Depoimentos

Personalidades do teatro pernambucano prestam homenagem a Pimentel

Admiradores e pessoas que trabalharam com José Pimentel publicaram fotos e textos em memória ao ilustre artista nas redes sociais

Editoria de Cultura
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Publicado em 14/08/2018 às 10:42
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Admiradores e pessoas que trabalharam com José Pimentel publicaram fotos e textos em memória ao ilustre artista nas redes sociais - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Em memória à vida e obra de José Pimentel, ícone da Paixão de Cristo pernambucana falecido às 9h01 desta terça-feira (14) por doença neoplásica na via biliar, diversos atores, pesquisadores e diretores de teatro prestaram homenagem ao eterno Jesus nas redes sociais. O destaque vai para os depoimentos de Angélica Zenith, intérprete de Maria que por seis anos contracenou ao lado de Pimentel, e Leidson Ferraz, que foi assessor da Paixão de Cristo do Recife e fez o papel do demônio de Judas até 2011.

Em post publicado no Facebook, Angélica recordou quando e em que circunstância conheceu José Pimentel: aos 14 anos, em um curso de teatro profissional. "Eu e mais 60 alunos dividíamos um espaço no Sítio da Trindade, na Zona Norte do Recife. Seria só um curso de seis meses, mas durou para sempre. Esse, foi só o primeiro de outras centenas que tive a oportunidade de fazer com ele. Sabia na ponta da língua todas as suas aulas, sátiras, exercícios e jogos teatrais. E por isso, cheguei até a ser sua monitora em algumas das oficinas. 'Angélica, vamos mostrar aqui como os alunos devem fazer esse exercício'. 'Angélica, interpreta Medéia aqui'. 'Faz Joana, de Chico Buarque'", contou.

A partir do primeiro contato, a então atriz comentou que esteve em todos os espetáculos ao lado do consagrado ator e diretor, como Auto de Natal, Batalha dos Guararapes, Hoje Tem Espetáculo, A Última Ceia, A Moça do Sobrado Grande, O Boi Voador, entre outros. "Saí da turma de 60 alunos, pra me tornar a Maria da Paixão do Recife, realizando o sonho de contracenar com meu ídolo. Sonho que ele realizou diante de um mar de gente, no Marco Zero do Recife. Por seis anos, estive ao seu lado no palco, e me tremia todas as vezes que ele entrava em cena, com seu jeito peculiar. E quando foi questionado 'porque uma atriz tão jovem interpretava a Maria', ele respondeu sem titubear: 'a Maria para mim é exatamente assim, como Angélica. É assim que vejo Nossa Senhora', virou as costas e saiu", relatou.

Por fim, Angélica fez um agradecimento a "Zé", como ela o chamava, por ter lhe ensinado não só a ser Maria, como a melhor versão que pôde fazer nascer dela. "E graças a ela, apesar do coração em pedaços, estou forte, serena e em paz, certa do seu reencontro com o nosso Pai. Estaremos juntos até a consumação dos séculos. Te amo, meu filho", finalizou.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Leidson Ferraz relembrou o primeiro contato que teve com Pimentel e como construíram uma grande amizade. "Eu sou de Petrolina. A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém foi o primeiro espetáculo a que assisti. Eu tinha oito anos e vi aquela coisa grandiosa. Ele já era o diretor e ator. Foi quando decidi que queria fazer teatro na minha vida. Quando eu tinha nove anos dirigi, em Petrolina, uma Paixão com 50 meninos da minha idade, inspirado na obra de Pimentel. Para mim, ele era um ídolo. Só quando fui convidado para fazer a assessoria do Janeiro de Grandes Espetáculos, em 2000, que passei a conviver quase que diariamente com ele. A partir daí, passamos a ser amigos e, em 2001, ele me convidou para fazer a assessoria da Paixão de Cristo do Recife, quando ainda era no estádio do Arruda".

