. Todos afirmam seguir as determinações do Corpo de Bombeiros. Até o fechamento desta edição, às 23h30, a corporação não enviou resposta confirmando se todas as instituições estavam com os alvarás regularizados ou se cumpriam com todas as exigências de segurança.

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