À medida que a expectativa da população piora em relação ao cenário político-econômico, mais garrafas de cachaça são vendidas no Brasil. Essa é a conclusão de um estudo feito pela PeopleScope – maior base de dados comportamentais dos brasileiros, divulgada pelo Ibope DTM, unidade de Marketing e Relacionamento do Ibope Inteligência. O indicador foi divulgado nessa quarta-feira (10) e mostra que quanto mais baixo o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), mais crescem as vendas da tradicional bebida brasileira no varejo.
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Batizado de ‘Índice da Cachaça’, a pesquisa mostra que, quanto mais pessimista é um grupo social, maior é sua afinidade para sair para beber e frequentar bares ou restaurantes. O que aconteceu nos últimos anos, no entanto, é que esses grupos deixaram de ir às ruas para beber em casa, o que aumentou as vendas da bebida alcoólica nos mercados.
Segundo a análise, quando o Inec, que é medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ficou 12,2% abaixo da média histórica, a venda das garrafas de cachaça em pelo menos três redes varejistas disparou e alcançou o maior número registrado desde janeiro de 2013.
“É um fenômeno parecido com o ‘Índice do Batom’, que aconteceu durante a recessão nos Estados Unidos, no início dos anos 2000. “Lá, as vendas do batom dispararam, pois em tempos de incerteza financeira, as consumidoras passaram a comprar produtos mais baratos, como os itens cosméticos, para que se sentissem mais atraentes. Aqui, percebemos que, mesmo valorizando a ida a bares e restaurantes, as pessoas passaram a beber mais em casa”, explica Bernardo Canedo, diretor do Ibope DTM.
Mas por que a cachaça? Porque, de fato, é a bebida que menos pesa no bolso do consumidor. Entre janeiro e março deste ano, por exemplo, o volume de cerveja comercializada pela Ambev no Brasil teve retração de 10%.
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Os números também são reforçados pelo Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal, que apontou uma queda de 1,2% na produção de cerveja em junho deste ano em comparação com o mesmo mês de 2015. No total, foram produzidos 964,2 milhões de litros da bebida. Na comparação com maio deste ano, a queda foi ainda maior, de 4,2%.
Os fabricantes de cachaça, no entanto, não sentiram tanto o peso da crise. “Claro que nosso lucro não é como esperado e estamos mantendo as contas. Ninguém vai deixar de beber, mas as pessoas bebem aquilo que podem pagar. Como produzimos produtos de uma linha mais barata, não tivemos queda nas vendas”, conta Alexandre Ferrer, diretor comercial da Pitú.
A análise do Ibope DTM mostra ainda que, assim como frutas, legumes e verduras, as bebidas alcoólicas ainda tem lugar cativo na feira do mês e custaram mais ao consumidor em 2015 do que em 2014. Segundo Roque Pellizzaro, presidente do SPC Brasil, o aperto financeiro nos últimos anos obrigou o brasileiro a ajustar seus gastos, mas alguns itens ainda observam aumento, ajustado pela inflação no período.
Mercado
Segundo a Associação Brasileira de Bebidas (Abrab), a cachaça é o segundo tipo de bebida alcoólica mais consumida no País, perdendo apenas para a cerveja. Entre o segmento de destilados, ela é a campeã, concentrando 50% do consumo. No último levantamento realizado pela instituição, em 2013, foram produzidos 511,54 milhões de litros de cachaça. Naquele ano, no entanto, o ‘Índice da Cachaça’ variou pelo menos 20% abaixo do que vem sendo registrado em 2016.