Ainda conforme Leidson, "se Pimentel partiu, era porque ele tinha realmente que partir". "Se fosse para ele ficar debilitado, num hospital, dependendo de pessoas, seria a pior coisa para ele. Quando ele teve que fazer aquela cirurgia às pressas no ano passado eu fui para o hospital, conversei com ele. Eu sabia que ele estava se recuperando, mas a gente não estava se falando nos últimos tempos. Quando foi no dia 11 agora, no aniversário de 84 anos dele, eu pensei em fazer uma homenagem. Nisso, Ivo Barreto (o Judas da Paixão), me falou que ele tinha acabado de voltar de Serra Talhada e que a filha dele achava que ele não estava bem, estava amarelo. Já o levou para o hospital e ele ficou internado. Estive lá no sábado, mas não tenho estrutura para essas situações", desabafou, afirmando que Pimentel foi uma das pessoas mais fiéis que conheceu.

"Era sempre muito prazeroso conversar com ele, era uma figura muito excêntrica. Ele não tinha nada a ver com a figura do Cristo e fazia questão de dizer isso. Quando acabavam os espetáculos e as pessoas iam falar com ele, ele fazia questão de dizer isso. Os ensaios eram sempre muito engraçados. Todo espetáculo dele conseguia reunir muita gente. Ele tinha o que chamo de mau humor bem humorado", concluiu Leidson.

Já Robinson Pacheco, presidente da Sociedade Teatral de Fazenda Nova e coordenador da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém afirmou: “José Pimentel teve uma participação marcante na história do espetáculo de Fazenda Nova graças a sua determinação e grande capacidade de trabalho. Com a sua morte, perdemos um dos grandes entusiastas do teatro pernambucano que, de forma incansável, deixa, como produtor, diretor e ator, um legado notável de grandes espetáculos como Frei Caneca, a Batalha dos Guararapes e a Paixão do Recife”.

CONFIRA ALGUMAS HOMENAGENS:

REPERCUSSÃO

Em post publicado em seu perfil oficial no Facebook, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, prestou condolências aos familiares e amigos de José Pimentel, a quem se referiu como "um homem cuja história de vida se confunde com a história da dramaturgia pernambucana". Maria do Céu, candidata a deputada estadual e ativista LGBT, também fez uma publicação em sua conta na rede social, afirmando que Pimentel "sai de cena para ficar em nossa memória". 

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, lamentou a morte do artista por meio de nota, a qual diz: "Pernambuco perde um dos seus maiores artistas com a morte de José Pimentel, um verdadeiro ícone do nosso Estado, dono de uma enorme capacidade de trabalho, de entusiasmo e de paixão por tudo a que se dedicava. Pimentel merece todas as nossas homenagens. Tenho a honra de, como governador, reconhecer sua imensa contribuição à nossa cultura, ao conceder a Pimentel o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Minha solidariedade e meus sentimentos aos seus familiares, amigos e admiradores".

Também em nota, a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe) lamentou a morte de José Pimentel, que além de ator e diretor era professor aposentado da UFPE. Veja abaixo:

"A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (ADUFEPE) lamenta a morte do professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco, ator e diretor José de Souza Pimentel, eternizado por sua interpretação de Jesus nos espetáculos da Paixão de Cristo.

Na UFPE, o professor era vinculado ao Departamento de Comunicação Social e lecionava no curso de jornalismo. Filiado à ADUFEPE desde 30 de abril de 1980, o professor dedicou 27 anos de sua vida à academia e ensinava disciplinas como diagramação e projeto gráfico. No início da década de 1990, foi diretor do Núcleo de Rádio e TV Universitário. Aposentou-se em 2004, ao completar 70 anos. Em 2017, Pimentel foi eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural.

Saudações sindicais.
José Pimentel presente."

A MORTE

José Pimentel faleceu às 9h01 desta terça-feira, dia 14 de agosto, por doença neoplásica, uma forma rara, mas agressiva de câncer, que se desenvolve nos tubos delgados que transportam o fluido digestivo bílis pelo fígado. O ator e diretor estava internado desde o dia 30 de julho e passou aos cuidados da UTI do Hospital Esperança na última quarta-feira, 8 de agosto. Sepultamento deve acontecer nesta quarta, 15, no Cemitério de Santo Amaro. Ainda sem horário definido, velório será na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no Bairro da Boa Vista.

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